quarta-feira, 25 de abril de 2012

25 de Abril, sempre...

Os valores de Abril, como a democracia, a liberdade e a igualdade nascidos da Revolução dos Cravos devem ser comemorados e lembrados, mesmo para quem, como eu, nasceu em liberdade. Estes são os valores que devem nortear toda a acção política e todo o modelo de cidadania. Não percebo tanta celeuma em redor das comemorações do 25 de Abril. Ano após ano, parece haver na sociedade um certo mau estar perante o 25 de Abril. Essa faixa de fascistas saudosistas para quem o 25 de Abril é da esquerda e não de todos, espera ansiosa o regresso de um D. Sebastião de capacho na testa e arma na mão. Agradeço a quem fez a Revolução, por mim e pelos meus filhos.
Não consigo aceitar nem concordar com a ausência dos capitães de Abril, de Soares e de Alegre das comemorações, mas consigo percebê-la. O contrato social rasgado por este governo põe em causa os valores de Abril, e essa faixa fascista de ignóbeis de manjedoura, ancorados numa ideologia cega, rejubilam com esgares libidos ao assistirem à destruição do estado social, sonham com a fatia que lhes caberá num negócio qualquer de desmantelamento ou esbulho de uma qualquer empresa do Estado. Principalmente, se forem as mais estratégicas e lucrativas.
O 25 de Abril é de todos, porque todos temos a liberdade de escolha e de expressão que outros não tiveram e por isso foram torturados, presos e exilados. O 1º de Dezembro é comemorado há séculos, para nos lembrar a nossa identidade e independência. Dizer que escolhemos o nosso governo, que faz o que lhe incumbe, bem ou mal, é pouco. Todos temos o direito e o dever de, em liberdade e com respeito pelas opiniões contrárias, lutar com as nossas armas, exercendo a nossa cidadania, em nome dos nossos ideais. Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.
Recordo só aos mais incautos, que foi também a partir de Abril de 1974 que se começou a ouvir falar em 'iniciativa privada' e 'capitalismo'. Afastando uma tese maniqueísta, o capitalismo é hoje o sistema que vigora, e os valores da liberdade e da igualdade não chocam com o sistema, desde que haja Estado regulador, garante e protector.
Quem não concordar com os valores que estiveram na base da revolução de Abril, quer o Povo amordaçado e aí me inclui. E Abril Hoje? Os valores de Abril, hoje, estão subvertidos. O lucro, a inveja, o favor, o juro e a especulação, são hoje os valores que nos são impostos, castigando com austeridade quem vai pagar o que outros destruíram e continuam a destruir, hipocritamente, sem qualquer laivo de vergonha, e que continuam a ser os mesmos que arquitectam o leilão do Estado, em teias de máfias financeiras cozinhadas num país qualquer entre a França e a Alemanha. O verdadeiro eixo do mal está nesses rostos escondidos que lucram entre sorrisos de charutos feitos em Cuba, cavalgando sobre os povos austerizados de corda na garganta.
É castrador assistir de mãos atadas ao aplicar dessa receita em Portugal, na glória impotente do 'ir além da Troika', sem a discutir e sem qualquer rasgo de cedência, mesmo perante o desmoronar da economia, do SNS, e o flagelo do desemprego.
Os valores de Abril, não são hoje os mesmos de há 38 anos...

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