quinta-feira, 12 de abril de 2012

A receita iraniana

A história encarrega-se sempre de fazer a justiça e dizer a verdade que em determinado momento não foi possível fazer e dizer. Assim, neste contexto, vários exemplos concorrem para demonstrar a teoria. Cingindo-me à questão ora em apreço, todos sabemos que no Iraque não havia armas de destruição massiva. Temos também o exemplo dos apoios políticos e financeiros dados a Saddam Hussein pelos Estados atlânticos e pelos Emirados do Golfo Pérsico para invadir o Irão e acabar com a revolução iraniana de 1979, numa guerra fútil que custou milhões de vidas e deixou o Iraque com a factura na mão. Levaria à invasão do Kuwait, à primeira guerra do Golfo, à 'invasão' de tropas americanas na Arábia Saudita, que por sua vez irritou os árabes, incluindo Bin Laden. A história tem momentos, mas todos são causa e efeito uns dos outros. O cerne da questão nestes casos é e sempre será o petróleo!... Ao isolar o Irão, e com a destruição do Iraque e o apoio à Primavera na Líbia, os seus oleodutos viraram-se para a Europa e para os EUA, podendo estes, deste modo, fazer face ao fecho da torneira no Irão.
O Irão não é uma democracia. Mas também o não é a Coreia do Norte ou o Paquistão. Todos têm um programa nuclear. A diferença? Petróleo...
Se o Irão bloquear o Estreito de Ormuz, as potências atlânticas (com os EUA e a Inglaterra sempre à cabeça, as mais das vezes encapotando-se no apoio da NATO ou da ONU, que diga-se a verdade, actuam assim por pressão e em último caso porque todos os países membros querem o seu quinhão) Israel e os emires do Golfo tratarão a atitude como uma declaração de guerra. A pressão sobre o Irão, feita pela secreta de Israel e a encapotada dos EUA, levará a uma guerra hipócrita, vil e calculada. Ninguém denuncia as mais de 200 ogivas nucleares que Israel possui e que ao contrário dos iranianos e de forma leviana e ilegal não assina o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Os EUA usam como ninguém a receita religiosa em seu favor. Empurrando Israel, branqueando o seu comportamento, porque por eles fomentado, os EUA tentam assim um benefício político em nome da democracia e contra a 'beligerância inata' dos povos islâmicos. A Primavera Árabe é um mito que será transformado a breve trecho em teocracias tementes a Deus e aos EUA. Dividir para reinar parece ser o objectivo estratégico.
E o Irão tem a bomba? Ou também esta não será encontrada? Apesar do regime ditatorial iraniano, e depois de terem sido alvo de uma sabotagem cibernética, incluindo o assassinato de seis cientistas nucleares, é de elogiar a postura até agora mais serena do Irão. Mais uma vez me socorro da história, que lembra que a ONU tudo fez para não condenar Bagdade que tinha invadido o Irão, que por sua vez sofreu um duro embargo, por, ironicamente, ter sido invadido. E o que aconteceu a seguir? Quando Saddam deu por terminado o seu desígnio e quis que lhe pagassem a factura pelo trabalho sujo, e quando lhe viraram as costas, o que fizeram os seus protectores? Destruíram-no. A teoria do país ditador, do eixo do mal, da bomba atómica e dos terroristas já não cola. Ou o Irão é mais ditador que a Síria, a Arábia Saudita ou o Paquistão, detentor da bomba, com relações perigosas a terroristas? As economias emergentes já não vão suportar mais, dois pesos e duas medidas, com estratégias de poder e jogos de guerra ancorados em falsos pretextos.
E o que se passa na Síria não é inocente. A Síria é um ponto estratégico para lá chegar mais facilmente. Derrubar Assad e pôr lá um conselho de transição fantoche, após a intervenção armada por parte da ONU ou da NATO é o passo que falta. Não que Assad não mereça, também não me esqueço e a história não esquecerá que massacrou o seu povo. Mas por trás desta rebelião não está apenas a Primavera Árabe e o efeito dominó. Alguém armou os rebeldes. Os mesmos que armaram os afegãos na guerra contra a ex-União Soviética e que armaram os iraquianos contra os iranianos. Espero que Portugal não faça parte do logro como o fez na triste cimeira da base das Lajes.
Para terminar, e para já, o preço do petróleo ainda não se baseia nisto, para já só se baseia na especulação, mas quando a altura chegar, a Europa e o mundo pagarão a factura, e não será apenas a dois euros por litro de gasolina, será nos transportes, na comida, etc. Os EUA serão a única potência mundial, é essa a estratégia, porque o barril negoceia em dólares e porque as guerras darão os seus frutos. A dúvida está naquilo a que estamos dispostos a fazer para os contrariar. Mas se tudo correr como até agora, os EUA vão ter muitos 'aliados' e Obama ficará na história como o maior 'flop' de propaganda que nos venderam...

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