A crise social e económica decorrente da pandemia que enfrentamos como comunidade (uns mais que outros), coloca-nos perante desafios e incógnitas tremendas.
Se numa primeira fase as dúvidas se
colocavam fundamentalmente em relação aos imprevisíveis efeitos da crise e ao
período em que teríamos de conviver com a crise pandémica, hoje as dúvidas que
se colocam centram-se particularmente na duração do período de recuperação
económica que enfrentaremos, bem como na definição dos adequados mecanismos
para a alcançar.
A natureza mundial desta crise conduziu
à aprovação por parte da União Europeia de um orçamento e de instrumentos sem
precedentes para a enfrentar, numa comunhão oposta à crise existencial que parecia ameaçar o projeto europeu.
Ao contrário do que sucedeu em crises
anteriores, as instituições europeias agiram rapidamente, libertando, num
primeiro momento, os constrangimentos relativos aos limites orçamentais dos
Estados, e, por outro, através do Banco Central Europeu, garantiu o
financiamento monetário necessário às economias do espaço europeu. Num segundo
momento, o Eurogrupo alcançou um acordo que permitirá a Portugal, entre o Fundo
de Recuperação criado para o efeito e o Quadro Financeiro Plurianual, receber
cerca de 45 mil milhões de euros a fundo perdido a executar até 2026, podendo
ainda recorrer a empréstimos no valor de 10,8 mil milhões de euros do Fundo de
Recuperação e Resiliência.
A questão que se colocará a Portugal
não é, uma vez mais, a falta de instrumentos financeiros para combater o
momento que enfrentamos, mas antes a nossa capacidade como comunidade de
construirmos uma visão, um plano estratégico e um eficiente plano de execução
desses instrumentos, tais como a requalificação da mão de obra, a capitalização
das empresas portuguesas, garantir rendimentos às famílias, aumentar a
produtividade, construir um sistema fiscal competitivo no quadro internacional
para as empresas e cidadãos e combater o excesso de dependência da nossa
economia de dois ou três setores.
O governo tem apostado de forma
decisiva em alguns desses setores, inquestionavelmente, muito haverá ainda a
fazer.
O combate às desigualdades económicas
e sociais crescentes em Portugal também se faz apostando em setores
estratégicos do país e que tão bons resultados vinham dando em Portugal. O
turismo é um desses setores, e a aposta na TAP é fundamental, como foi quando
se reverteu a sua privatização (feita à socapa e em período de transição de
governo) em 2015. Ou não fosse a TAP a empresa que mais exporta em Portugal. Dá
prejuízo dirão… contabilizem os milhões de passageiros e turistas que traz ou
trazia para Portugal, façam uma média de quanto cada um gasta, e depois façam
as contas… tenho para mim que uma empresa e um setor estratégico nacional não
tem necessariamente que dar lucro.
Também já se percebeu que muita gente
(muito longe de ser maioria) não gosta do PS, e principalmente de António Costa,
pela ousadia de alargar o arco da governação à sua esquerda, e quiçá ser responsável
pelo emergir da extrema direita populista, com o consequente eclipsar do CDS, que
por sua vez ganhou uma recente tábua de salvação, numa estranha coligação com o
PSD. Com que custos para ambos? Veremos. Nesta conjuntura não se gosta da
ministra da Saúde nem da diretora da DGS, não gostam de Cabrita nem de Pedro
Nuno Santos. Não se gosta do governo, nem da DGS, nem de nada, ponto. Para eles,
façam o que fizerem, ou fazem mal, ou fazem tarde, ou não vão fazer bem… Algumas
dessas pessoas vivem numa imensa orfandade política (a ausência do desejado Passos
Coelho), ou porque estão insatisfeitas com as lideranças fracas existentes que
não chegam a ser alternativa, ou porque Marcelo não lhes trouxe a oposição que nunca
poderia ser. Em face da crise gravíssima como a que hoje atravessamos, essas
pessoas acabam por ter alguma confiança na experiência e na capacidade de
António Costa, mesmo com avanços e recuos, porque ninguém acredita que um governo
Rio-Chicão estaria melhor dotado para enfrentar os desafios da pandemia em
Portugal.
Também já percebemos, e já aqui o
escrevi, que o Plano de Recuperação e Resiliência não chegará ao interior do
país como devia, pelo menos para já. Cabe às autarquias descalçar a bota.