segunda-feira, 11 de março de 2013

Prefácios do Presidente

Já se sabe que o cargo de Presidente da República é meramente representativo. É vazio de poder. Tem no poder da palavra o seu mais forte carácter intervencionista. Todos nos lembramos da intervenção de Cavaco Silva há um ano num dos seus famosos prefácios dos 'Roteiros' em que pura e simplesmente desancou Sócrates de fio a pavio. E o seu discurso de há dois anos na AR em que disse ser necessário um sobressalto cívico porque o povo já não aguentava tanta austeridade. Pelos vistos agora aguenta. Ai aguenta, aguenta.
Cavaco é um taticista. Protege-se como ninguém, não se compromete com nada, limita-se a estar em vez de ser, e na altura em que mais se sente falta de alguém que tenha o poder da palavra e que a use em favor do povo que nele votou directamente, o nosso PR, remete-se ao silêncio. Escreve umas coisas no facebook, e uns prefácios de vez em quando. Assegura, com lamento, que trabalha 10 horas por dia, que a sua reforma não lhe chega para as despesas, e o povo, coitado, tem pena dele. Aceitou ser Presidente com todo o sofrimento que isso lhe causa. É um homem amargurado e sacrificado. O queixume presidencial é o medo e a impotência de quem não quer fazer e cuja única preocupação é a salvação do governo.
Cavaco não é político, nem economista, afinal é um pobre reformado, explorado pelo Estado.
Quando chove, Cavaco passa entre os pingos da chuva. E nem uma palavra para os reformados e pensionistas. Afinal as desproporcionalidades inconstitucionais foram levantadas por ele. Nem uma palavra para os desempregados. Nada. A nulidade. O niilismo do cargo. Apenas o ego e o orgulho de um Presidente que não preside a coisa nenhuma e que tenta sempre, isso sempre, assegurar a coesão e a estabilidade da coligação de governo. Como ele, salvador da pátria, fez questão de explicar. Nos bastidores, Cavaco gere um país de silêncios. Os silêncios de quem não tem voz e a quem Cavaco devia emprestar a sua. Mas recusa por uma questão de gestão da sua figura pública, que se esconde nos bastidores. Cavaco não serve o interesse dos portugueses... serve os seus.

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