quarta-feira, 13 de março de 2013

O primeiro Conclave do resto da sua vida

Ontem começou o conclave e houve fumo negro no Vaticano. Mas o fumo que vem do arder da fogueira católica já é negro há muito tempo no Vaticano. Escândalos financeiros, abusos sexuais, pedofilia, corrupção e jogos de poder dentro da Cúria Romana e da estrutura do clero têm marcado os últimos anos da igreja católica. A abdicação de Bento XVI, 600 anos após a última, e a sua invocada falta de forças, significaram um gesto de enorme alerta para os católicos. Um relatório encomendado pelo Papa emérito terá estado na origem de tal acto. Os lóbis de influências, as ocultações criminais dos pecados sexuais de homens da igreja, os jogos de poder, o Vatileaks e o escândalo financeiro do Banco do Vaticano foram fortes demais para que Bento XVI os pudesse enfrentar. A Cúria está doente e a igreja atrasada e estagnada, sem conseguir responder aos desafios da sociedade de informação do século XXI.
1200 milhões de católicos espalhados por todo o mundo esperam agora por um Papa revolucionário, com a honestidade intelectual suficiente para conseguir dar resposta a um número incomensurável de devotos que anseiam por uma igreja moderna e virada para o futuro.
As patranhas que nos apresentaram como Verdades Universais, ano após ano, já não encontram eco na sociedade liberal, informada e globalizada de hoje. O espaço eucaristial e religioso tem que apresentar soluções mais terrenas e factuais, para não dizer históricas, para que a fé seja processada numa perspectiva mais mundana, em que toda a gente que queira, consiga perceber que a igreja católica não é apenas um auto ou acto de fé. É feita de homens para os homens e desde que estes assim queiram. O Espírito Santo e o livre arbítrio já foram chão que deu uvas. Já não explicam tudo e já não explicam nada. A religião acomodou-se e as pessoas ficaram mais exigentes.
Respeito quem assuma a sua fé. Não respeito que as mesmas pessoas não façam da escandalosa vida da Cúria uma luta de exigência como o fazem com os políticos e com os partidos. Aliás é disso que se trata, a vida clerical dos cardeais iluminados é hoje um jogo de bastidores político e de partido, ainda que seja o lóbi gay. Está lá tudo, o tráfico de influências, os jogos de poder, a banca do Vaticano! e o tráfico de armas, o Estado do Vaticano e os abafados abusos sexuais. A honestidade moral e ética da vida civil e em sociedade é, ou deveria ser, a mesma da Cúria. A diferença está na forma como alguns olham de baixo para cima.
A igreja católica ou se moderniza, ou aparecerá nos livros de história como um dos maiores logros da humanidade.
Sou católico por baptismo e ateu confesso, mas olho com preocupação para uma igreja que ainda influencia o pensamento e a acção de milhões de pessoas. É como tudo, desde o berço, o exemplo vem de cima.
A Capela Sistina merece muito melhor...

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