domingo, 17 de março de 2013

Portugal foi à bruxa e saiu-lhes o Gaspar!

Vítor Gaspar fez mais uma consulta ao país. A consulta de cartomância e bruxaria do costume. Previu o futuro, outra vez, e mais uma vez sabemos que vamos ser enganados. A bola de cristal de Gaspar definitivamente não funciona. É um embuste. Como qualquer bruxo que se preze do nome, faz previsões e não acerta uma, a não ser por mera coincidência. E Portugal não pode ser governado com base em hipóteses enigmáticas e aposta na coincidência. Até porque já toda a gente percebeu, excepto o nosso ministro das Finanças que não são coincidências. Aumento dos impostos, cortes nas pensões e reformas, quebra no consumo, redução de investimento, aumento do desemprego, menos receita fiscal, recessão, desemprego, a espiral recessiva que já se conhece e para a qual há vários meses vem sendo alertado. No tom hipnotizante habitual acabou a conferência de imprensa a responder aos jornalistas com um enigmático, preocupante e indiferente: "Não sei...".
A sétima avaliação da troika pôs a nu toda a incompetência de Gaspar e do governo. Estes por sua vez puseram a descoberto toda a ignorância que a troika demonstra sobre a economia de Portugal.
O corte de €4000 milhões na despesa do Estado (apresentados falaciosamente como refundação do Estado) revelou-se impossível de alcançar num ano. Não será fácil nos dois que se seguem. Os ministros conseguem aumentar impostos do pé para a mão. Basta não olhar a pessoas e vê-las como números. Olhar para 300 mil pequenas e médias empresas que necessitam do acesso ao crédito para sobreviver e pôr isso nas mãos da banca descapitalizada por culpa própria, com jogos de casino e bónus pouco éticos. Qualquer leigo sabe que isso representa a insolvência do tecido empresarial português e o aumento brutal do desemprego. Para além da incapacidade de cortar na verdadeira despesa do Estado. Recorrendo a truques de tesouraria e à custa da venda em leilão dos sectores fundamentais de regulação estadual. Abdicando de empresas estratégicas de interesse nacional como é o caso da EDP que apresentou lucros de €1000 milhões, e de que ainda vamos ser chamados a pagar o défice tarifário. Pasmem-se!
O défice de 3%, que é a meta a atingir do memorando, passou de 2013 para 2015. A troika abonou mais dois anos. Gaspar não queria nenhum. A sua humanidade e humildade inexistentes roçam o ultraje. Este memorando já não é o assinado em 2011. Esse memorando já sofreu ajustes que o põem no patamar que Passos Coelho sempre idealizou. O desemprego como dano colateral para baixar salários e custos com o trabalho, despedimentos e indemnizações. A recessão como inevitabilidade com os fins únicos da desalavancagem da banca e redução rápida dos desequilíbrios externos. Um dos objectivos do memorando ideológico está quase cumprido, a redução drástica dos custos do trabalho. Mesmo que seja à custa de milhares de desempregados, pensionistas e reformados. E isto ainda não acabou. O processo de intenções da conferência de imprensa de sexta-feira de Gaspar é a curto prazo preparar-nos para mais cortes. Mas não os €4000 milhões anunciados. São mais cortes do mesmo. Pensões, reformas e salários. Afinal é só o que o governo sabe fazer. Fá-lo como ninguém em abono da verdade. E se o TC declarar a inconstitucionalidade dos três artigos em causa do Orçamento para 2013, que já por si e por mérito de Gaspar é inaplicável, então, só resta um caminho ao governo, a demissão e a saída pela porta dos fundos.
Não é desejável uma crise política, no entanto, dando como certo que Portugal necessita de um ajustamento, sério, justo e capaz, e precisa de cortar nas famosas gorduras do Estado, após dois anos deste desgoverno, já não é tão certo, neste momento, se isso não será o melhor para o país. Ou não sabem que mesmo depois deste esforço a dívida pública portuguesa atingirá 124% do PIB em 2014? Ou que a consolidação orçamental é um descalabro? Ou que em 2014 o desemprego atingirá mais de um milhão de portugueses? Ou que este governo é tão incompetente que nem a sua matriz ideológica consegue cumprir? Que a sua matriz liberal já não é sequer um programa mas antes uma questão de sobrevivência quotidiana sem qualquer ideia para o futuro? Que queria tirar do Estado e dar aos privados, cortando e vingando-se do Estado social e que nem isso consegue fazer porque não sabe como?
Portugal foi à bruxa e saiu-lhes o Gaspar!

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