quarta-feira, 23 de maio de 2012

Q.

O Q. é meu amigo. É família. E vizinho. Trabalha na construção civil. Habituei-me a ouvi-lo nos fins de tarde quentes de verão. Havia sempre que fazer. As batatas, as videiras, a lenha. A mulher desempregada e os dois filhos menores 'carregavam-lhe' os ombros. Desafiava-me várias vezes para uma mini fresquinha, no alpendre, olhando o horizonte e o pôr do sol, bebendo-o como se no dia seguinte não houvesse de nascer outra vez teimosamente. Dissertava aziago sobre a vida, sempre com um sorriso nos lábios. Costumava dizer-me que preferia o inverno. O sol põe-se mais cedo. E enquanto há dia, há que fazer. Os sábados eram de jeira. Enfrentava a vida com trabalho. Mas não era piegas. Nem achava que o desemprego podia ser uma oportunidade.
Fui levá-lo ontem ao aeroporto. Emigrou...

Sem comentários: