quarta-feira, 2 de maio de 2012

De Janeiro a Janeiro

Imagem TVI
O 1º de Maio de 2012 ficará na história do país como um dos mais negros dias a que já assistimos. A troca do dia do trabalhador por um dia de consumo e de compras promovida pelo grupo Jerónimo Martins, é um episódio que mancha a nossa nação e a despromove ao nível de um país qualquer de terceiro mundo. Com polícia e 'motins' à mistura. A certeza de que em Portugal a fome é uma necessidade insatisfeita e a ganância é um conceito enraizado.
No dia em que a única coisa que Passos Coelho tem a dizer aos trabalhadores portugueses é que devem estar preparados para um aumento significativo do desemprego, quando já alcançou níveis históricos, um grupo económico resolveu escolher o dia dos trabalhadores para tentar uma limpeza facial, após as críticas à fuga ao fisco que representou a sua mudança de sede para o estrangeiro com que nos brindou no início do ano. Soares dos Santos quis provar e provou que quem manda não é o governo nem qualquer sindicato.
Não condeno quem por lá passou, 50% de desconto em compras superiores a cem euros, são nos dias que correm uma benesse para quem, por exemplo, recebe uma pensão de 300,00€ ou o salário mínimo. O aproveitamento fácil das necessidades e do desespero das vítimas da crise, baseado no dumping, violando ostensivamente as regras da concorrência, é que nos deveria fazer pensar no alcance e proporções a que já chegámos, e que afinal é este o retrato real da nossa economia depauperada e miserável.
O 'Pingo Doce' tem promoções e descontos de Janeiro a Janeiro, mas no 1º de Maio, aproveita-se dos seus trabalhadores, que deveriam estar a gozar o seu feriado, e das necessidades dos consumidores. É como que uma esmola escondida, aproveitando a carência e a necessidade. Ou haverá alguém que acredite que foi um acto solidário? Foi sim, um acto de barbárie humilhante e indecente, numa sociedade cada vez mais desigual, pobre e amordaçada, que aproveita qualquer migalha que caia do topo da pirâmide. A fragilidade destes novos tempos, em que a noção da realidade se desfaz sobre a consciência individual e a transforma num instinto de sobrevivência, assusta, sobretudo, todos aqueles que não podem garantir que amanhã não estarão na fila...

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