terça-feira, 29 de maio de 2012

O mendigo

Trazia uns calções rotos e manchados de sangue. A t-shirt de aspecto imundo mais parecia um farrapo de lavar o chão. E o calor apertava. O que não abonava nada para disfarçar o cheiro nauseabundo a sangue, suor e lágrimas. Estava descalço. O rosto cansado de desespero e queimado pelo sol. Apesar da aparência não tinha mais de 40 anos. Pedia esmola a quem passava fingindo não o ver. Disfarçavam a realidade com um desvio do olhar. Porque o olhar pode trair. É melhor não ver. Passei como se não existisse. O remorso pode remoer uma alma até à catarse final. "Eu venho já." Regressei ao mesmo sítio. E ele lá estava. Tinha a seus pés um boné desgastado pelo tempo e pelas agruras da vida. No seu interior jaziam abandonadas meia dúzia de moedas de cinco cêntimos. Só então reparei no cartaz. O cartaz... pousado a seu lado dizia: 'só peço trabalho'...

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