quinta-feira, 28 de abril de 2011

Os cravos e as ferraduras

Não vivi o 25 de Abril de 1974, não vivia antes de 1974, sempre conheci a liberdade tal como hoje é entendida, mas sei quais foram os valores que emanaram da Revolução dos Cravos. E também sei o que foi extinto, para que nunca mais volte, espero... Sei o que é a liberdade de expressão e de opinião, sei o que é viver em democracia, sei o que é o direito de voto e a cidadania, sei o que é segurança, estado social, SNS, escola para todos, sei o que são os valores da igualdade e da justiça. Felizmente nunca soube o que era fome, repressão, censura, injustiça, guerra... mas sei que existiram.
A lembrança e a comemoração do 25 de Abril serve para isto mesmo, para que nunca ninguém esqueça onde estamos, de onde viemos, e para onde queremos ir. Para ensinar a quem não sabe, e para relembrar a quem se esquece. E só esquece a quem não dá jeito a democracia, a igualdade e a justiça. E há muita gente a esquecer-se...
Há 37 anos, renasceu um país que se queria modernizar, e nasceu um regime que tem ainda hoje na sua Constituição os valores de Abril, da sua Revolução e da sua liberdade.
Infelizmente, esse país passou quase sempre ao lado do essencial, nenhum governo desde então soube dirigir os seus destinos sem sucumbir aos interesses privados, sem se misturar com esses interesses e lóbis, sem se deixar instrumentalizar no seu âmago.
Os progressos foram no entanto enormes, a título de exemplo, a taxa de mortalidade infantil e a frequência e aproveitamento escolares, o SNS, etc., mas falhou o essencial, a requalificação do território e das instituições, a implementação de um modelo social criador de riqueza com a implementação de um paradigma da sua justa redistribuição, o esbanjar de milhões da UE em PPP's, em 'jobs', em betão (das estradas ao desporto), em vez de se investir nos serviços, nas pessoas e na sua organização modelar.
A obsessão das oligarquias reinantes e obscuras aproveitam agora a miséria dos povos desregulados e vendidos a crédito. Durante anos a fio, tudo era crédito, para pagar agora. E os credores aí estão a bater à porta. Em 37 anos de democracia compramos a crédito tudo o que nos quiseram vender, sem que nenhum governo se alheasse do saque. A liberdade deu lugar à libertinagem, e hoje tudo é possível, desde a quebra de confiança entre países que eram unidos pelo euro, ao resgate criminoso do dinheiro dos contribuintes, feito de especulação e de juros usurários de credores encapuzados e grupos económicos dignos da 'Cosa Nostra'. E quem se lixa é o mexilhão!
A seguir à renegociação da dívida grega, segue-se a perseguição à Espanha, e quando esta cair, porque vai cair, a extorsão assim o exige, cairá o euro ou não, ou a Europa reage como devia ter já reagido, ou temo o pior. Estará então nas mãos da Alemanha, a maior beneficiada da moeda única.
Nas próximas eleições legislativas, apesar de tudo, e das escolhas possíveis, a possibilidade de escolher foi definida há 37 anos...a 25 de Abril...

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