quinta-feira, 31 de março de 2011

'As armas e os barões assinalados'

As armas e os barões são hoje diferentes dos cantados por Camões no seu tempo. Aqui fica uma análise ao governo Sócrates, bem ou mal, por acção ou omissão, certo contudo de que existiram dois momentos, antes de 2008 e após 2008. Ou seja, antes da crise internacional e depois dela...

Uma pequena nota porém, para os mais distraídos; se não havia coligação negativa quando os partidos da oposição a uma só voz chumbaram o PEC IV, que vai ser aplicado na mesma e até reforçado, Passos Coelho dixit (inclusivamente com aumento de IVA, o mais cego de todos os impostos e privatização, imagine-se, da CGD), esta semana voltaram a unir-se, depois de Sócrates se ter demitido, para anular a avaliação dos professores. Espero que, tal não signifique que os professores não vão ser avaliados tout-court, espero que pelo menos não surja essa tentação populista, assim como esta foi em vésperas de eleições...os mesmos professores que recebem 5 euros por cada exame que corrigem. Já agora, que recebam os bombeiros 10 euros por cada fogo que apaguem, e os juízes 20 euros por cada processo que julguem...

Antes da crise havia 420.000 desempregados em 2005, os mesmos que em 2008, depois da crise o número passou para 600.000; antes da crise o barril do petróleo custava 70 dólares, depois da crise custa quase o dobro; antes da crise a dívida pública em percentagem do PIB era de 64%, depois da crise é de 82%; antes da crise o défice orçamental foi reduzido de 5% para 2,6% entre 2005 e 2008, dentro do Pacto de Estabilidade e Crescimento Europeu, depois da crise estará nos 7%, e até já esteve nos 9,4%.

 + do governo de Sócrates:
  •  Reforma do Estado (PRACE - Programa de Restruturação da Administração Central do Estado);
  • Aposta nas renováveis (construção de barragens, eólicas e centrais fotovoltaicas - top 5 mundial);
  • Reforma da Segurança Social (introdução do factor de sustentabilidade associado à longevidade, o que garante pensões e reformas até à década de 2030 pelo menos);
  • Criação das Unidades de Saúde Familiar (deu a mais 450.000 portugueses um médico de família);
  • Lei da Igualdade;
  • Simplex (avanço geracional);
  • Fim da Alta Autoridade para a Comunicação Social;
  • Cimeira da Nato e eleição para o seu Conselho de Segurança;
  • Reforma da Estrutura Superior das Forças Armadas;
  • Reorganização territorial (bombeiros e protecção civil ganharam comando único);
  • Cursos profissionais (de quase inexistentes passaram a estar em quase em todas as escolas);
  • Reforma da organização dos Tribunais e sua informatização;
  • Mais 2.500 km em AutoEstradas, IP's e IC's;
  • Aumento em 110 euros do salário mínimo nacional;
  • Diminuição de 50.000 funcionários públicos;
  • Investimento em ciência (superou Espanha e Itália, entre outros);
  • Programa de regadio do Alqueva;
  • Inflação desceu de 2,3% para 1,4%;
  • Rede escolar melhorada e optimizada.

 - do governo de Sócrates:


  • Processos e suspeitas de Sócrates (algumas injustas mas com grande impacto na sua imagem);
  • Demora em admitir a derrapagem do défice de 2009;
  • Aumento das tarifas de electricidade, gás natural e combustíveis;
  • Aumento do desemprego em 4 pontos percentuais;
  • Cortes nos apoios a medicamentos, transportes e exames;
  • Gastos do SNS;
  • Cartão do cidadão com impacto em eleições;
  • Condicionamento dos media (algum merecido, lembrando aqui a desbocada M. Moura Guedes);
  •  Lei eleitoral autárquica e do parlamento por fazer;
  • Blindados para a cimeira da Nato;
  • Má gerência dos dossiês do TGV, novo aeroporto e avaliação de professores;
  • Más relações entre política e justiça;
  • Má gestão do PRODER (fraco aproveitamento do Programa de Desenvolvimento Rural);
  • Subserviência aos grandes grupos económicos.

A crise internacional não explica tudo, mas é difícil não ver que há um antes e um depois de 2008. E haverá um antes e um depois de Março de 2011, para pior, e a culpa não será de Sócrates. Houve realmente uma coligação negativa, basta ver e ouvir o que diz e propõe Passos Coelho e o que não diz Cavaco Silva. Para mal do país.

PS- Ninguém se indigna quando uma qualquer agência de rating 'ameaça' Portugal? As mesmas agências que sobrevalorizaram 'lixo', como elas gostam de dizer, em nome dos juros e dos lucros dos seus clientes, e que estiveram na origem da crise do subprime americano e de toda a crise internacional. A UE não põe travão nisto de uma vez por todas e define ela própria em que moldes e por que regras se regerá a ajuda externa? Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia não se unem contra a especulação? Talvez alguém não queira...

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