quinta-feira, 10 de março de 2011

Os rascas da geração

Na semana passada uma música foleira com letra foleira do grupo musical 'Deolinda' deu a uma nova geração o epíteto de "geração à rasca". Isabel Stilwell foi a autora do artigo que a baptizou, por contraponto àquela "geração rasca" do então 'iluminado' e hipócrita Vicente Jorge Silva.

1- Já aqui escrevi sobre a "geração à rasca" (v.d. artigo anterior de 2 de Março). No passado fim-de-semana, surgiu uma outra música foleira com letra foleira, que, pasmem-se!, venceu o Festival da Canção português que nos irá reprentar no Festival da Eurovisão. Como a imagem acima documenta, podem ver-se "os homens da luta" vestidos à anos 70, acompanhados por um trolha, um militar do 25 de Abril e uma peixeira (ou lá o que é aquilo). Não é que ligue muito ao Festival, verdade seja dita, a maioria da música ali apresentada roça os limites do ridículo, mas nunca pensei que se pudesse descer tão baixo. Apesar de tudo, o Festival Europeu é visto por milhões em toda a Europa, e não me revejo de todo naquela actuação enquanto cidadão português. No fundo, as músicas acima referidas, assim como a importância que lhes foi atribuída são um espelho da nossa sociedade, definhada e sem ideias.
É pena quando um grupo de humoristas, de 'Jel' e companhia, que tão bem representavam a 'luta', se comece a levar a sério. Esse é o princípio do fim, e acontece a cada passo, vejam-se os casos do Herman ou dos Gatos Fedorentos.

2- Esta semana também vimos mais um caso em que a ambição de meia dúzia suplanta a luta de milhares. Com uma manifestação marcada para Sábado , 12 de Março, no dia de Carnaval, meia dúzia de jovens em busca dos seus 15 minutos de fama, resolveram interromper o discurso de Sócrates num comícío privado. Têm o direito de se manifestar, mas não com falta de educação e de civismo, inrompendo num sítio e numa festa privada, e interrompendo quem no seu exercício legítimo, (e nunca é demais dizê-lo, legitimado nas urnas pelo povo português), discursava numa reunião, e volto a frisar, privada. A luta faz-se na rua. E assim como me revejo no manifesto apresentado e que dá consistência e razão à manifestação de Sábado, não posso concordar com atitudes desrespeituosas dos direitos dos outros. Tenho a certeza que muitos dos que manisfestarão no Sábado não concordaram com a mancha que já levam nos sapatos.

3- Para terminar, ontem, Cavaco Silva, tomou posse para o seu segundo mandato como PR. A magistratura activa, por contraponto com a passiva do primeiro mandato, começou a definir os seus contornos. E foi o que se desconfiava. A magistratura activa de Cavaco, como ficou patente no seu discurso, será a de tomar as rédeas da oposição, numa atitude sectária e facciosa de quem é Presidente só de alguns portugueses. Cavaco apresentou ontem a sua moção de censura ao Governo, ignorando propositadamente a crise internacional. O discurso de tomada de posse, ao nível de um qualquer líder da oposição, foi um discurso populista, reacionário, demagógico, e chantagista. Não apresentou uma única medida ou solução, não apontou um caminho, não fez o seu papel. Chegou ao cúmulo de ser o primeiro PR a incitar ao levantamento popular e à reacção. Foi o primeiro a ser ao mesmo tempo Presidente da República, líder da oposição e sindicalista mobilizador de manifestações. Cavaco tem saudades de ser Primeiro-Ministro, eu não tenho, mas gostava de ver o que era capaz de fazer neste momento de crise internacional, sem dinheiro para auto-estradas...

O FMI assim que aterrasse na Portela, emigrava no próximo vôo.


2 comentários:

Anónimo disse...

Rogerito, no global gosto muito do que escreves, da forma como o fazes e até procuras ser imparcial e quase SEMPRE politicamente correcto, no entanto não poderia deixar de fazer este reparo a este artigo.
Interpreto que a vitória dos Homens da Luta no Festival da Canção foi um grito de insatisfação, que não seja mais do que um sinal que todo o país está descontente com a situação que hoje se vive e não como dizes "No fundo, as músicas acima referidas, assim como a importância que lhes foi atribuída são um espelho da nossa sociedade, definhada e sem ideias".
LUTAR com todos os meios possíveis (nem que para isso sirva um simples e pouco mediatizado Festival da Canção, ao qual acredito que nem, eles pensariam em ganhar) para chamar a atenção, para que o povo saia da letargia, da resignação, da estagnação, do buraco em que nos meteram e só a muito custo nos levantaremos. A sociedade está definhada sim e sem ideias, porque de cada vez que caiem, procuram ideias para se levantar, levantam-se e os políticos lá arranjam maneira de enterrar ainda mais o pessoal, e assim sucessivamente!!
Concordo com a tua observação ao Cavaco, teve um discurso e postura que nada abona a favor dele. Deu tiros nos próprios pés, pois mostrou que se tudo foi assim tão mau delineado pelo governo, ele não desempenhou o seu papel, que andou a dormir e que foi incompetente.
Cada vez mais constato que quando as pessoas têm um ideal político e se vinculam a qualquer partido ficam um pouco toldadas das ideias e não vêem o mundo com os olhos "limpos".

Abraço

Pedro Palas

marco disse...

Seguimos: tendências, modas, clubes de futebol, religiões, opiniões de analistas, o que fazem (nos mandam)os outros na europa, partidos politicos... e por aí, numa lista, ela mesma difícil de seguir!
A comodidade do seguidismo assenta em que nos liberta do trabalho de pensar por nós próprios, fornecendo-nos um leque abragente de pressupostos que nos permite explicar, entender e "opinar" sobre practicamente tudo.
Assim sendo, não é estranho ouvir falar em défice de ideologia e de pensamento estruturante.
Acho que tens um ponto de razão em relação ao foclore que acompanha este recente fenómeno "à rasca". Porém não se lhe deve retirar nenhum mérito. Nem que mais não seja pela sua genuinidade (um pouco inquinada, é certo)e espontaneidade.
E porque é um direito porra!
Manifestem-se os gays, lésbicas, pretos, precários, putas, funcionários públicos e demais!Porque razão? Por todas as que sabemos.
Quem não quiser... Que fique a ver televisão.
Sobre o assunto Viseu e Cavaco.
- Não tenho cartão!