quarta-feira, 2 de março de 2011

Geração à rasca

É incrível o momento que vivemos...uma música foleira com letra foleira deu ao país e a uma geração um epíteto decalcado de um outro ainda mais rasca, rotulado por um qualquer energúmeno com requintes de hipocrisia.

É perfeitamente legítimo o estado de indignação de milhares de jovens desempregados e trabalhadores precários. É naturalmente legítimo que o queiram manifestar na rua. Já assim não será se a eles se juntarem os 'coitadinhos do contra', os oportunistas e os anárquicos e transformarem o protesto em desunião e desordem. Concordo que se manifestem e mostrem o seu descontentamento, tenho a convicção que de nada servirá, à imagem do que aconteceu com a greve geral do passado dia 24 de Novembro de 2010.

O protesto, ao que julgo saber, é contra a classe política, as suas mordomias e privilégios, contra os bancos, contra os impostos, contra os impostos que os bancos não pagam, contra a corrupção e contra o trabalho precário e o desemprego. Nisso não posso concordar mais. A luta faz-se na rua, mas Portugal não se situa no Magrebe, no Norte de África ou no Médio-Oriente. A manifestação só tem semelhanças com a luta dos países dessas zonas pela forma como é convocada, via e-mail e redes sociais, não se trata como é óbvio de derrubar o regime, nem tal é sequer posto em causa.
Mas, volto a insistir, os dividendos serão quase nulos.
A nossa geração não é rasca, está mais que provado. A geração 'quinhentos euros' não é a dos corruptos, dos pedófilos, dos especuladores e gananciosos, não é um pântano, não usa tanga, mas está à rasca. Esta geração não tem medo das revoluções que acontecem no mundo árabe e muçulmano, não põe entraves nem desconfianças, tem esperança num futuro melhor. O situacionismo não é opção. Esta geração não se importa de pagar a gasolina mais cara, desde que seja dada a oportunidade a países e gerações amordaçadas por ditadores sanguinários de sentirem a liberdade de serem eles a tomar as rédeas do seu futuro, a liberdade de dizer o que pensam, a liberdade de escolher viver em democracia. Esta geração é vítima, mas não quero que se vitimize.

Esta geração exige a mudança mas o que aí virá não trará o milagre desejado, porque quem manda são os mercados, e esses exigem e conseguem, não precisam de manifestações, basta a especulação. Já se sabe que hoje já não existem empregos para a vida, mas a alternativa vai agravar o fenómeno de forma crítica, senão vejamos o PSD (única alternativa que se perfila ao PS) que assim que estiver no poder vai desbaratar e precarizar de alto a baixo o emprego, veja-se a última proposta que fizeram acerca da possibilidade de haver contratos de trabalho orais...estou mesmo a ver um trabalhador a ser dispensado, alegando o patrão a falta de contrato de trabalho, e o trabalhador a pedir aos colegas que sejam testemunhas, está-se mesmo a ver...contrato de trabalho oral faz-me lembrar aquele que é desenvolvido por 'meninas' de rua e que na Alemanha já pagam impostos.
Acredito que o ciclo de Sócrates esteja para acabar, já poucas vidas lhe restarão, mas uma coisa é certa e disso ninguém o acusará, o homem não desiste...cometeu erros é verdade, mas ao contrário de outros, seus antecessores, não abandona o país. Antes da crise internacional, financeira e depois económica, nos bater na cara, o país respirava como sempre desde o 25 de Abril de 1974, endividado. E com toda a frontalidade afirmo, em grande parte a culpa não é dele.

E se quiserem saber se a entrada do FMI é melhor, vejam os casos da Grécia e da Irlanda, que pagam taxas de juro mais altas que as nossas, com o desemprego ainda mais alto do que aquele que tinham antes de serem 'ajudados'. A única coisa que o FMI e FEE trarão, como sempre trouxeram, são cortes cegos com a mesma receita, sem qualquer preocupação com as vicissitudes do lugar onde é aplicado, com a razia comatosa da economia. O que interessa é que os credores recebam, o devedor, depois de tudo pago, que se desenrasque. E quem vai ter que se desenrascar é quem já está à rasca.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não sao muitas vezes que o poso dizer mas, até concordo com a ideia, o grosso do que escreves.
Contudo discordo em 3 pontos:
1. Não me importo de pagar mais na gasolina desde que algo o justifique que não a brutalidade de impostos que pagamos para isso (comparativamente com espanha)
2. O Coitado do Sócrates tem tudo contra ele!! Coitados sejam aqueles que estão a fazer tudo para baixar o nosso défice, e, segundo estratégica politica do PS de agora, andam aí uns bandalhos europeus que não querem salvar o euro.. Esses bandalhos que estão agora a suportar os devaneios socialistas, são uns artolas que não querem salvar o euro...
3.O Socrates não sai do governo não por ser muito corajoso, nem por ter carácter. É mesmo pela falta de pelo menos estas 2 coisas. É mesmo pelo poder, por estar agarrado a ele e se calhar do receio do que será a vida dele com os processos que tem sem ser primeiro-ministro.

Nuno Palas

Unknown disse...

Caro Anónimo

1 - A nossa gasolina é das mais caras da Europa ANTES de imposto. O estado (governos anteriores) suportaram durante bastante tempo as diferenças de preço de mercado para que os preços ao consumidor não disparassem.

2 - São às centenas os empresários com peso na Europa que não defendem o euro. Não me esquecerei tão cedo a reacção deles quando a crise americana fez com que o euro disparasse em relação ao dólar. Apenas lhes dá jeito esta comunidade europeia pela grande facilidade de livre transito. Repara bem de onde são as empresas especuladoras, de rating e afins. Achas que se esse poder oculto quisesse realmente defender o euro, publicaria logo a seguir à reunião Socrates/Merkel que era inevitavel que Portugal teria de pedir ajuda ao FMI? Se essas pessoas querem defender o Euro, como explicas que todos reconhecem que a nivel de dívida, estamos no bom caminho, mas as taxas de juro sobre a dívida portuguesa continuam a aumentar?
3. Para mim, o único interesse em ser PM em Portugal é pelos conhecimentos e contactos que se adquirem com a posição. Algo que ele já deve ter muitos. Não era muito mais fácil para ele abandonar as coisas em vez de desgastar a sua imagem com decisões claramente impopulares?

Nem sou grande apoiante do Sócrates, mas gosto de pensar por mim e orgulho-me de ser manada-free!!! (não estou a insinuar que tu és o contrário)