quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Política responsável em nome do povo

A política está descredibilizada aos olhos do público. Á falta de líderes que pensem o futuro, junta-se o descrédito pelos erros e faltas dos líderes do passado. O povo já não se deixa enganar tão facilmente. Hoje o acesso à informação está em todo o lado, e por todo o lado os exemplos repetem-se.
A Grécia ingovernável tem agora um parceiro de peso, a Itália do comediante Grillo e do bunga-bunga Berlusconi. A esquerda italiana não conseguiu passar a mensagem do caminho alternativo. Mas o fenómeno não se esgota em si mesmo. A falta de solidariedade entre países membros da UE, a austeridade-remédio e a falta de transparência de uma significativa maioria de governantes põe em crise todo o sistema político. Para além disso, os movimentos de cidadania, apoiados nas redes sociais, apartidários e populistas resultam num capital de esperança nunca antes visto. A crise da política não deverá todavia, significar a crise da democracia. E aí a responsabilidade do povo eleitor tem um papel preponderante. Grillo não será um palhaço do género Tiririca mas é muito duvidosa a sua capacidade para governar e liderar um país como a Itália, principalmente nos dias que correm. O desalento com a política e os políticos deve sempre ser manifestado nas urnas, mas a responsabilidade de quem vota está no facto de escolher responsavelmente. O reboque da insatisfação não deve ser uma manada incontrolável de seres acéfalos que rumam para um lado, sem pensar nas consequências, apenas porque o outro lado representa a forma mais comum e mais conhecida. Todos se lembrarão em Portugal do flop Fernando Nobre. A rejeição de tudo contra todos, baseada em graçolas e irresponsabilidade não poderá vencer. Prometer 20 horas de trabalho semanais e uma subvenção universal de €1000 mensais, com candidatos anónimos e sem qualquer experiência escolhidos aleatoriamente na internet não deveria dar a Grillo senão meia dúzia de votos. A galhofa e os escândalos de Berlusconi também não. Mas as idiossincrasias em Itália têm destas coisas. O perigo é julgar que só sucedem por lá. O perigo incendiário anti-político pode transformar o cansaço e a desilusão num desmoronamento democrático. É urgente que os políticos aprendam a lição antes que seja tarde demais.
O descontentamento cada vez mais indignado é um direito. E hoje consensual. Como o de manifestação e de expressão. Mas todo o cuidado é pouco. Se é verdade que a política se faz de eleitos e eleitores, também é verdade que o oportunismo e a populaça pode levar ao poder extremismos muito pouco recomendáveis. A responsabilidade deverá sempre ser o guia que impeça que a democracia possa ser posta em causa.
Bem sei que a irresponsabilidade de quem governou nos últimos 25 anos, e reportando-me a Portugal, levou a que a coisa política tivesse chegado ao ponto a que chegou. Bem sei que os interesses económicos e financeiros quase sempre se sobrepuseram ao bem comum e aos cidadãos, por culpa de quem governou e governa. Aqui e principalmente lá fora. Mas a representação partidária, ainda assim, continua a ser o garante do funcionamento da democracia.
Também não quero com isto dizer que me oponho a movimentos independentes de cidadãos. Muito pelo contrário. Mas sempre e desde que sejam responsáveis. Porque se não forem, a responsabilidade é de quem neles vota, aliás, como sempre o foi até ao momento.
Hitler chegou ao poder aproveitando momentos como estes que se vivem hoje, capitalizando descontentamentos e indignados, aliando populismo a nacionalismo. A História tem tendência para se repetir e, quer queiram quer não, a pluralidade e os partidos políticos são essenciais à democracia. Problema diferente será a partidocracia e a forma como se regem interesses. A regulação desses interesses é que deve ser escrutinada e exigida pelo povo. Porque o povo é quem mais ordena.

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