segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

António e António

António Costa não se acobardou. Jogou pelo seguro. Foram as armas. Haver mais espingardas do outro lado da barricada representa sempre um problema para quem quer ser vencedor sem ter que se esforçar mais do que o minimamente aceitável e necessário. Com a Câmara de Lisboa às costas e a campanha para as autárquicas a chegar, houve receio de uma dupla derrota que arruinaria de uma penada o seu estatuto político. Aliás, é exactamente o que faz o seu camarada Tozé. Só está à espera que o poder lhe caia, negligente, no colo. Foi o que lhe aconteceu na sede do PS e até já está mais seguro. Costa adiou enquanto pôde. Marinou sem ser estrugido e saiu tocado mas impoluto. Não é que daí venha mal ao mundo. Só que o mundo dos incautos, dos inocentes e dos injustiçados mereciam uma melhor moeda, se é que me faço entender.
Seguro não quer saber do passado. Faz mal. O passado é a memória presente que conduzirá o futuro. Seguro não compara este governo com o anterior, quando este governo faz e desfaz, quando sempre disse que não o faria. Quando se sente encurralado e acossado. A toda a hora por estes dias. António José Seguro ignora que este governo não se pode comparar com o anterior, porque este governo não se pode comparar com nenhum. Chamar a isto governo é quase um insulto. Não que os outros não tenham culpas no cartório. Mas com certeza, este é o pior governo de sempre. Proeza conseguida em apenas ano e meio. E António Costa não ignora nada disso. Seguro quando acicatado e desrespeitado com a confrontação aos seus antecessores sempre se deixou encolher, envergonhado. Nunca soube retorquir que o PEC IV (elogiado na Europa de Merkel) evitaria a situação de pré-bancarrota, e a que a golpada de assalto ao poder que representou o seu chumbo, isso sim conduziu o país ao resgate. Que a generalidade dos indicadores económicos e sociais tiveram no governo de Sócrates um impulso muito positivo e nalguns casos sem precedentes. Que foi o único governo que cumpriu as metas do défice. Durante três anos. Até chegar a crise internacional, que juntamente com as indicações da UE que aconselhavam forte investimento público para a mordaça não apertar tanto quando chegasse com toda a força. Claro que os indicadores e a dívida e o défice foram para níveis nunca vistos até então. Até então?! E então chegou o BPP e o BPN. Mas então, a crise internacional que já nos tinha batido em toda a tromba, para a oposição sedenta de poder, era coisa do estrangeiro. A culpa era só de um. José Sócrates. Tinha defeitos o homem, é verdade. Era arrogante e teimoso. Mas a responsabilidade que teve nesta crise foi das menores entre todos os que nos governaram no passado. Aqui, neste cantinho, não chega nada, não se passa nada, quanto mais uma crise e ainda por cima internacional. Sabemos agora quem era a oposição. Relvas, Passos e apaniguados.
Quando chegou à liderança, Seguro percebeu que só havia um caminho para a sua oposição. O PS precisava de divergir da linha comportamental e programática daquilo a que se convencionou chamar de 'socratismo'. Por outro lado, tinha sido o PS a pedir a assistência externa e a negociar, com a troika, o resgate, pelo que, a única forma que Seguro encontrou de 'rasgar' o memorando, foi romper com o passado de quem o tinha assinado.
Só que o prazo acabou. Tal só funciona num tempo determinado. Agora exige-se mais de maneira diferente. Só que Seguro é cinzentinho, compostinho, mas pífio na atitude e pobre no discurso. As consequências da aplicação concreta do memorando (aumento do desemprego, esbulho fiscal, recessão, falhanço das metas, aumento do défice e da dívida, falhanço cíclico das previsões), o festival de trapalhadas no governo, incluindo Passos Coelho, o adiamento de reformas tantas vezes anunciadas como adiadas, foram criando as condições para que António José Seguro pudesse, de forma inteligente, elencar e atacar os erros cometidos pelo governo. A nada disto se assistiu. No parlamento e nas entrevistas que foi dando, António José Seguro revelou-se inconsequente e tímido como um menino de coro. Nunca mostrou a força e a habilidade da política, pura e dura. Esta incapacidade apareceu vertida nas sondagens do costume. Até à semana passada. Com a possível confrontação de Costa, Seguro estrebuchou, e com uma carta certeira enviada a todos elementos componentes da troika exigiu o que o governo anseia mas não assume, porque tal significaria a derrota definitiva da sua política, que agora parece trazer novo discurso ensaiado. Só que Seguro não tem o apoio da sua bancada. E isso mina a eficácia do seu discurso e põe a nu a sua insegurança.
A oposição a este governo incompetente (fico só por aqui) tem que ser implacável e combativa. E António Costa é o homem certo para esse combate. Reconciliará o passado do PS, para de forma inteligente e cerrada conduzir o futuro do país. Está escrito nas estrelas.
Já agora, por onde anda Cavaco? Só serve para descobrir um erro na publicação de uma lei para permitir as candidaturas dos seus correlegionários? Onde está o homem que há dois anos apelava a um sobressalto cívico? E agora? Já não pode haver sobressalto? Ainda que com 'grândoladas'?

1 comentário:

Sérgio Pina disse...

Análise refrescante dos tempos que correm. Crítica bastante atenta. Muito bom.