sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Racionar ou racionalizar

Racionar, em bom português, quer dizer, limitar os bens que se podem adquirir, tal como as célebres filas e senhas para o pão ou para o leite. Podemos assistir a isso e a bem pior na África Subsariana ou nalguns países da Ásia. No esquecido terceiro mundo, que nunca na Europa, claro está.
Racionalizar, significa, tornar mais eficiente.
Quando nos dizem que temos que racionar, em vez de racionalizar, alguma coisa está a correr mal. Ou os bens são escassos, e aí é considerado bem de luxo, e só algumas carteiras lhes podem chegar, ou não são, e então significa que não racionalizámos quando devíamos, e agora tem que se racionar.
Claro está, que um determinado bem, pode ser escasso num sítio e abundante noutro. Nos países de terceiro mundo a comida não abunda, como se sabe, mas não se quer lembrar. Noutros países, ditos desenvolvidos, o excesso de peso é um problema que começa a ser encarado como de saúde pública.
E quando nos dizem, que temos que racionar os medicamentos mais caros no nosso SNS, estão a dizer-nos que os médicos passarão a ter também a função de contabilistas. Significa que o fundo do poço está aí ao virar da esquina. Quer dizer que os medicamentos em Portugal podem ser bens de luxo, e que uma vida humana vale tanto consoante o custo do seu tratamento.
Miguel Oliveira da Silva, Presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, disse que, e passo a citar "vivemos numa sociedade em que, independentemente das restrições orçamentais, não é possível, em termos de cuidados de saúde, todos terem acesso a tudo".
Eu gostava de viver numa sociedade em que, ao nível dos cuidados de saúde, todos pudessem ter acesso a tudo, começando, se calhar por racionalizar as despesas do Estado noutras áreas, nomeadamente em regalias e reformas milionárias pré-adquiridas antes de tempo, ou se calhar em assessores manhosos com ranho no nariz, ou no número de seguranças e motoristas, ou nos gastos em empresas municipais que só servem e de que se servem os boys. Ou em submarinos, ou nas PPP's urdidas em contratos ruinosos para o Estado mas garantia de milhões para meia dúzia de trapaceiros, ou em pareceres de rodapé também eles usurários, ou em empresas públicas inúteis e de interesses duvidosos, ou nos salários vergonhosos das outras empresas públicas, ou não racionar receitas em vez de racionalizar a despesa, ou não nomear tecnocratas e contabilistas para cargos e ministérios que exigem política a sério e preocupação séria com o serviço público que nos é devido, nomeadamente na saúde e nas finanças.
Gostava de viver num país onde primeiro se racionalizasse para depois não ser necessário racionar, como noutros países mais a Sul. E gostava de saber quanto aufere de salário o sr. Miguel Silva e se tem ajudas de custo, e motorista e segurança e carro de Estado... Mas mesmo que não tenha, não lhe desejo que o Estado tenha um dia de racionar nos medicamentos que lhe poderão um dia, por mera hipótese académica, salvar-lhe a vida...

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