quarta-feira, 10 de abril de 2013

Thatcher e o início da crise

Excluindo raras excepções, a morte de uma pessoa não deve ser celebrada. Ocorrem-me alguns nomes cujo desaparecimento são dignos de festa de arromba: Hitler, Mussolini, Estaline, Pinochet e, entre nós, Salazar.
Esta semana morreu Margaret Thatcher. Houve elogios à sua memória e celebrações da sua morte. A Primeira ministra britânica entre 1979 e 1990 ficou conhecida como a Dama de Ferro. Esta é uma morte que não deve ser celebrada, porque não se compara aos exemplos acima referidos, no entanto o seu percurso político não é digno de elogio. Muito pelo contrário. Thatcher que um dia disse que Nelson Mandela era um terrorista ficará para a história como a mãe do neoliberalismo que está na origem de toda a crise dos Estados que agora vivemos.
A par com Ronald Reagan nos EUA, Thatcher foi responsável pela política mais liberal de sempre. Uma agenda radical de desregulação financeira da banca e do mercado de trabalho. A sua agenda política, de que agora Gaspar e Passos Coelho são seguidores, ainda que tal esteja na origem de toda a crise mundial, assentava nas privatizações do sector empresarial do Estado e apostava na guerra ao Estado social e aos sindicatos. Reduziu o Estado social a um mínimo quase intolerável e reprimiu com punho de ferro as greves dos mineiros, chegando a limitar o direito à greve. Tudo isso, a acrescentar à recessão e ao desemprego levou à sua quase imediata impopularidade. Mas foi salva pela guerra das Malvinas. Com a vitória sobre a Argentina em 1982, conseguiu ser reeleita para o cargo e continuar a sua política, que, anos mais tarde, nos EUA e na Europa levaria à crise económica e financeira mais grave da história recente da humanidade.
Foi com Thatcher que o neoliberalismo nasceu na Europa, e com ele a entrega do poder económico e financeiro aos usurários, investidores e banqueiros, retirando-o da alçada do Estado e da política. Foi com a Dama de Ferro que a política começou a submeter-se ao poder financeiro do capital e do monetarismo em vez de ser ao contrário. O poder político, que está ao serviço do Estado, ficou refém do poder económico e financeiro. Ao submeter o poder político à vontade do capital especulador e desregulado submete-se o Estado à vontade da economia, que devia servir o homem e não o seu contrário.
Foi também com Thatcher que a Inglaterra se auto-excluiu da UE e do euro. No entanto, a sua política é a utilizada (agora mais requentada) para fazer face à crise económica e financeira e da dívida soberana dos Estados e de que a mesma é responsável. É uma contradição insanável de que ninguém tem 'tomates' (assim mesmo) para denunciar. A falta de líderes corajosos e a falta desse poder político agora submetido à vontade do poder financeiro fazem com que a Europa não consiga sair da crise. Os resultados estão à vista. Recessão, défice, dívida pública, desemprego, pobreza. Guerras começaram por bem menos, e não vejo luz ao fundo do túnel, porque o túnel continua a ser escavado.

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