quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O estado do Estado

O direito à greve é um direito fundamental de qualquer democracia. É inalienável e constitucionalmente garantido. Não me interessa se se banaliza ou não. Se houver greve todos os dias, todos os dias ela é legal e garantia de um direito e de um estado livre e democrático.
O argumento da produtividade do país é usado por quem não reconhece que haja quem tenha o direito e motivos para usar da sua liberdade para manifestar o seu descontentamento. E isso é tudo a que corresponde o direito à greve.
Cavaco disse ironicamente que tinha estado a trabalhar. Passos Coelho elogiou quem tinha estado a trabalhar e num acervo de atrevimento bacoco elogiou os desempregados. Eu elogio quem teve coragem de aderir à greve. Hoje em dia é preciso muita coragem e fôlego.
O direito à manifestação é um direito fundamental de qualquer democracia. É inalienável e constitucionalmente garantido. Não me interessa se se banaliza ou não. Se houver manifestações todos os dias, todos os dias elas são garantia de um direito e de um estado livre e democrático.
Coisa diferente é o uso de violência, a desobediência e a provocação. Durante hora e meia um bando (uma dúzia) de energúmenos provocou e agrediu de várias formas as forças policiais presentes na AR. A carga policial foi mais que justificada. O direito à greve e à manifestação não se confunde com distúrbios, ameaças e agressões. Manifestar descontentamento não é provocar desacatos, não corresponde a qualquer tipo de violência e não é forma de poder reivindicar seja o que for. Até porque só serviu para desacreditar as manifestações e abafar a estrondosa adesão à greve, talvez a maior dos últimos 30 anos.
Também não se pode confundir manifestantes com agitadores, e aí a linha que os separa é muito ténue quando chega a hora da carga policial.
A AR é a casa da democracia e entendo que não deve ser aí o alvo do descontentamento. O alvo deve ser o governo. O governo é que é o responsável pelo agudizar da crise, pela recessão, pelo galopar do desemprego e da miséria, que ao contrário do que diz Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar!?, existe e cada vez mais. É o governo que permite o passear pavoneante de Merkel em Lisboa, acompanhada de empresários vampirescos atraídos pelo cheiro de privatizações baratuchas. É o governo que falhou e falha em todas as previsões, números, execuções, consolidações e concertações. Que se diz social democrata, e rasga todos os seus princípios de base. Que ataca o estado social como se fosse o principal problema enquanto a professora Merkel investe milhares de milhões no estado social alemão à pala dos resgatados, austerizados e bons alunos. Enquanto Sá Carneiro dá voltas no caixão, é este governo que continua a bancar a banca de casino e os gestores milionários, dos angolanos e do BPN, das PPP's e dos merceeiros da política,  em detrimento dos trabalhadores e da coesão social, da justiça e da economia, do crescimento e do emprego, da saúde e da educação, da classe média e de todo o estado. É este governo que usa a crise para ajustar contas com o pacto social que vem sendo conquistado e construído desde a Segunda Guerra Mundial.
A violência usada por este governo é diferente daquela a que se assistiu hoje, mas é muito mais arrasadora.
Acho curioso que o governo tenha aumentado em 10% os salários das forças de intervenção. Espero que a guerra ao estado social não signifique a sua substituição por um estado policial, porque assim toda a violência será justificável. Fascismo nunca mais, mas eles andam aí...

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