quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A República

 Antes de 1910 e após o ultimatum inglês, do qual a monarquia portuguesa da época saiu muito beliscada, subjugando-se por completo aos britânicos, a incapacidade de se modernizar e o crescente descontentamento da população operária e rural que passava fome, por contraponto aos favores, luxos e mordomias dos nobres e monárquicos, criaram o ambiente que o recém criado Partido Republicano esperava ansiosamente. O regicídio de 1908 foi o gatilho que preparou o 5 de Outubro de 1910. Os ideais republicanos saídos da Revolução Francesa de 1789 da fraternidade, liberdade e sobretudo da igualdade, são os valores que então como hoje norteiam e devem regular toda a acção política. No entanto, a jovem República era inexperiente, e o Povo com 75% de analfabetos não compreendia, nem lhe interessava as mudanças entretanto ocorridas. A informação era escassa e não chegava à maioria dos cinco milhões de residentes no Portugal dos princípios do século XX, que ao contrário de hoje se fixavam quase todos no interior do país rural, atrasado e analfabeto.
Após a eleição em 1911 do 1º Presidente da República Manuel de Arriaga, registaram-se 42 greves nesse mesmo ano. O proletariado operário e fabril, aliado às classes mais baixas de agricultores e rendeiros, não viam as prometidas melhorias das suas condições de vida, miseráveis na maioria dos casos.
O movimento sindicalista revolucionário crescia a olhos vistos, e à míngua de qualquer estratégia económica para o país a República não teve o apoio popular  de que necessitava. A população não votava, porque desinteressada e desinformada, os actos eleitorais no interior eram dirigidos por velhos caciques da monarquia e a República transformou-se rapidamente numa Oligarquia, em que só os mais instruídos e ligados aos partidos republicanos ditavam o futuro do país. A base de sustentação de que a República necessitava, o Povo, não existia, e as lutas pelo poder entre partidos iam fazendo suceder Presidente atrás de Presidente, com alguns apenas com um ano de mandato.
A separação promovida entre Estado e Igrejas num país católico, a participação activa de Portugal na I Grande Guerra e a incapacidade de lutar contra os grandes monopólios burgueses e de comerciantes de importações e exportações das colónias, abriram a janela de oportunidade para a Ditadura.
Assim, em Maio de 1926, Mendes Cabeçadas lidera o golpe de Estado que instaura a Ditadura militar e inicia a II República (apesar de haver quem assim não entenda, para mim esta foi a II República).
Em 1928 Salazar é nomeado Ministro das Finanças que cria a União Nacional (único partido permitido), e com a Constituição de 1933 começa o Estado Novo. O resto já conhecemos.
Portanto, podemos afirmar que a verdadeira Democracia só chegou com o 25 de Abril de 1974, e com a III República, o que me leva a dizer que apesar da República já ter 100 anos, a Democracia em Portugal só tem 36.
E é por isso, que dou mais importância ao 25 de Abril que ao 5 de Outubro, mas que no entanto teve o condão de despertar Portugal para os ideais da República e acabar com velhos vícios da Monarquia.
Eu quero escolher o meu Chefe de Estado, por uma questão de igualdade e não de sangue.

2 comentários:

Mário Barreira disse...

Ora, um texto a preceito, cheio de verdades.
Com efeito, só foi à terceira que se acertou. Pois o importante não é o sistema escolhido mas sim a liberdade e democracia para todos os cidadãos.
Isso só aconteceu com o 25 de Abril, essa sim em termos republicanos é que é a data importante.
A outra, a primeira foi não um disparate, mas quase, a a acontecer deveria ter sido no 1 de Fevereiro de 2008, foram dois anos e meio perdidos, com, como já é habitual, o império à deriva.
Mas, não obstante muito existe para contar, pessoas para enaltecer, pessoas para criticar, factos para desmistificar e outros para relevar, contudo isso fica para conversa de café.
Ainda assim é dos momentos mais importantes do séc. XX, pela simples razão de ter sido um murro na mesa do marasmo que nos afecta.

Viva a Républica, não aquela mas a de agora.

beijokense disse...

Sobre liberdade e igualdade: http://nblo.gs/8QbiK