quinta-feira, 28 de outubro de 2010

CHTMAD/ULSAT

As siglas do título significam Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Unidade Local de Saúde do Alto Tâmega, e é esse o tema que vos proponho para hoje, à saciedade já existente sobre o tema nefasto e enervante do Orçamento de Estado, a que já dediquei dois artigos e sobre o qual, sinceramente, já não me consigo pronunciar, tal é a falta de responsabilidade e de ética para com o Povo por parte dos políticos que é suposto zelarem pelo interesse público, pondo-o à frente de qualquer querela e/ou jogo político-partidário. Não é isso, obviamente que está a suceder. Todos são culpados do teatro de fantoches e marionetas onde se meteram e a que estamos a assistir, e todos vamos ser prejudicados, como já somos.

A generalização do acesso por parte de uma cada vez maior fatia da população ao Serviço Nacional de Saúde, bem como o crescente envelhecimento, estão a criar uma insustentável pressão sobre o nosso sistema de saúde. Assim, foi necessário adaptar e reorganizar o sistema de saúde, para que este possa responder com mais eficácia e com mais baixos custos às necessidades crescentes. A optimização deste processo é difícil e todos nos lembramos do que representou a reforma que foi aplicada nos últimos tempos. E, ao longo dos anos foram sendo experimentados vários modelos. Um desses novos modelos são as Unidades Locais de Saúde. Este modelo, lançado quase a título experimental em 1999 tenta melhorar a capacidade de resposta através de uma gestão integrada das várias unidades de Saúde de uma determinada região. A questão premente está na articulação entre os vários centros de saúde e os hospitais e tendo como objectivos principais (socorrendo-me de um texto aqui à mão):
- Rentabilização da capacidade hospitalar instalada, através da definição de uma carteira de serviços de diagnóstico e terapêutica, disponíveis aos centros de saúde da sua área de atracção;
- Criação formal de consultas hospitalares, regulares, nos centros de saúde a partir dos principais serviços hospitalares de referenciação de cada um, coordenadas e acompanhadas em conjunto pelos directores dos serviços hospitalares envolvidos e dos centros de saúde;
- Instalação de alguns meios complementares de diagnóstico e terapêutica para os cuidados de saúde primários, como no caso da bioquímica e hematologia mais correntes, dos ECG, da espirometria e de outros, poderá também vir a ser equacionada numa base de parceria e cooperação entre os hospitais e os centros de saúde.
Mas, desde logo, vários problemas se levantam, desde a integração num sistema vertical hierarquizado, a falta de meios e de pessoal nos vários centros de saúde e unidades familiares de saúde, a comunicação entre eles e as suas próprias competências de diagnóstico, bem assim como a distância entre eles; no caso de Chaves, a Unidade Local de Saúde pensada diz respeito a todo o Alto Tâmega, com integração de todos os meios e unidades de Montalegre, Boticas, Chaves, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar. Ou seja, a competência de dar orientações seria reservado a um concelho e a uma unidade específica (que pode não ser em Chaves), sem tirar autonomia e competências aos outros, deixando-lhes a discricionariedade de interpretar caso a caso essas mesmas orientações. As dinâmicas locais teriam que ser articuladas perfeitamente, e isso como está à vista não é fácil. Implica um Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde que monitorize toda a actividade de todas as unidades. As unidades de saúde, como qualquer organização, necessitam de ser geridas tendo por base uma estratégia, e não apenas a mera administração diária dos recursos. E isso é o que acontece hoje, os problemas ao nível local em Chaves estão identificados, falta de médicos e mau funcionamento das urgências. Mas desengane-se quem pensa que não houve investimento após a integração do Hospital de Chaves no CHTMAD, ou que perdemos serviços e especialidades. Chaves perdeu a sua maternidade, é verdade, mas tem especialidades que não tinha: vejam o relatório de 2009 do CHTMAD:

Áreas Médicas:
- Cardiologia: Internamento e Consulta Externa;
- Gastrenterologia: Internamento e Consulta Externa;
- Hematologia Clínica: Hospital de dia e Consulta Externa;
- Hepatologia: Consulta Externa;
- Obstetrícia: Consulta Externa;
- Medicina Interna: Internamento e Consulta Externa;
- Nefrologia: Consulta Externa e Unidade de Hemodiálise;
- Neurologia: Internamento e Consulta Externa;
- Pediatria: Internamento e Consulta Externa.
- Psiquiatria: Hospital de Dia e Consulta Externa;
- Pedopsiquiatria: Hospital de Dia e Consulta Externa.
- Reumatologia: Consulta Externa.

· Áreas Cirúrgicas:

- Cirurgia Geral: Internamento e Consulta Externa;
- Ginecologia: Internamento, Consulta Externa;
- Oftalmologia: Internamento e Consulta Externa;
- Ortopedia: Internamento e Consulta Externa;
- Otorrinolaringologia: Internamento e Consulta Externa;
- Urologia: Internamento e Consulta Externa.
· Cirurgia do Ambulatório
· Serviço de Urgência Geral Médico/Cirúrgica, com observação;
· Serviço Domiciliário

· Outras áreas / Serviços de Apoio:

- Anestesiologia: Bloco Operatório e Consulta Externa pré-anestésica;
- Anatomia Patológica;
- Patologia Clínica;
- Imunohemoterapia: Além das funções específicas, com Consulta Externa;
- Medicina Física e Reabilitação: Consulta Externa e apoio ao internamento;
- Imagiologia;
- Bloco Operatório;
- Serviço Social;
- Nutrição: Consulta e apoio ao Internamento.
- Serviços Farmacêuticos
- Esterilização

Ora, como se disse já, nunca se investiu tanto no Hospital de Chaves, como nos três últimos anos, mais de dez mihões de euros, em contratação de pessoal (no top 20 dos médicos mais bem pagos do CHTMAD, 12 estão no Hospital de Chaves, o que representa um esforço para "segurar" médicos em Chaves), em renovação de mobiliário e aquisição de máquinas, substituição de janelas, etc...O problema continua a ser a falta de médicos e o consequente mau funcionamento das urgências, que aliados a uma intoxicação pública de desinformação, leva as pessoas a questionarem o modelo e a sua política.
Não me convenço da bondade da petição pública que circulou em Chaves, e que por ter reunido mais de 4000 assinaturas vai ser discutido na AR, não sei de onde partiu, com que interesses, nem tão pouco sei se toda a gente que a assinou estava informada do que representava realmente.
A Unidade Local de Saúde em Chaves pode ser perniciosa, porque não sei onde se vai financiar ( além do Ministério da Saúde), nem tão pouco onde vai ter capacidade de contratar médicos que cá queiram ficar e não tenham querido até agora, e tenho quase a certeza de que o sistema vai piorar, aliás, está demonstrado que das cinco ULS existentes no país, só a de Beja apresenta resultados positivos. Não a defendo por tudo isto. Mas também sei, e por experiência própria que o status quo tem que ser alterado. Só não sei é como. Espero ter contribuído com alguma coisa. 

1 comentário:

Anónimo disse...

É assim mesmo meu caro amigo, falar das verdades, lamento só que não tenhas mais inside information para saber o q de verdade se passa dentro do hospital. Mas acho q tens muito valor pela forma como estás a bordar os assuntos. O resto dir-te-ei pessoalmente. Grande Abraço
Nuno Filipe