terça-feira, 19 de outubro de 2010

O "bicho"

O "bicho" era pequenino, nos tempos em que não havia noção de serviço público e de Estado, em que não existia mercado, feito de tecido empresarial consistente.
E, eis que de rompante se instala a liberdade, feita de nacionalizações, FMI's e CEE's, para dar de comer ao "bicho" e assim este poder crescer, e bem, porque o "bicho" passava fome.  Criou-se o conceito de escola pública e o Serviço Nacional de Saúde, proliferaram os serviços públicos e as empresas públicas, inexistentes até então. Eis então que aparece, tal qual D. Sebastião, um novo dono para o "bicho", era Cavaco e não dava cavaco. Deram um nome ao "bicho", chamaram-lhe Despesa Pública. Coitado. Mas o "bicho" lá cresceu,  e entre 1989 e 1995 (v.d. gráfico), conheceu o seu maior pico de desenvolvimento, fruto do dinheiro que começava a jorrar via europa.
Ora, o Cavaco, que não dava cavaco porque nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, resolveu arranjar uns amiguinhos para o "bicho", que já estava gordo e cansado. Surgiram assim as Parcerias Público-Privadas, amigas do "bicho" e de outros "bichos", mas com dono diferente, mais independentes, tipo gatos, e lá cresceram todos lado a lado. Começaram bem e depressa a crescer. Mas, rapidamente as PPP's se aperceberam que o "bicho" se tornava lento e senil, vai daí, começam a resvalar no preço das facturas (a Ponte Vasco da Gama custou ao Estado mais 400 milhões de euros que o previsto e a travessia de comboio na Ponte 25 de Abril mais 114 milhões), isto no tempo do dono do betão e do "bicho" entre 1985 e 1995.
De seguida, e porque o "bicho" ainda não estava gordo o suficiente, mas já ameaçava a saturação da comida que era sempre a mesma e que já não podia pagar, eis que aparecem as Empresas Municipais. Era necessário que os filhotes do "bicho" crescessem saudáveis e fortes, e assim foi.
O "bicho" muda de dono várias vezes, até que aparece um, com nome de filósofo grego, que veio para ficar, até tentou e de certa forma conseguiu que o "bicho" fizesse uma dieta, mas foi sol de pouca dura, os cães e os gatos, os sem dono, criaram o arqui-rival do "bicho", ..., apareceu a "crise".
A crise é rápida e eficaz, e o "bicho", mais os amigos e os filhos, gordos e viciados, já não se conseguem defender, e só ajudam a crise a instalar-se.
O dono nem quer acreditar, e com vergonha do que digam do "bicho" ao vê-lo passar na rua, esconde-o por tempo indeterminado do Profeta do Apocalipse, Medina Carreira, ele que ajudou o "bicho" a engordar, mas desconfia que já não se pode alimentá-lo mais. O "bicho" aparece tarde demais para uma dieta forçada e exigente, antes que se tenham que contratar peritos ao estrangeiro que o venham treinar a combater a crise. Entretanto, milhões de portugueses vivem à custa do "bicho" durante anos, mesmo sem hipóteses de o alimentar, e os amigos e os filhos do "bicho" já não conseguem sobreviver sozinhos.
A factura está a ser paga agora e assim será no futuro, só no caso das PPP's há 50 mil milhões de euros a pagar até 2049. A China e os europeus já não são amigos do "bicho" e já só lhe emprestam dinheiro com juros elevados, e se o orçamento de dieta não for aprovado, o "bicho"vai ser treinado por outros (FMI incluído), que não querem saber dos amigos, dos filhos, e muito menos dos sacrifícios dos portugueses. Vai ser muito pior. É por isso que sei que o orçamento vai ser aprovado, mau-grado para P. Coelho que só pode ter eleições em Maio, e que as queria para agora, ou para um dia destes.
Façam este exercício, P. Coelho não aprova o orçamento, o Governo cai e tem que se pedir dinheiro ao Fundo Europeu recém criado, detido em 30% pelo FMI. Em dois meses, P. Coelho é obrigado a votar a favor na A.R., medidas impostas pela europa muito mais gravosas do que as que constam no orçamento.
Entretanto, brinca com o orçamento de dieta do "bicho", e a culpa do estado de coisas que não é dele, quase parece que é.
Em 36 anos de democracia, todos alimentaram o "bicho", todos viveram acima das possibilidades, todos se aproveitaram de todos, banqueiros, empresários, políticos, gestores. A culpa é de todos, mas a responsabilidade é do dono. E o dono actual escondeu o "bicho" até darem conta da sua falta. Se calhar com um orçamento zero, comprando um novo "bicho" a coisa melhorava.
Desculpem-me se abusei do "bicho" e se já não puderem ouvir falar dele.

P.S. - Congratulo-me pela "minha" Escola Secundária Fernão de Magalhães de Chaves, ser a 28ª do país no ranking de escolas, e a 6ª a nível nacional das escolas públicas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Seria importante sobrepores sobre este gráfico aquele a que se refere a despesa correspondente que hoje nos coloca neste sufoco.
Sem querer desresponsabilizar quem quer que seja, é importante o que alimentou o bicho. Num altura ele comeu bem, do bom e do melhor porque os seus responsáveis tinham dinheiro para comprar essas coisas.
O problema é que ele continuou a comer do bom e do melhor já quando não existia dinheiro para essas coisas. E nesse capítulo não são 3 ou 4 anos PSD os responsáveis principais. Têm a sua parte porque também não o obrigaram à dieta que deviam..


Enfim.. Grande folhetim tipicamente português.. Isto ainda vai virar revista à portuguesa.

N. Palas