terça-feira, 12 de outubro de 2010

Orçamento e Bom-Senso vs Orgulho e Preconceito

O orçamento de Estado para 2011 ficará na história portuguesa ao mesmo nível do orçamento do "queijo limiano". Se estão recordados, Guterres com um governo minoritário, mais forte (115-115) é certo que o de Sócrates, "comprou" o seu orçamento de então a um deputado do CDS de Ponte de Lima, a troco de meia dúzia de promoções do dito queijo e investimentos no concelho do senhor deputado, que mais tarde seria eleito Presidente da Câmara sem o apoio de qualquer partido. E, não se pode criticar a sua atitude (do deputado), pois se do ponto de vista político foi um golpe no seu partido e carreira política, do ponto de vista dos interesses do seu concelho foi um feito de que poucos deputados se orgulharão (a maioria pertence aos alinhados que pensam pela cabeça do chefe).
Assim sendo, Passos Coelho tenta trocar a aprovação deste orçamento, pela aprovação de mudanças constitucionais, não perdendo assim toda a margem de manobra que já perdeu e que adiante se referirá...
Ora, como o PS não foi de modas na aprovação de uma revisão Constitucional, que aqui já apelidei de neo-liberal e atentatória do Estado Social, evolução civilizacional mais importante do último século, Passos Coelho e o PSD, decidiram fazer chantagem política com o PS, relativamente ao orçamento de Estado. Não me iludem, com a crise, com o aumento de impostos, nem com o défice, nem com a recessão. O PSD só quer forçar um entendimento para a aprovação da sua extemporânea e mal calculada revisão Constitucional, que lhe custou e está a custar a sua descolagem do PS nas sondagens.
Senão, o maior favor que Passos Coelho faria a Sócrates era chumbar o orçamento de Estado, porque, ao provocar uma crise política que iria exponenciar a crise económica, financeira e a ver vamos se não vai ser social, não se livraria da imagem de lobo mau e revanchista, que se aproveitou da crise numa tentativa de chegar ao poder. E, isso, a acontecer, não lhe garantirá nunca a sua eleição para Primeiro-Ministro, ainda que contra o "gasto", mas preserverante e corajoso Sócrates. Mais, a ganhar as eleições, tenho sérias dúvidas, para não dizer certezas, que as ganharia com maioria.
Ora, o que faz Passos Coelho? Alimenta um tabu de aprova, não aprova orçamento, que conduzirá a que fique ligado ao orçamento, por muito mau que seja. Aliás, Passos Coelho, deu um tiro no pé ao dizer que jamais aprovaria um orçamento que conduzisse ao aumento de impostos, quando toda a gente sabe que no final o irá aprovar por abstenção. Vai pedir desculpa outra vez? Passos Coelho é mau jogador e com este tabu só alimenta as famigeradas agências de rating (que são escandalosas na pressão e especulação que criam - ainda ninguém se pronunciou sobre a sua legalidade/admissibilidade/credibilidade!?).
Ora, aprovando o orçamento, porque pressionado por toda a gente, desde Cavaco, até ao mais leigo dos leais militantes ansiosos por poder e temerosos de serem excluídos das listas do chefe, Passos Coelho dá o dito por não dito, aprova um orçamento que aumenta impostos, mas que está provado, por qualquer opinion maker/colunista com licenciatura em economia, ser necessário. E Passos Coelho pede desculpa outra vez aos portugueses? Porque não apresenta propostas? Porque introduziu a revisão Constitucional no programa, se está mais que visto, que há mais com que nos preocuparmos? Joga mal Passos Coelho, e pode custar ainda mais caro ao país... Aprovando, não aprovando, ou neste já enervante aprova-não aprova, Passos Coelho sai sempre a perder.
Não quero aqui também desculpabilizar o Governo, que não tendo culpa da crise mundial de especuladores, banqueiros egoístas e oportunistas bolsistas, que custou ao Estado português a nacionalização do BPN e quase do BPP, a primeira fundamental para a estabilidade dos mercados, também tem, como não podia deixar de ser, a sua quota de responsabilidade, quer no aumento da despesa pública quer do défice. Mas que, também não tem culpa de ter que pagar dois submarinos para a nossa futura entrada em guerra com os espanhóis e com os muçulmanos.
Continuo a ser da opinião, que em tempos de crise, se deve investir mais, cabendo ao Estado tomar as rédeas desse investimento público e regulando aquela dos mercados e da sua "mão invisível", só que chegamos a um ponto tal de ruptura em que esse investimento já não é possível, e que não será nenhum Passos Coelho a resolver nos próximos cinco anos. Também sou da opinião que a Portugal não virá o FMI e estou sinceramente convencido que não iremos entrar em recessão, a não ser que Passos Coelho durma bem antes do debate de aprovação do orçamento na AR.
Tenho a opinião (provada recentemente), de que o Estado é fundamental à regulação dos mercados e da economia, mas também acho que o seu emagrecimento, bem como o dos salários dos seus gestores milionários, é por estas alturas fulcral. Os números: 356 institutos públicos dependentes de Ministérios (mais de 20 por Ministério!); 639 fundações; 343 empresas municipais; 95 empresas públicas centrais; 87 parcerias público-privadas; 4560 administradores com boas despesas de representação.
Podiam desaperecer muitas, podiam fundir-se outras tantas, podiam cortar nas despesas e salários ridículos dos administradores e podiam fazer uma REGIONALIZAÇÃO em condições, suprimindo autarquias com 1300 habitantes, juntas de freguesia com 300 e por aí fora...haja vontade, coragem e sobretudo bom-senso.

6 comentários:

Anónimo disse...

Custa-me perceber o forma de pensar de alguns;
Custa-me perceber como se seguem mentirosos, com vidas obscuras e cheios de casos lamacentos de forma quase extrema;
Custa-me ver como se alteram culpados;
Custa-me ver como se usam apenas certas partes dos discurso de economistas;
Custa-me perceber como é que a despesa aumenta;
Custa-me perceber a culpa dos submarinos;
Custa-me perceber como por esta altura, se fundos de pensões o défice é o mesmo do ano passado;
Custa-me ouvir falar em jogos políticos numa questão de desígnio nacional;
Custa-me perceber a impunidade judicial;
Mas preferia ser governado por um analfabeto do que por um licenciado de domingo. A falta de honestidade trará cá o FMI.

Anónimo disse...

Malha menos no PSD, diga-se que o fazes com alguma razão, e malha também objectivamente nos da tua cor.Proponho-te um tema, a análise à realidade da saúde em Chaves e a "factura" que nos estão obrigar a pagar os senhores de Vila Real delapidando o nosso hospital por guerras políticas.
Nuno Filipe

Rogério Amorim Moura disse...

Obrigado a todos pelo contributo...o meu desígnio era mesmo este...por norma não comento comentários, mas quanto ao primeiro e por ser anónimo, e por entender merecer uma resposta, sou de dizer que também me custa muito ver muita coisa, por isso é que as tento denunciar aqui, agora a minha opinião é a minha opinião, tem uns óculos rosa ou azuis conforme a situação, e não abdico dela...por isso é que se debatem ideias e ideais.
Quanto a casos de justiça que foram arquivados/ilibados/não provados, obviamente não comento.
Custa-me perceber como é que alguém é sempre culpado até prova em contrário quando o princípio é outro, porque senão, e obviamente estamos a falar de Sócrates, teriamos aqui nomes como Isaltino Morais, Duarte Lima, Leonor Beleza, Zézé Beleza, Dias Loureiro, Valentim Loureiro, etc...todos inocentes, no meu entendimento, até prova em contrário...

Mário Barreira disse...

Parte do que dizes é verdade e acertado, pois tanto o Passos Coelho como o PSD tentam dar uma imagem de inteligência e desejo de resolver os problemas que não é bem explicada e no meu entender fraca em conteúdo, dai que se entre muitas vezes no campo do disparate como desde logo as sondagens provam.
Por outro lado, outras das tuas conclusões, deste ponto de vista que é o meu estão erradas porque partem de premissas truncadas, ou seja, é verdade que somos pobres mas temos tiques de novo riquismo é o caso dos submarinos, não estando em causa a sua necessidade (atendendo à dimensão da nossa zona económica exclusiva e a sua efectiva fiscalização subreptícia) mas sim a possibilidade de os comprar.
Outra premissa errada é pensar que o estado social que temos, que veja-se como se vir é fantástico, pode continuar a existir deste modo. O bem dinheiro é absolutamente finito, como tal têm que ser gasto da melhor maneira posível, quero dizer com isto que o estado têm que emagrecer em muitas coisas, mas não é na saúde, ou nas prestações sociais, estas têm que continuar a ser atribuídas, agora o estado têm é que fazer uma fiscalização rigorosa, coisa que nunca fez, muito menos nos últimos anos, bem como nos institutos, fundações e afins que em grande parte só servem para empregar os boys dos aparelhos partidários, que vão saltando de cadeira em cadeira conforme muda a cor.
Sócrates, é responsável pelo bom e pelo mau. A verdade é que é corajoso em algumas situções mas em muitas outras é teimoso e intransigente, e ainda não entendeu que já não têm maioria e que têm que negociar. A quem governa cabe dar o primeiro passo para o entendendimento e não tentar passar para os outros a responsabilidade das dificuldades.

Mário Barreira disse...

Quanto à crise a culpa é de todos e não só dos bancos ou dos especuladores, ou seja, nesta decáda e na anterior, a generalidade dos países procurou o pleno emprego, opção acertada, mas para tal foi obrigatório um aumento brutal do consumo e da despesa, sem que os salários tenham acompanhado essa evolução, como tal incentivou-se o crédito, partindo do princípio de que os juros se manteriam baixos e o crescimento se manteria, sucede que em 2001 com a entrada da China em pleno no comércio mundial, as fábricas dos países desenvolvidos começaram a ter cada vez menos encomendas, dando-se início ao movimento do aumento do desemprego, que depois se arrastou tipo bola de neve aos outros sectores, ora os particulares e as empresas deixaram de poder cumprir pontualmente os seus compromissos com a banca e assim sucessivamente até ao momento em que vivemos, passa-se de bestial a besta num ápice, pois todos elogiavam os bancos naquela primeira fase e agora são o diabo. Claro está que houve muita malandro que enriqueceu, mas a verdade é que as legislações dos estados não o impediram, um exemplo, o negócio da venda a descoberto - short selling, este negócio que foi responsável e ainda é por muitos dos problemas das bolsas ainda é permitido quase sem restrições, e a culpa é dos governos que não o proíbem. Como tal a culpa é de todos nos que queremos melhores condições de vida, melhores casas, melhores carros, mais férias, sem que efectivamente tenhamos dinheiro para tal.
Por último, tenho uma forte convicção que tudo se resolverá pelo melhor e historicamente sempre assim foi, mas muita coisa têm que mudar a começar pelas mentalidades, e a terminar no estado social, pois se nós temos todas esta regalias, a verdade é que os nossos filhos dificilmente as terão se as coisas continuarem assim.

Anónimo disse...

esse anónimo só o é porque se esqueceu de assinar.

Nuno Palas