quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As cinzas do dia

O céu negro anuncia trovoada, mas não é de trovoada que se trata. É fumo negro, que, nebuloso, se abate sobre a cidade. Chovem cinzas! As cinzas da minha terra... A lua avermelhada e incandescente parece sangrar a terra que arde.
Os pirómanos, dizem, são na sua esmagadora maioria, alcoólicos anónimos, débeis mentais, desempregados depressivos ou indigentes.
As investigações a isso conduzem, os interrogatórios assim o ditam, os julgamentos assim determinam. Esquecem sempre é o porquê das coisas. No processo penal urge encontrar os culpados de tão alarmante crime. Nos meandros perde-se o porquê. E na esmagadora maioria dos casos, o porquê está nas entrelinhas, nos pormenores e na falta de tempo da justiça, cada vez mais pressionada, vasculhada e criticada. O tempo da justiça não é, nem pode ser, o tempo da opinião pública, mas no mundo global em que vivemos, em que a informação e a sede de retribuição, ainda que popular e populista se sobrepõe ao bem comum, em troca dos bens pessoais, a justiça não dispõe de meios nem do senso que aprofunde as questões. Os meios não permitem uma justiça célere que permita uma célere justiça... A opinião pública exige linchamentos, quanto mais mediáticos melhor, e pelo meio, as circunstâncias vão-se perdendo, em nome da justiça.
Isto para dizer, que a razão principal para os pirómanos serem quem e como são, como acima referi, reside na sua condição de alvos fáceis de manipular, e para quem 50 euros para pegar fogo a uma mata pode representar uma semana de desafogo. Os principais culpados são os mandantes, seres mesquinhos e gananciosos, que encaram tudo e todos como um obstáculo, e não olham a meios para atingir os seus fins. O aproveitamento das fraquezas dos outros já por si, diria tudo de um qualquer individuo, mas a sua avidez sem limites, e desprezo pelas consequências que todos conhecemos torna-os no mais desprezível que pode haver num ser humano.
A investigação, o processo e a condenação perde-se na espuma dos dias. Oferecer condenados ao povo é tudo o que realmente interessa. Não querendo com isto deixar de responsabilizar quem directamente põe em perigo e ameaça bens e pessoas, transformando com o seu ato uma paisagem verdejante num inferno, apenas quero deixar um alerta para quem realmente são os principais responsáveis por um dos maiores crimes a que assistimos todos os dias no Verão.
Já agora, vale a pena pensar nisto: em vez de pagar milhares de milhões a ladrões de bancos, como no BPN, BPP, Banif e afins, não seria melhor profissionalizar de vez e em condições o corpo de bombeiros nacional, dando-lhes efectivamente meios aéreos e humanos para o combate heróico que travam todos os dias? Em chamas ou inundações, acidentes e transporte de doentes? Quantos mais terão que morrer em nome da estupidez e da ganância dos seus pares? Em vez de ter que pedinchar meios aéreos a Espanha ou a França?
O meu louvor e todo o respeito aos verdadeiros heróis, os bombeiros!!!

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