terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Solidariedade Nacional e Coesão Europeia

Já aqui escrevi no último artigo sobre a falta de solidariedade e de coesão nacional que representava a medida de Carlos César de compensar os cortes salariais nos Açores. Também me insurgi contra a falta de ética que representa a existência de um sindicato que represente os Magistrados do Ministério Público e os Juízes, como órgão de soberania e um dos pilares da democracia que são. E para me dar razão, vieram agora os sindicatos do M.P. e dos Juízes anunciar que vão dar entrada em tribunal de acções para travar os cortes salariais. Ora, em última análise, quem julga essas acções são os juízes, fazendo-o assim em causa própria. Mais um exemplo do país solidário e de valores que somos. Não adianta nada a luta contra a crise, com estes portuguesinhos de  terceira. Só espero a entrada do FMI, para que de uma vez por todas este povo ingovernável saiba que o seu voto não adianta de nada porque quem manda é Bruxelas do eixo Franco-Alemão, que de solidário também não tem nada. E então sim, quando os cortes salariais forem de 10% a 20%, quando finalmente os patrões puderem despedir sem justa causa e sem indemnização, com o consequente maior desemprego, talvez  assim andemos de sorriso aberto na rua.
E volta a questão incontornável: como é que os mercados, agências de rating, bancos e afins, responsáveis pela crise, são os mesmos que ditam as regras e tomam as rédeas da suposta recuperação económica e financeira?
Como é que as agências de rating que aconselhavam a comprar créditos incobráveis, que sem quaisquer escrúpulos valorizavam os 'activos tóxicos' dos bancos, e quanto mais o fizessem mais destes recebiam, são agora as mesmas que valorizam ou não as dívidas soberanas dos Estados? Como é que a União Europeia permite que três agências de notação americanas, regulem o mercado e as dívidas europeias?
É simples, a França a reboque da Alemanha, pretendem salvar o coiro, ainda que isso implique a implosão de um ou dois países europeus, ou mesmo de toda a União Europeia. A moeda única sem a união política e sem a coesão que também vai faltando em Portugal, aliadas à crise de valores e de lideranças fortes e corajosas, está a levar ao colo a China não democrática, mas agora capitalista e sem qualquer respeito pelos direitos humanos. Aliás, a mão-de-obra barata chinesa, contrastante com a subida exponencial e pouco criteriosa dos salários da zona euro e em especial de Portugal ao longo dos anos, permite à China neste momento comprar ao desbarato os países da desmembrada União Europeia, comprando o seu silêncio na luta por valores democráticos e de respeito pelos direitos humanos. Os abutres que controlam os mercados continuam a viver á custa dos milhões de contribuintes e de desempregados, á custa dos Estados que permitiram a sua desregulação e agora não têm alternativa a não ser obedecer ao capital e a quem o controla. A crise de ética e de valores veio para ficar, mais tempo que a crise económica e financeira. A ganância capitalista atropela tudo e todos e nós deixamos. A União Europeia perdeu o rumo, e ao mínimo sinal de crise, acabou-se a solidariedade entre estados, o estado-social europeu foi trocado pelo salve-se quem puder, e quem pode salvar-se mandou à fava a integração e os valores sociais que faziam a diferença na Europa. 
2010 foi o ano em que ficou provado que os mercados devem ser regulados pelos Estados, um sem o outro não podem existir, a virtude está no meio.
2011 é o ano em que, ou sabemos o que queremos, ou seremos engolidos pelos charlatães e pelas burlas de mão branca.
Portugal e a Europa precisam mais do que nunca de coesão, solidariedade e  de uma sociedade a rumar para o mesmo lado, separando o trigo e regulando o joio. Precisa de saber quais os seus valores, os que quer seguir, e que com certeza não são os valores da China, da Moody's, da Fitch, da Standard & Poor's, da Goldman Sachs, de Merkel, de Sarkozy e dos mercados capitalistas, gananciosos e desregulados.

2 comentários:

Marco disse...

Concordo em absoluto! Somos um país triste, um país de espertos que têm a mania que são inteligentes e que nada fazem mas tudo tentam controlar. Enfim...

anti burla disse...

Há alguns meses, em Maputo, o povo revoltou-se nas ruas (com alguns exageros, é certo) e as medidas governamentais injustas e desproporcionadas foram imediatamente retiradas. Por cá, temos um candidato a Presidente da República (Cavaco Silva) que lembrou que os portugueses outrora dominados pelo Reino vizinho souberam não se resignar e recuperar a independência (vejam bem onde ele recuou para encontrar uma manifestação de verdadeiro inconformismo. É tudo aquilo que ele não inspira).

Conformismo e submissão: duas das características que ensombram cronicamente o nosso povo.
Venha lá, então, o FMI e os “filhos de Maputo” e levantem isto de pernas para o ar, já que parece não existir outra forma de mudar para melhor.

(Como é que se classifica um país onde os seus juízes fazem figurar nos seus próprios estatutos qual o titulo pelo qual devem ser designados - Excelentíssimo, Meritíssimo, Venerando !!!? (Já agora, os juízes não são um órgão de soberania; Os tribunais, sim (art.º 202º, CRP). Acresce que os tribunais não são os juízes, assim como os padres não são a igreja. E o Tribunal não é o edifício onde os respectivos serviços estão instalados, essa é a “Casa da Justiça” «Domus iustitiae», da mesma forma que a Igreja não é o espaço físico onde se realizam as eucaristias. Isso é um templo. Os Tribunais são “Assembleias” que se formam pelas partes, pelo juiz, que preside aos respectivos, e pelo escrivão, que os regista. É por estas e por outras que os juízes estão convencidos de um poder ilimitado, o que não têm.)
João Soares de Almeida