quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Silly Season


Finalmente acabou a silly season... O país foi a banhos e as florestas arderam, a política afogou-se em questiúnculas constitucionais, a justiça ficou em casa e nem o sol viu, o PGR diz que é a rainha de Inglaterra, o processo Casa Pia está adiado sine die, seguir-se-ão mais recursos, o processo Freeport originou uma guerra entre os sindicatos de juízes e do Ministério Público, e no futebol as férias foram um pesadelo, quer para a FPF, quer para Carlos Queiroz, quer para a selecção, e last but not least, para o Benfica do mal amado Roberto.
Está tudo interligado, senão reparem: a chamada silly season começou com o mundial de futebol; e muito bem, o país tem que se entreter com alguma coisa, quando põe o carro em ponto morto e se começa a pensar nas férias.  Até nem correu mal o mundial. A selecção empatou a zero com Brasil e Costa do Marfim - duas boas selecções - e deu sete ao Grande Líder Coreano, apurou-se para os oitavos e foi eliminada pelo Campeão do Mundo (não me lembro quem foi), que despachou a Alemanha e a Holanda pelo mesmo resultado. À chegada ao país a FPF emitiu um comunicado em que se dizia satisfeita com a prestação da selecção e do seleccionador, só que se esqueceu dum pequeno pormenor, esqueceu-se de abrir um processo disciplinar a Queiroz por factos passados dois meses antes, ou seja, antes do Mundial?!?!? E então no jogo do empurra e em nome do linchamento público do seleccionador, a ADOP (Autoridade para o Doping) resolveu avocar a si o problema e castigar o pobre Queiroz com seis meses de suspensão, por factos de que tinha sido ilibado pelo Conselho de Justiça da Federação. E, com todo o direito, sentindo-se desonrado, lá vai Queiroz recorrer para o Tribunal Arbitral de Desporto, e toda a europa vai ficar a saber que em Portugal se trabalha bem nas férias, a bem da candidatura ao Mundial de 2018/22. Não é por acaso que foi retirada a utilidade pública à FPF! Um caso de justiça.
Entretanto o país arde!
O processo Freeport deu em peixeirada, todos querem mandar, e ninguém se entende. Quando é que acabam com os sindicatos do M.P. e dos juízes? Desde quando é que órgãos de soberania podem ou devem ter sindicatos? Os senhores procuradores do processo resolveram arquivar o processo em relação ao primeiro-ministro, e depois põem no despacho de acusação umas perguntas que lhe queriam ter feito mas não tiveram tempo, em dois anos de inquérito? Caso único em Portugal, é o mesmo que dizer a uma criança: "-Não fizeste nada mas vais levar sermão..." A procuradora Cândida Almeida negociou com os procuradores do processo esta solução, para que estes encerrassem o inquérito no mais curto prazo possível, não deu cavaco a ninguém, e o PGR diz que tem os poderes da Rainha de Inglaterra, ou seja nenhuns. É mentira...tem poderes e não são poucos. Podia ter mais? Podia. Sabe utilizar os que tem? NÃO!
O sindicato que não devia existir meteu-se ao barulho, sacudiu a água do capote para os juízes e o sindicato destes que também não devia existir vem medir forças com aquele. Mais um caso de justiça, e o país continua a arder!
Entretanto, a política resolve mostrar-nos um filme de verão, daqueles ao ar livre, em que as pessoas vão olhando mas sem grande interesse, com argumento de Passos Coelho. O problema é que o argumento é inspirado nos filmes de David Lynch, ninguém o percebe, e nem o argumentista consegue explicá-lo, o que fez soar o alarme de perigo de incêndio no estado social...ataques e contra-ataques daqui e dali, o entretenimento até nem foi mau, só que o país continua a arder!
Tudo casos de justiça que não funciona ou que funciona mal...mas isso já é outra história...

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