quinta-feira, 23 de abril de 2020

Abril com covid

Tem causado muita polémica a celebração do 25 de Abril pela Assembleia da República. É certo que vivemos tempos excecionais, fruto de uma pandemia que nos tem imposto grandes limitações, nomeadamente em termos de circulação e associação, e que nos obriga a rotinas que não eram de todo as que estávamos habituados.
Mas nunca foi tão importante celebrar o 25 de abril. O símbolo da nossa democracia é o Parlamento e é no 25 de abril que se funda a sua própria legitimidade. Ali se aprovou a Constituição em 1976 e mais recentemente o estado de emergência, o primeiro em democracia. Fazem bem os deputados em não ceder às polémicas do momento, mesmo que fosse esse o caminho mais fácil. Aliás, só 11 deputados votaram contra as celebrações deste ano do 25 de abril, CDS, PAN, IL e CHEGA, e não haja dúvidas, por simples revanchismo e acerto de contas. 
A direita portuguesa, excluindo o PSD, aproveita este tempo de exceção para tentar impedir que o 25 de Abril seja celebrado na Assembleia da República. É uma posição muito fácil de defender perante uma sociedade alarmada. 
O 25 de Abril vai ser celebrado na Assembleia da República, casa da democracia e assim deve ser. O facto é que o Parlamento não suspendeu os trabalhos e tem-se lá reunido todas as semanas para discutir, por exemplo, o estado de emergência. O Parlamento esteve em funcionamento diário, com funcionários, comissões e plenários, durante todo este tempo. Seria estranho que o Parlamento pudesse funcionar todos os dias, como funcionou, e o plenário pudesse reunir para votar várias vezes o estado de emergência, e só não pudesse funcionar no dia 25 de abril. Não se percebe porque poderão haver trabalhos no dia 24 e no dia 25 não, porque não estamos a falar de uma festa. Estamos a falar de trabalho. Teria que fechar obrigatoriamente no 25 de abril quando está aberto nos outros dias todos? Não vai haver a habitual parada militar, não vai haver champanhe, não há desfile, não vai haver almoçarada e com as devidas precauções e com menos gente no hemiciclo (menos de 100 ao contrário das habituais 700), a celebração terá a dignidade que se lhe exige e não contrariará qualquer indicação da DGS. 
Pessoalmente, quero que os meus representantes celebrem condignamente o 25 de abril. Já não concordo com o que os sindicatos estão a preparar para o 1º de maio. Isso sim, é irresponsável, e espero que não seja permitido. 
Não uso de maniqueísmo apelidando de fascista quem não concorde com as celebrações, mas os argumentos atá agora utilizados no meu entender não são válidos. A saber e só para citar os mais utilizados: os funerais têm restrições de pessoas; se um familiar de um deputado falecer, o funeral tem os mesmos constrangimentos que outro qualquer. Não se celebrou a Páscoa como é costume; celebrou-se a Páscoa com as restrições de circulação e em casa de cada um, as celebrações da Páscoa são aos milhares por esse país fora, confundir com uma celebração na casa da democracia é demagógico e sem sentido. É um mau exemplo que se dá ao país; mau exemplo seria suspender a democracia, e esta não está suspensa. O país tem sido responsável, mesmo que se tratasse de um mau exemplo, no que não concedo, as pessoas quebrariam as regras propositadamente pondo em risco a sua saúde, porque os deputados até celebraram o 25 de abril? 
Hoje, mais do que nunca, é importante celebrar abril, porque a liberdade, seja por que circunstância for, nunca pode ser suspensa. 
E celebrar o 25 de abril, é também celebrar o Estado e as suas instituições, a escola pública e o SNS. Os tais que não deviam existir, que tanto são atacados, mas que na hora do aperto é para onde todos se viram. E que grandes trabalhos têm feito.


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