Eles andam por aí, mais do que se imaginaria, agora identificados numa
voz pela qual ansiavam e que lhes dá os motivos para espalhar o seu ódio contra
o regime. Uma horda boçal que não admite regras nem razões. À míngua de argumentos
e conhecimento, arrasam com ignorância tudo e todos, apontando o dedo a
qualquer falha do sistema sem nunca terem contribuído com nada que não seja o
bota-abaixo.
Mas o Chega
e a sua horda combatem-se com a falácia dos seus próprios argumentos, ou da falta
deles. É na política do populismo que se apanham as incoerências de quem está
disposto a tudo e ao seu contrário para ser eleito e tentar minar por dentro o
regime que o elegeu. Se uma das razões do voto é a insegurança social, exibe-se
o programa de que o Chega tem agora vergonha, onde se propõe a total
privatização do SNS e da Escola Pública, a desregulação laboral e a redução
drástica dos impostos para os ricos. O Chega que após ter eleito um deputado
andou a apagar e a emendar as incoerências do seu programa eleitoral. Se esse
voto é por causa do descrédito da política, confronta-se com a pensão vitalícia
que o porta-voz Sousa Lara recebia ou do candidato às europeias que é arguido
por alegada burla ao Estado.
Compreender as razões do voto na extrema-direita
é um grande passo para a poder combater, não lhe dando, no entanto, o palco que
não merece. As razões desse voto são variadas: o processo de globalização que,
tendo afastado a matriz social da ação política, expulsou milhões de cidadãos
da promessa de oportunidades de progresso; a crise financeira de 2008 com a
consequente retirada de poder aos Estados e uma
distribuição entre trabalho e capital cada vez mais desigual, o esmagamento das
classes médias, sem as quais a extrema-direita historicamente nunca vinga; e
uma crise de estadistas que tornou a manipulação muito mais fácil. Estamos a
falar de um novo tipo de extrema-direita, que hoje integra a agenda neoliberal da
elite económica e a que não é alheia uma comunicação social decadente, feita do
jornalismo do imediato e do direto.
Mas, mesmo
compreendendo as origens deste voto, a democracia não pode deixar de ser clara
nos limites que impõe. As democracias devem ser implacáveis sempre que estas
organizações tentem subverter as instituições do Estado, utilizem as forças de
segurança como escudo, ou usem, de forma anónima, as redes sociais para
espalhar o ódio e a difamação. A democracia e os seus intérpretes não podem
ceder à chantagem, populismo e manipulação. Armas de quem se aproveita do
desespero e da insatisfação, por vezes legítima, dos cidadãos, e a quem o
sistema não consegue dar resposta. Atuando neste domínio, o espaço para a
proliferação destes ‘bolsonaros’ fica reduzido. Quanto às redes socias, o
espaço é amplo para a libertinagem de expressão, e aí o combate faz-se com
desprezo, quase sempre.
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