sexta-feira, 12 de junho de 2015

Nova rota da TAP: Wall Street


Gordon Gekko, a personagem interpretada por Michael Douglas no filme de 1987 'Wall Street', era um impiedoso e ganancioso bilionário, cujo império tinha sido construído na lama do fervor capitalista. Gekko não olhava a meios para atingir fins, comprava empresas com dificuldades financeiras para depois as desmembrar e vender aos pedaços. À falta de escrúpulos juntava o desprezo pela ética, legalidade e moral. As empresas de que se desfazia, sempre com lucro, claro, eram muitas vezes empresas familiares e algumas com milhares de trabalhadores que iriam para o desemprego. Muitos da mesma família. Empresas baseadas no trabalho que tiveram dificuldade em adaptar-se ao novo sistema financeiro do lucro imediato a qualquer custo.
Esse retrato único dos anos 80, sempre com a visão assertiva de Oliver Stone, e impulsionado na era de Reagan e Thatcher, teve nos últimos anos o seu apogeu e ninguém parece importado com as consequências. Desemprego, emigração e pobreza.
Tudo isto para concluir, que tal como no filme, tive um dejá vu com a recente privatização da TAP. Ao que parece, um dos novos donos da TAP, o brasileiro-americano David Neeleman, é famoso por comprar companhias aéreas e depois desfazer-se delas com o lucro obtido após o seu desmembramento. Ao que tudo indica, o novo consórcio só é obrigado a manter as rotas e a sede em Portugal durante 10 anos. Entretanto, a chantagem que o governo veio fazendo com despedimentos caso a TAP não fosse vendida pode ser na mesma uma realidade a curto/médio prazo.
A TAP dava prejuízo. Dava. Mas e então o Estado português só encaixar 10 milhões de euros por uma empresa de aviação de bandeira é um bom negócio? E a nossa identidade? E as pessoas caramba? Por este andar, já só o chão que pisamos poderá ser considerado português... E nem todo...

P.S. - Aquela propagandazita meio salazarenta no Portugal dos Pequenitos, protagonizada por Passos Coelhito só pode mesmo ser um mito urbano...

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