sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A alternativa impõe-se

Uma constipação, por mais ligeira que seja, deixa-me sempre incapacitado, e sobretudo irritado por me sentir incapacitado, e assim por diante numa espiral recessiva e viciosa. A minha mulher costuma dizer-me que se tivesse que parir não tinha filhos. Tem razão. Mas não há nada a fazer. Tirei o dia de quarta-feira para curar toda uma ressaca de ranho e de nojo. Não contente, resolvi assistir em directo ao debate quinzenal com o primeiro Ministro na AR. Enquanto assoava o nariz de 2 em 2 minutos, montando inadvertidamente um castelo de lenços virulentos, registei algo irritado e amiúde as desconcertantes e confrangedoras intervenções de Seguro. Obviamente que se discutia o Orçamento de Estado para 2014. O maior atentado aos cidadãos portugueses de que há memória impunha uma oposição determinada e sobretudo consistente. Mantendo o 'brutal' aumento de impostos feito em 2013 o Orçamento para 2014 acrescenta ainda o aumento de imposto para veículos a gasóleo e no IMI. Mas principalmente o que está em questão são os cortes em salários e pensões. Desta vez a partir de uns inimagináveis 600 euros. Sempre aos funcionários públicos e aos pensionistas. Onde é mais fácil. Quando o TC chumbar algumas destas medidas, e não vale a pena hostilizar o TC, porque assim vai acontecer, outra vez, o plano 'B' do governo será o aumento de impostos. Até ao momento o governo tenta vender o 'brutal' corte na despesa. Posto como inevitável, esquecem até que um dos principais responsáveis pelos chumbos do TC até é, imagine-se, o próprio PR. Sim, Cavaco, tem alimentado consistentemente as dúvidas que envia a posteriori para o TC. O único erro é não o fazer numa fase preventiva.
Mas voltando ao debate, Seguro bem tentou fazer de forma directa e limitativa, perguntas de uma só resposta, a que Passos Coelho respondeu conforme quis, tendo até a veleidade de afirmar que a reforma do Estado começou há dois anos e meio, distinguindo de forma abusiva reforma e guião, aquele que Portas terá em mãos indefinidamente e irrevogavelmente. Atreveu-se ainda, de forma descontraída e totalmente despudorada a fazer alusões e acusações ao governo anterior, sem que Seguro, pouco seguro e confortável, receando o nome que estava por detrás, tivesse o ânimo de o confrontar com o chumbo de lesa-pátria e falacioso do PEC IV, sem o confrontar com as promessas demagógicas e de má-fé que se sucederam à consequente queda do governo de Sócrates. Passos Coelho chegou a afirmar que não sabia o que sucederia a Portugal num futuro próximo, menosprezando um possível programa cautelar, que como não quer explicar, mantém a aplicação das mesmas medidas de austeridade, apenas com a ajuda 'assistida' da tão ansiada ida ao mercado. À pergunta de Seguro sobre o falhanço do défice, o primeiro Ministro ardilosamente referiu-se ao défice primário, ignorando o que estava em questão, e que são as metas do défice orçamental. Seguro deixou que assim ficasse e manteve a sua linha de ataque pessoalizado, sem fundo e vulgar, num discurso martelado como se tivesse sido memorizado. As respostas e perguntas memorizadas de Seguro não tiveram assim margem de manobra e golpe de cintura para contornar a estratégia de contra-ataque de Passos Coelho. A prova disso é que ao desafio de Passos para que a oposição nomeasse algumas medidas alternativas, Seguro refugiou-se e remeteu para um alegado documento que já teria enviado ao primeiro Ministro. Passos ripostou de imediato dizendo que não o conhecia e que nunca lhe foi entregue, e que as medidas que conhecia só aumentavam despesa. A resposta óbvia de quem não quer discutir coisa nenhuma. O problema foi que Seguro não nomeou uma única medida alternativa, nem desmentiu a teoria. Para quem não as conhece, fica com a dúvida de que assim será. Pelo menos a descida do IVA na restauração era óbvia, a tal que Pires de Lima e Portas não conseguiram aplicar por suposta imposição da troika, e que se sabe ser uma falácia imposta por Maria Luís Albuquerque.
Após tanto ranho, percebi porque é que o PS não tem maioria nas sondagens, assistindo-se até à quebra de intenção de voto. É porque o país não vê em Seguro uma alternativa.

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