segunda-feira, 13 de maio de 2013

Às Portas do inferno

Paulo Portas tem qualidades indesmentíveis. É um sobrevivente, domina como poucos o discurso, ou se quiserem a narrativa política e é inteligente. No entanto, padece de um mal que lhe é intrínseco e tem um defeito enorme. Num caso é a deslealdade e o oportunismo eleitoralista, no outro é o populismo.
Numa coligação de governo, em que os dois líderes dos partidos que a compõem se digladiam no espaço mediático, Portas sai sempre em defesa dos visados pelas medidas mais impopulares do governo. Os de sempre, pensionistas e funcionários públicos. O discurso em que aparece o polícia bom e quase sempre se confunde com o líder da oposição é uma diversão populista e uma manobra eleitoralista. Como se percebeu quando dias depois meteu o rabo entre as pernas e a "fronteira que não podia ultrapassar" ficou mais ténue e mais receptiva ao contrabando. Gaspar apresenta a medida em Bruxelas, o CDS diz que não é para aplicar.???
Um governo a duas vozes, num jogo duplo malicioso, em que se joga com as vidas de milhões, é pernicioso e maquiavélico, com o alto patrocínio do Presidente da República, que convocou o Conselho de Estado a pedido de Marques Mendes, supostamente para discutir o pós troika (em linguagem cibernética : LOL).
Portas por mero jogo político e de manutenção do poder engoliu um sapo do tamanho da TSU, Portas assim assumiu que só tem um poder e que é romper a coligação, de resto não é ele que governa. Nem sequer tem voz que possa sobrepor-se ao n.º 2 do governo, como disse Passos Coelho, e que é Gaspar. A reforma do Estado, incumbida a Portas não passa daquilo que já se sabia. A nova vaga de assaltos já está em marcha. Mas sempre com a inconstitucionalidade a pairar no ar.  No caso a possível retroactividade dos cortes nas pensões. Afinal é o que este governo sabe fazer. Pôr em causa os direitos e as garantias, garantidas (passo a redundância) pela Constituição e cortar nas gorduras do Estado, que agora sabemos que são os pensionistas e os funcionários públicos. O despedimento de 50.000 funcionários públicos chantageados, outro predicado deste governo. Ou aceitam a indemnização ou vão para  a mobilidade especial, uma espécie de purgatório antes da estocada final e pontapé para o fundo do poço, dizem que agora, se calhar, com direito a subsídio de desemprego. É esta a reforma do Estado, que cuja redução da administração pública pode pôr em xeque o seu funcionamento, como avisa o relatório da OCDE.
Entre as derivas populistas de Portas e a insensibilidade social de Passos e Gaspar o país empobrece, o Estado social e não só desaparece, o país desempregado emigra e recua 50 anos. As elites da finança, da banca, da troika, da UE agradecem e estão-se a marimbar, desde que o país pequenino e pobrezinho se reduza à sua insignificância e continue a pagar...

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