segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Serviçais para qualquer tourada

O filme "As serviçais" retrata um período negro (e negro encaixa aqui como uma luva) da história racista norte americana. Nos estados do sul (e ainda bem que foi o sul a perder a guerra civil), no caso, no Mississipi, a exclusão era um modo de vida. O filme, na minha opinião, o melhor do ano transato, para além de contar com interpretações fabulosas, resume em duas horas e de forma viril e sagaz toda uma geração e toda a vil cobardia humana, percorrendo o caminho da injustiça e da humilhação. A sensação que nos fica de impotência traduz na perfeição o sofrimento e a falta de liberdade infligida a seres humanos, sem que para tal tenham dado qualquer contributo, e cuja única diferença reside na tonalidade da pele.
Na África do Sul, o Apartheid foi a solução encontrada para não haver misturas, era assim como que um afastamento imposto. Uma segregação racial. Nas oportunidades, no modo de vida, na liberdade, no tratamento, na residência e na cidadania. Os resquícios ainda por lá perduram. Os mineiros assassinados pela polícia na semana passada eram negros. Entre a guerra civil norte americana e a passagem que o filme "As serviçais" relata, decorreu um século. Ainda não decorreram duas décadas sobre o fim do Apartheid. A igualdade a todos os níveis, racial, financeiro ou de oportunidades não existe no nosso planeta. Se errar é humano, também é humano errar de propósito. É por isso que a igualdade, a liberdade e a justiça são os valores supremos de qualquer individuo que se queira afirmar como humano. Os restantes é que deviam ser excluídos... E não pode haver tolerância para quem pense que a liberdade, a igualdade e a justiça não são para todos.
A história da humanidade está cheia de exemplos, e tende a repetir-se... o racismo, a exclusão, a intolerância e a ganância são tão antigas como o ser humano e vieram para ficar. Em todo o lado, desde a China ao Brasil, da América aos Balcãs, da Palestina ao Tibete, do Sudão à Síria, da África do Sul ao Irão, da Coreia do Norte à Rússia, da Grécia à Alemanha, passando por Portugal... e no bairro social por trás de nossa casa.
Os bandarilheiros, os toureiros e os cavaleiros, continuam a tourear a sua própria espécie... é uma tourada de nível mundial, em que sangram sempre os mesmos. Tirem-lhes os cavalos, a espada e a capa e obriguem-nos a pegar o touro mano a mano. Já!

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