terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tempos de glória

Ontem revi um filme que só tinha visto uma vez há muitos anos. Tem por título ‘Tempos de glória’, ‘Glory’ no original, e conta no elenco com nomes como Denzel Washington e Morgan Freeman. Data de 1989 e relata a integração dos negros no exército da União na guerra civil americana que ficou para a história como ‘guerra da secessão’. Sem querer desvendar muito do que é o filme para quem ainda não o viu, posso afirmar que é mais actual do que nunca. Como sabem, ou talvez não, a guerra civil americana foi no seu essencial uma questão de luta a favor (estados confederados do sul), ou contra (estados da união do norte) o racismo e a escravidão dos negros. A história nunca é assim tão simples, mas o essencial é isto. Tal como na II Grande Guerra, que teve na sua génese o domínio e o ódio raciais. Voltando ao filme, e isto é algo que se pode ver em qualquer trailer, os escravos negros do sul fogem para o norte, onde lutam por um lugar no exército da União em busca do orgulho e da glória de se poderem afirmar como homens na luta contra as injustiças e os crimes cometidos contra a sua raça, e que Abraham Lincoln – presidente americano da época - reconheceu como seres humanos livres e iguais. O resto já se sabe, após uma guerra fratricida, o norte venceu para bem da humanidade e dos princípios por que esta se deve reger. Se o sul tivesse ganho, num país que viria a tornar-se a maior potência do século XX, provavelmente, outros seriam os destinos do planeta. Os princípios que regeriam os EUA não seriam muito diferentes daqueles da Alemanha Hitleriana. E o mundo ganhou a II Grande Guerra porque os EUA a ganharam. O seu a seu dono. Não quero com isto dizer que toda a gente do sul dos EUA pensa ou pensava assim. Mas a grande maioria pensava. Basta ver alguns filmes do tipo de ‘E tudo o vento levou’ ou ‘Mississipi em chamas’, para sabermos quem tinha escravos, quem deles necessitava e onde nasceu e proliferou o Ku Klux Klan. 
A diferença residia na mestria e no génio do líder de então. Lincoln foi talvez o mais sábio e justo presidente norte americano. Aliando uma crença, saber e princípios inabaláveis, com uma inteligência acima da média soube capitalizar a injustiça sofrida pelos negros e transformá-la em 180.000 almas que deram a vida pela vitória dos princípios maiores do ser humano – a liberdade e a igualdade. Assim à época como noutras, esses princípios nasceram da Revolução Francesa de 1789 e influenciaram o que se seguiu na história da humanidade. Por sorte a humanidade contou com grandes líderes. Na II Grande Guerra, Churchill e Roosevelt. Só para lembrar tempos mais recentes, Gorbachev, Lech Walesa, Willy Brandt ou Helmut Kohl, entre outros...

E no século XXI?... Blair e Bush na guerra no Iraque e Afeganistão. Nos dias que correm, Sarkozy, Merkel, Barroso, Berlusconi e Obama, nobel da paz sem o ser, uma grande desilusão. Os homens fazem os líderes. Os líderes mudam a história. O mundo contemporâneo, de crises, ódios raciais e religiosos, fome, pobreza, exploração, egoísmos, liberalismos e libertinagem, de revoluções (algumas positivas como a primavera muçulmana), terroristas, extremistas e populistas, tiranos, ditadores, mafiosos, apostadores, especuladores e agiotas, chantagistas e corruptos, vai precisar de líderes. Os que temos são medíocres. Os próximos tempos vão precisar de homens de glória.

Na Noruega o exemplo é mais que conhecido, não se pode é cair no erro de tratar Breivik como louco, há muitos a pensar como ele, cada vez mais, e tratá-lo como louco seria menosprezar um movimento crescente e muito perigoso.
No Irão uma mulher, a quem um homem desfigurou e cegou com ácido sulfúrico, obteve uma ordem judicial (Lei de Talião, v.g. olho por olho, dente por dente) para poder fazer o mesmo ao seu agressor. Note-se que não era ela a executar a sentença. No momento final perdoou-o. Quantos de nós fariam o mesmo? Homens de glória ou mulheres de glória, o que importa é liderar pelo exemplo...

Por cá os exemplos de fraca liderança são pagar 500 milhões de euros para vender um banco do Estado (sim, pagar para vender!), mais as indemnizações a 800 trabalhadores que vêm para a rua, ou aumentar o número de administradores de outro banco para meter alguns boys, ou ter pressa no aumento de impostos extraordinários, e ser-se muito lento na tão apregoada redução da despesa. Definitivamente não vivemos tempos de glória.

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