quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Crónica de uma crise anunciada ou como o capitalismo tem o colarinho sujo

Bem podia ser a imagem da crise do capitalismo. Traduzindo o que se vê na imagem: 'Colarinho Branco - Para resolver os crimes mais difíceis, contrate o criminoso mais esperto'.
Na década de 1980, Reagan e Thatcher, a soldo dos interesses e dos favores, inventaram a desregulamentação dos bancos. O dogma capitalista tinha que ser desregulamentado em prol da ideia que os mercados são omniscientes e auto-reguladores. Que a sua 'mão invisível' é infalível. Como uma mola, as oportunidades para a fraude abrigavam-se na desregulamentação potenciadora de crimes. Primeiro os empréstimos 'predatórios' para as classes mais desfavorecidas da sociedade americana. Depois as fraudes com os produtos mutualistas dos bancos de investimento, os chamados 'activos tóxicos', sobrevalorizados pelas agências de rating, que já todos conhecemos, juízes em causa própria, assumindo sem pudor um conflito de interesses latente. O resto já se sabe. Milhares de casas, grande parte hipotecadas duas vezes!, foram devolvidas aos bancos por impossibilidade de pagamento dos respectivos empréstimos. A crise do 'subprime' devolveu aos bancos casas sobrevalorizadas, sem a liquidez que a falta de pagamento dos créditos acarretou. As seguradoras, que asseguravam o risco dos títulos 'falsos', com notações de AAA, abriram falência. A 'bolha' rebentou. Os bancos com ela. Quem lucrou? Os mesmos de sempre, os que pagam às agências de notação a sua actividade fraudulenta, ainda que legal neste sistema. Os mesmos que são assessores da Casa Branca. Os mesmos que usam o Estado para engordar os seus activos. Os mesmos que geriam esses bancos.
Este capitalismo, que se quer auto-regulado e liberal, e desregulamentado ao mesmo tempo, que  não depende dele próprio, do seu auto-funcionamento, mas antes dos estados e dos contribuintes que pagam com austeridade os juros dessas fraudes vai rebentar por dentro. Quando finalmente as pessoas se derem conta de quem puseram no poder, de quem lidera tributando o trabalho e não o capital, de quem aumenta impostos sem cortar despesa, de quem governa juntamente com o colarinho branco, - e não falo só de Portugal - , talvez a crise comece a acabar. Sabiam que alguns bancos norte americanos lavam dinheiro sujo dos cartéis da droga mexicanos como meio de obterem mais liquidez?; Sabiam que os maiores poluidores do planeta 'compram' organizações ecologistas para lavar a imagem?
Não quero com isto esconder o trabalho de casa mal feito. O aumento brutal de salários e de empréstimos, a despesa excessiva do Estado, o mau gerir da coisa pública, o atraso tecnológico que concorrendo com as economias emergentes arrasou as exportações. Tudo isso exponenciou a crise e pôs à sua mercê a solvabilidade dos próprios estados. Mas a crise não começou neles, tal como a que se avizinha.
Em alternativa, enterra-se a cabeça na areia, tapa-se o sol com a peneira, pagamos sem bufar o que nos pedem e o que nos 'roubam', e perante um desvio colossal nas contas públicas do Jardim, diz-se como ele, que a culpa é do Sócrates.
Enquanto Merkel e Sarkozy dão pontapés para a frente, como se fossem eles as instituições que não funcionam no seio da UE. As medidas ontem anunciadas são o fazer de conta que estão preocupados, preocupados que estão com as eleições internas dos seus países. O governo económico da UE a ser feito, será partilhado pelos dois (claro). A haver justiça levarão um chuto no traseiro. Lá e pelo caminho.

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