terça-feira, 7 de junho de 2011

Um memorando à medida

O Povo votou em massa no memorando da Troika (porque é esse que tem que ser executado), e mesmo à medida do programa do PSD, como o próprio Passos Coelho referiu. E bem. Se há coisa de que não se pode acusar o novo Primeiro-Ministro é de esconder o jogo, portanto, quem votou nele não poderá queixar-se mais tarde de ter sido enganado.
E Passos Coelho já avisou que o programa da Troika é curto (!) e o novo governo quer ir mais além. Desde as privatizações mais díspares e disparatadas como as Águas de Portugal, a RTP, a CGD, a REN, aos cortes de um terço no financiamento da saúde e na educação (pondo em causa o SNS, a Escola Pública e o próprio Estado Social - são milhões em caixa se os privados lhes puderem deitar uma mãozinha), desviando assim fundos para a recapitalização da banca, a drástica redução da taxa social única, destruindo a sustentabilidade da Segurança Social e o consequente aumento do IVA, até à redução dos salários e ao despedimento facilitado, tudo isto é o que aí vem - memorando da Troika mais programa do PSD. Não é de estranhar pois, o apoio em plena campanha do 'mecenas' Belmiro de Azevedo. Aliás, e uma vez mais afirmo, honra lhe seja feita, Passos Coelho não escondeu nada, muito do que está no seu programa, estava na sua proposta de revisão constitucional. Tenho pena que a campanha não esclarecesse nem discutisse nada disto. Foi contra isto que lutei, do alto da minha insignificância. Resta um consolo: a Constituição só pode ser alterada com dois terços de maioria no Parlamento.

Não há dúvida que estas eleições foram principalmente contra Sócrates. Eu compreendo, ele foi o rosto das dificuldades económicas e do pedido de ajuda externa... Aliás, nunca vi tanta gente desesperada, chegando mesmo ao insulto fácil, quando as sondagens davam um empate técnico entre PS e PSD, sem qualquer pudor ou respeito por opiniões alheias. Devo dizer que este novo tipo de sondagem diária foi fundamental na vitória do PSD. O voto contra Sócrates, transformou-se em voto útil no PSD. A viragem à esquerda do PS, em resposta à ultra liberal do PSD, capitalizou votos do suicida BE, o centro não estava ocupado por ninguém, o que não se via desde os tempos do PREC, e as massas que geralmente deambulam nesse espaço preferiram livrar-se de Sócrates.
Sócrates que cometeu um enorme erro, do discurso determinado, evoluiu para o determinista e irrealista, e daí para a teimosia. Foi enganado por Passos Coelho, que mentiu aquando do chumbo do PEC IV. Passos disse que iria chumbar o PEC IV porque não tinha sido informado de nada. Soube-se mais tarde que se reuniu com Sócrates no dia anterior... Passos tirou-lhe o tapete e Cavaco deu-lhe o último empurrão. Demitiu-se no passado domingo, num discurso sério e dignificante, para ele e para a democracia em Portugal. A história se encarregará de o julgar.

Estou muito curioso e apreensivo com o que aí vem, ao contrário dos apaniguados de Passos Coelho, que no dia das eleições diziam á boca cheia que no dia a seguir tudo iria ser melhor. Como se o FMI já cá não estivesse.
Ainda assim, desejo sorte a Passos Coelho, pelo bem do meu país.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu sou daqueles que acha que este país ficou livre de um dos piores primeiros-ministros de sempre, que fez tanta dívida em 6 anos como os anteriores em 30. Não é fácil.. imagino eu porque são ainda muitos milhões.. Livrou-se de um mentiroso compulsivo.
E também sou daqueles que, e peço desculpa pela expressão, punha em causa a sanidade mental de quem nele ainda votou. Na primeira eleição, compreendo, na segunda já víamos o nível de mentiras mas, pronto... mas na 3ª depois de tudo o que se passou!!???
Acabas é muito mal o artigo pois, se há mensagem que o PSD passou no dia das eleições, quer o PPC, quer outros comentadores do PSD foi a de que, nesse dia nada havia a comemorar, pois a situação é péssima. Mas sim, agora sim há esperança, infelizmente não há certezas, mas, há esperança.
Que, se não fosse este o desfecho, era o nosso anúncio de "Gréciazação" Portuguesa.
E aqui deixo o meu suspiro de dia 5.
UFA, acabou, temi o pior para Portugal.

Abraço,

N. Palas

marco disse...

Pela primeira vez concordo contigo na íntegra.
É só pena o momento e a circunstância.