Quando a democracia amolece, e surgem alguns focos
de corrupção, o caminho está aberto para a proliferação dos populismos. Os
populistas usam o medo, exploram o ódio e as notícias falsas (‘fake news’) para
os seus fins eleitoralistas e têm nas redes sociais um amplo campo de
divulgação, bem assim como nos jornalistas avençados protegidos por editores e
proprietários cujo único objetivo é o lucro e não dar notícias. Constroem uma
narrativa anti-sistema apoiada num discurso intolerante e nacionalista, aproveitando
momentos de fragilidade social nos respetivos países. E, muitas vezes sendo
estranhos à política, dela se servem para apregoar que dela nunca viveram.
Esquecendo-se que provêm da sociedade civil, tal como os políticos. A crise de
valores está no seu apogeu, e cresceu com os devaneios do neoliberalismo
desregulado. O sentimento de injustiça de lá para cá aumentou quando chamaram
muitos a pagar a ganância de uns poucos. Com o aumento das desigualdades e do
desemprego que a crise gerou, aliadas à moratória de ataque aos próprios
estados soberanos instalou-se nos povos um profundo sentimento de insegurança,
injustiça e impotência. Quando os líderes entregaram aos especuladores a
iniciativa de ‘castigar’ os estados e as pessoas pelos erros que aqueles tinham
cometido e pelo visto continuam a cometer, o espartilho apertou-se ainda mais.
As falsas promessas dizem ao povo o que ele quer
ouvir, mesmo que o que se diga seja xenófobo, racista e intolerante. Assim é
com Trump, que apesar de populista e extremista ainda não é um ditador. Assim é
com Bolsonaro, que ainda não sabemos se o irá ser, apesar de o ter dito. O voto
do Brasil não foi em Bolsonaro na sua maioria, foi, com a ajuda das ‘fake news’
pagas por elitistas que se movem no desprezo pela ética, um voto contra o
sistema e contra o PT de Haddad. Votar contra e não a favor é sempre um
exercício perigoso e espero que os brasileiros não se venham a arrepender.
Mas que não restem dúvidas, se a opção é por uma
democracia com mais ou menos defeitos, mas democracia, ou por um laivo sequer
de uma possível ditadura fascista, a minha caneta estará sempre do lado da
democracia, combatendo seja quem for que pense o contrário. E não, não é
tolerável que se aceite quem pense o contrário, apesar de o poderem fazer, como
só o pode fazer quem vive em democracia.
Venham de onde vierem, da Venezuela, do Brasil, da
Turquia ou da Coreia do Norte. Não há diálogo possível com extremistas,
ditadores, xenófobos ou racistas. Mas deve haver combate onde os próprios
falham. Na discussão da falácia dos seus argumentos. Sem medo ou hesitação,
porque há por aí muitos ‘bolsonaros’ saudosistas e conservadores que à míngua
de conhecimentos valorizam a sua percepção e ignoram os factos.
Publicado in "A Voz de Chaves", em 15 de novembro de 2018
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