sábado, 19 de setembro de 2015

A senhora idosa que afinal era velha

Nesse dia usava umas calças de ganga pretas e uma camisa azul escuro, mesmo escuro. A senhora, já idosa, aproximou-se e perguntou-lhe se estava tudo bem. A princípio não percebeu a pergunta. Não a conhecia. Respondeu que sim, que estava tudo bem, com um misto de desconfiança e perplexidade.
-Ah! Como está todo de preto pensei que a sua avó tivesse falecido... - completou a velha por fim.
-Que eu saiba não... - retorquiu com dificuldade.
Nem mais uma palavra trocada.
Tornara-se óbvio que a velha o conhecia. Ele não a conhecia.
Saiu, embrenhado no mistério. Enquanto seguia o seu caminho ocorreu-lhe:
"A velha conhece-me... E conhece a minha avó... Já não vejo a minha avó há uma semana..."
Depois a epifania.
"É só uma velha que não evoluiu."

O conservadorismo constitui (quase sempre) um atraso civilizacional. Nalguns casos inócuo, noutros pode ser constrangedor.


Sem comentários: