quarta-feira, 21 de maio de 2014

Europeias?

E de repente parece que no próximo domingo há eleições europeias. Parece. Porque na verdade o que se discute  nada tem a ver com a Europa ou com o papel que cada um defende para o que seja a sua intervenção futura ou para o que foi a sua intervenção na crise. Como sempre em Portugal a politiquice rasteira e mesquinha continua a sobrepôr-se ao debate de ideias.
Sabemos que o candidato da Aliança Portugal, Paulo Rangel, antes de o ser, era crítico das medidas de austeridade cegas e brutais impostas pela UE e pelo diktat alemão e aplicadas pelo governo que sempre quis ir além da troika. Mas o lugar à sombra da bananeira do parlamento europeu fez com que invertesse a tendência e passasse a defender com unhas e dentes a acção governativa e a panaceia imposta. Talvez por isso, tenha também decidido retirar das suas intervenções de campanha, qualquer alusão aos problemas da Europa e à forma como esta decidiu combater a crise com a devida vénia do governo em funções. Preferiu o confronto revanchista com o "vírus socialista" e o ataque cobarde ao do costume, Sócrates. Portas aliou-se ao ataque e reafirmou a ideia de um exame a Sócrates em forma de uma indignação redireccionada, "Sócrates, o pai da troika", disse. Mas se quiseram ir por aí, a troca por um exame a Sócrates talvez acabe por se revelar uma surpresa. A estratégia assenta fundamentalmente num esquema de tapar o sol com a peneira, desviando as atenções da verdadeira indignação latente. Ninguém nega que as eleições europeias são sempre um exame intermédio à política nacional. Na verdade, já passaram três anos desde o chumbo do PEC IV, o pedido de ajuda externa e a chegada ao governo de Passos Coelho, Gaspar, Relvas e Portas. A perspectiva que os portugueses têm hoje desse período é muito diferente da que tinham então. Estaria o PEC IV em condições de evitar uma ajuda externa e uma passagem pela crise mais tranquila para os portugueses? Evitaria os números trágicos de desemprego, de défice, de emigração, de recessão e de aumento de impostos?  Sabemos que tinha o aval da UE e de Merkel. Sabemos que Passos aldrabou tudo o que podia na campanha eleitoral para chegar ao governo. Mas também é certo que com o PEC IV e outros que se lhe seguiriam, com certeza, a política seguida e a vida dos portugueses teria sido bem diferente. E de certeza absoluta que nos teríamos poupado a Relvas, Gaspar e ao vice Portas. Mas o que é mesmo certo, é que Portugal tem o que merece. Em nome de uma vingança e de um ódio que apenas se explicam pela inveja e pelo medo, inveja pelo que foi feito, medo que o povo se aperceba do logro em que caiu.
Marcelo entrou na campanha para dizer que não vota em Rangel nem em Nuno Melo, vota na Aliança que apoia Juncker, o 'luxem-burguês' que disse que "pessoas são iguais a mercadorias ou capitais". Esclarecedor.
No momento em que se impunha um debate sério e esclarecido sobre o papel da UE e sobre a forma de resolver a crise, ou sobre a fórmula que foi aplicada até aqui, a discussão política nacional é sempre mais redutora.

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