quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A imprensa da empresa

Existe uma entidade em Portugal (CNE-Comissão Nacional de Eleições) que limita a liberdade editorial da comunicação social. E estou a falar, como é óbvio, da cobertura da campanha das próximas autárquicas. Não é exequível, nem sequer sensato, pedir à comunicação social que faça a cobertura da campanha de todos os movimentos que agora pululam por aí, representativos alguns de pouco mais que uma família e quiçá uns primos afastados a viver na América. A CNE extravasou os seus poderes, sobrepondo-se à liberdade de imprensa. O resultado está à vista: ninguém vai ser notícia durante a campanha. Bem sei que para muitos isto representa um alívio, mas também representa para muitos outros a ausência de esclarecimentos e de informações por que ansiavam. A campanha também serve para informar  e ajudar a tomar uma decisão mais ou menos esclarecida. Quanto à entrevista de Passos Coelho na RTP, o bom senso aconselhava a que se realizasse após as eleições, ou então há 15 dias atrás. Passos fez bem em desistir. No entanto, e mais uma vez, a CNE 'censurou' a linha editorial de um canal de televisão.
Entretanto, e porque a nossa comunicação social, cada vez mais sobrevive sobre brasas, disputando audiências e quotas de mercado, sob uma concorrência atroz, a informação vai sofrendo as consequências, e com isto, quem é informado, ou desinformado. Não me refiro aqui, ao Correio da Manhã, porque esse não entra na minha definição de comunicação social.
Uma redução de 51 mil vagas, menos 40419 candidatos, apenas 37415 alunos colocados, o número mais baixo de candidatos ao ensino superior dos últimos anos e o quarto menor de colocações desde 2003. As universidades viram a sua taxa de ocupação cair 4 pontos percentuais, de 91 para 87 por cento, e nos politécnicos a queda foi ainda maior, de 61 para apenas 55%. Cerca de 30% dos 1090 cursos superiores receberam dez ou menos alunos e em 66 deles não foi colocado um único aluno. Os números sugerem que no futuro o ratio licenciados/população em Portugal será ainda mais baixo que aquele já é actualmente, ocupando a cauda da Europa. E quais são as parangonas em todos os jornais? "Mais candidatos conseguem colocação à primeira e 60% são colocados na sua primeira opção". Bruxo! Com estes números. Portanto, no pasa nada.
Notícia no Sol e no JN: "Estimativas apontam para menos 800.000 alunos que em 2012-2013" e assim por aí fora em vários sítios noticiosos. Desapareceu, num ano, cerca de 40% do universo escolar, para além da população. Houve em Portugal um acidente nuclear, seguido de terramoto e quase 10% da população foi dizimada e ninguém me disse nada. Quando se lê com mais atenção, lá vem a conclusão que se está a falar de redução ao longo de vários anos no futuro...
Portugal tem os políticos que merece, como soe dizer-se, mas também tem tudo o resto, jornalistas pouco escrupulosos incluídos e editores apenas preocupados em 'vender'. Reflexo da crise, ou o reflexo de tudo o resto. Porque de boas intenções... A nossa comunicação social é cada dia que passa mais refém do resultado, do 'share', da audiência e do lucro. A informação é filtrada segundo linhas editoriais do 'vende'/'não vende'. E vende sempre o rabo da Rita Pereira, o crime ainda por provar, não interessa, desde que haja suspeitos famosos, o mediatismo, o título popularucho ou escandaloso que chama a atenção, ainda que depois a cara não bata bem com a careta.

PS- Entretanto a campanha mais bem sucedida é a de Judite de Sousa... Para Seara ver.

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