sexta-feira, 5 de julho de 2013

A semana do Pedrinho e do Paulinho


Vítor Gaspar dixit:

"O incumprimento dos programas originais para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração da sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto Ministro das Finanças. (...) o nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves. (...) Pela nossa parte exigem a rápida transição para uma nova fase do ajustamento: a fase do investimento!"

Paulo Portas dixit:

"Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer.
São conhecidas as diferenças políticas que tive com o ministro das Finanças. A sua decisão pessoal de sair permitia abrir um ciclo político e económico diferente. A escolha feita pelo primeiro-ministro teria, por isso, de ser especialmente cuidadosa e consensual.
O primeiro-ministro entendeu seguir o caminho da mera continuidade no Ministério das Finanças. Respeito mas discordo.
Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao primeiro-ministro, que, ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível.
Ao longo destes dois anos protegi até ao limite das minhas forças o valor da estabilidade. Porém, a forma como, reiteradamente, as decisões são tomadas no Governo torna, efectivamente, dispensável o meu contributo."

Como se percebe são excertos da carta e do comunicado de Gaspar e Portas, respectivamente, aquando da apresentação das suas demissões do governo.
Como também se percebe elas encerram fortes críticas ao rumo e à política seguida pelo governo. Se Gaspar faz uma autocrítica e aponta o caminho do investimento, Portas torna irrevogável a sua continuação neste governo e com estas políticas. E essas são as conclusões maiores que se tiram desta semana, em que não esteve suspensa a democracia, como alguém um dia disse que seria necessário, mas esteve suspenso o governo. Em dois dias o país assistiu incrédulo a uma novela mexicana em que o amor-ódio faz sempre parte do guião. Um arrufo de rapazolas, putos imberbes que comandam um país, deu para os gregos poderem dizer que a Grécia não é Portugal.
O que sobra da semana é a confirmação daquilo que já se sabia, mas que muitos não queriam ver. A política de cartilha pseudo-imbecil neo-liberal seguida por Passos Coelho e Gaspar resultou numa recessão de 2,3% com estimativas de atingir 4% no fim do ano, o desemprego está nos 18,6%, o défice em 10,6 % e a dívida pública já vai em 127% do PIB. Há dois anos, quando o país estava em bancarrota os mesmos indicadores eram os seguintes: recessão (0,2%), desemprego (12,6%), défice (8,8%) e dívida (107%). É isto que a troika e agora Passos Coelho isolado defendem como 'o bom aluno', 'o caminho certo', 'a consolidação das contas públicas', 'o ajustamento'. Os credores estão-se a marimbar para as pessoas e para o país, desde que lucrem com a nossa crise. Se ela for política, óptimo, mais juros, mais dinheiro. Ora, se o país estava na bancarrota há dois anos, agora, ninguém duvidará de um segundo resgate. Aliás, os juros atingiram 8% esta semana, com as traquinices do Pedro e do Paulo, acima dos 7% que obrigou Sócrates a pedir a intervenção da troika.
Esta semana representou o consumar do colapso e do falhanço de um governo impreparado, incompetente e ligado à máquina de há uns meses a esta parte. E Relvas, nunca se esqueçam de Miguel Relvas. E do Borges e Moedas, da Paula, do Álvaro e afins.
Alguém dará credibilidade a este governo, mesmo se Portas recuar? E Portas terá alguma? E a reforma do Estado que supostamente entregará daqui a quinze dias? A reforma do Estado que provavelmente não soube nem conseguiu fazer. Como o governo até agora não soube e que era por onde devia ter começado.
E Cavaco após aquela humilhação farsante em que se envolveu ao dar posse a uma ministra que não se sabe se estará no cargo segunda feira, tem margem de manobra para quê? O homem que pôs a mão no rabo de Portas e Coelho que terá agora a dizer? Que sempre disse que preferia a estabilidade e agora levou um pontapé no cu e um bofardo na língua? O governo que sair desta  porcaria durará até quando? Até às autárquicas? Ao OE? Ou até ao segundo resgate?
Esta semana serviu também para se poder dizer alto e em bom som: AS ELEIÇÕES FAZEM PARTE DA DEMOCRACIA E NÃO HÁ ARGUMENTOS ECONÓMICOS QUE POSSAM DISSUADIR A SUA REALIZAÇÃO!!! NÃO HÁ CHANTAGEM ALGUMA DOS MERCADOS E DE QUEM QUER QUE SEJA QUE POSSA IMPEDIR O POVO DE SE PRONUNCIAR NAS URNAS! DEITAR ESTES DOIS ANOS PELA BORDA FORA É O MELHOR QUE NOS PODIA ACONTECER. AINDA QUE COM SEGURO AO LEME.
Esta semana esclareceu de uma vez por todas que é preferível eleições a aturar birras de canalha mimada, preocupada com os seus umbigos eleitoralistas, deixando o país suspenso e à deriva. Este governo é, foi e será uma nulidade. Uma farsa e uma calamidade. Os últimos dois anos foram tempo perdido à custa de todos.
Esta semana demonstrou que qualquer alternativa é preferível ao triste espéctaculo de morte assistida do país e do sistema político, repito, com razões válidas de Portas, mas demagógicas, sectárias e caciqueiras como se verá amanhã ou nos próximos dias, quando Portas for ministro da Economia e Macedo das Finanças. Passos Coelho é o maior culpado por todas as razões (principalmente porque teima em levar ao leme o país rumo ao precipício) e Maria Albuquerque será um rodapé no capítulo respeitante aos contratos swaps.
Esta semana foi a maior vergonha, das muitas, a que este governo já nos habituou, tamanha, que é urgente pedir desculpa a Santana Lopes. As suas trapalhadas foram de menino comparadas com as destes fedelhos.

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