domingo, 4 de dezembro de 2011

A Europa da austeridade

Mais um Conselho Europeu marcado para o próximo fim de semana. Desta vez, e após as recentes declarações de Merkel estamos perante a iminência de uma união fiscal total.
Portugal teria muito mais a ganhar com a emissão imediata dos 'eurobonds' ou com a transformação do BCE num banco central normal. Ambas as medidas ajudariam num mais rápido e eficaz combate à crise da dívida soberana. Enquanto ela for soberana. A alavancagem daí resultante permitiria que a nossa, como outras dívidas pudessem ser protegidas dos ataques externos dos mercados mais pessimistas e impacientes, por assim dizer. A emissão de moeda por um banco central europeu, ou a emissão de títulos de dívida subscritos por todos os membros do euro permitiria refrear qualquer especulação e credibilizar uma moeda catatónica, vítima de agiotas e da falta de coragem dos líderes medíocres que era suposto protegerem-na.
O BCE teme a inflação e os tratados actuais não permitem que salve um país membro, reduzindo a sua actuação à compra de dívida nos mercados secundários, e a Alemanha teme a bancarrota e a sistematização da falta de responsabilidade dos países prevaricadores. Assim sendo, propõe a união fiscal, e a alteração dos tratados, em troca de castigar com mais austeridade os países que já têm a corda na garganta. Pode ser a solução a longo prazo, pode ser que nos consiga manter no euro, trará mais integração europeia, mas a violência a que nos sujeita nos próximos anos, e que não serão 3 ou 4, causará convulsões de resultado imprevisível, assim como a necessária perda de soberania e a redução do Estado social, na saúde, justiça e educação a meros serviços de gestão, sem qualidade, sem profissionais e sem motivação. Tudo isto num contexto de desemprego e recessão endémica.
Passos Coelho que não tem ideia nenhuma sobre a Europa, faz a vénia a Merkel, como um súbdito bem comportado. Aliás, convém lembrar a sua recente entrevista, em que afirma haver 2 mil milhões de euros para injectar na economia. Como? Não sabemos. Será esta a folga orçamental de que falava Seguro? Será este o dinheiro tirado aos funcionários públicos e aos pensionistas, que agora vai ser dado a empresários para gastar, ninguém sabe como? É que os pensionistas e os funcionários públicos utilizam o dinheiro em consumo, qualquer economista sabe isso, e necessariamente ele irá parar ao comércio e à indústria. Assim, ficamos sem saber. Mas sabemos como funcionam os empréstimos a empresários menos escrupulosos. À semelhança da Grécia e da Itália, ainda vou ver o tecnocrata Vítor Gaspar a substituir Passos Coelho como Primeiro-Ministro, sem recurso a eleições, para garantir que as medidas liberais são bem aplicadas e que a austeridade é só para alguns. Passos Coelho na mesma entrevista já nos avisou que vem aí mais. Mais meia-hora de trabalho escravo, mais desigualdades, mais cortes onde não se deve, mais populismo em que este governo é doutorado, ao estilo da rábula das gravatas, da Vespa que o Ministro da Segurança Social trocou por um Audi de 86 mil euros, do amarfanhar do fundo de pensões da banca, numa engenharia financeira de controlo do défice que tanto criticaram no passado mais recente e dos vôos em económica que João Jardim manda às malvas do alto da sua gabarolice. Estou farto...

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