terça-feira, 17 de novembro de 2015

Je suis tout le monde

Perante a barbárie e a morte de inocentes a nossa crise política fica mais pequenina... Só espero que não sirva de justificação para o crescimento da xenofobia latente contra os refugiados que fogem disto mesmo.
Podia-se fazer todo um apanhado histórico para se melhor perceber o enquadramento que está por detrás do Estado Islâmico. Desde a Mesopotâmia, passando pelas cruzadas, pelo império Otomano, pelo abandono dos territórios pelo Reino Unido após a segunda grande guerra e a criação do Estado de Israel, com a falsa promessa de criação do grande Estado Árabe. Pelas mais recentes guerras e invasões do Golfo e do Iraque. Podia-se desenvolver toda uma teoria que juntou na região mais estratégica e mais disputada do mundo durante séculos várias religiões diferentes. O falhanço da primavera árabe e os muros e colonatos de Israel. Podia-se culpabilizar vários intervenientes políticos e Estados ocidentais que alimentaram ódios conforme a conjuntura do momento e venderam armas aos que depois se rebelariam. Podia-se dizer sem correr o risco de errar muito que o petróleo é peça fundamental de toda a engrenagem.
Podia-se tudo. O que não se pode explicar nem compreender é a forma como os radicais terroristas matam inocentes, e da forma como o fazem.
E a forma como o fazem é inadmissível e atenta contra todos os direitos da humanidade. O medo é a sua principal arma, e é aí que não se pode ceder. Nem ao medo, nem à tentação da xenofobia e do racismo, porque isso é tornar-mo-nos iguais a eles. E eles não são os árabes, nem o Islão. São os radicais e os terroristas. E são esses que não podemos deixar que se apropriem do nosso modo de vida.
Bem sei, que quando se sofre este tipo de ataques no nosso quintal, a onda de solidariedade e revolta é sempre maior. Mas não se pode ceder à tentação de menosprezar todos os outros ataques e todos os inocentes que  também morrem todos os dias nesses países árabes, em especial na Síria. Sob pena de hipocrisia.
A raiva do momento não deverá também tapar o discernimento necessário para atacar o problema na fonte e arrancá-lo pela raiz. Desta vez, se recorrerem às armas, façam-no sem subterfúgios. Façam-no pelos valores da humanidade. E de vez... Dure quanto durar.

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