terça-feira, 29 de junho de 2010

Vejam! diz Keynes


Numa época em que a globalização em que vivemos nos empurra para uma catadupa de competição catalisante, cada vez mais se sente a necessidade de uma especialização e/ou de uma formação, por forma a fazer face à cada vez maior ansiedade de competição ao nível de objectivos pessoais e de profissões.
Assim sendo, à falta de emprego especializado e com maior nível de habilitações, a que toda esta competição não é alheia, o desemprego de sectores fundamentais, em que a concorrência desenfreada e o lucro são o fim que se quer atingir não olhando a meios, é normal acontecer um empobrecimento maior das classes mais baixas e ser aí que se encontra o grosso do desemprego. Se juntarmos a isto a proliferação de gestores, professores, funcionários públicos ou apenas licenciados, temos a estratificação societária ao contrário, ou seja, classe operária sem emprego, para empregadores e gestores a mais, e o Estado com a corda na garganta, tendo a apertá-la os funcionários públicos e os beneficiários de subsídio de desemprego.
E vejam o que aí vem, com um governo desnorteado, por culpa própria, e descredibilizado por uma opinião pública não esclarecida, mas atordoada pelos media, que conseguem impunemente, perseguir governos e publicar escutas, passando por cima das mais elementares regras de ética e de respeito pelos cidadãos, tudo se alinha para um novo governo de aliança PSD/CDS-PP.
E já sabemos o que vai dar, Paulo Portas no poder, a querer mudar a lei do casamento homossexual, e Pedro Passos Coelho a flexibilizar o emprego e os despedimentos, dando toda a discricionariedade aos patrões, que, não sei se já repararam, acabam de fundir as suas principais associações patronais.
Não vejo onde vai estar a melhoria, aliás, querem mexer na Constituição, para já com uma atoarda justificativa, tirar a palavra “República” do diploma fundamental:

Art. 1º
“Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”


Agora digam-me, vão tirar República e substituir por Estado?, ou tira-se a parte final da sociedade justa e solidária e substitui-se por uma sociedade neoliberal e patronal?
Ainda não se cansaram do modelo neoliberal, numa altura em que o mercado livre foi responsável pela crise de valores e pela crise económico-financeira, numa altura em que o pensamento de Keynes se devia sobrepor, mais intervenção do Estado e menos especuladores?O mercado não é auto-regulador, mas determinado pelo espírito egoísta dos empresários, especuladores e patrões. É por esse motivo, e pela ineficiência do sistema capitalista em empregar todos os que querem trabalhar que a intervenção do Estado na economia, sem ser sufocante, é fundamental.
Vejam só o que vem aí!

3 comentários:

Anónimo disse...

Vou concordando com a tua opinião, todavia, será de esclarecer que o desemprego em massa de sectores fundamentais que é uma consequência do estado geral da economia, não resulta no empobrecimento das classes mais baixas, mas sim na corrida das mesmas classes sociais susbsidiodependentes ao Rendimento Social de Inserção, que no ver de muitos vai dando para viver e sempre é melhor do que trabalhar - dá menos trabalho!!!
Estes sim colocam o Estado com a corda na garganta e não os beneficiários de subsidio de desemprego, pois estes ao contrário daqueles, tiveram que trabalhar e efectuar os competentes descontos para agora poder usufruir de algum tipo de subsidio.

Mário Barreira disse...

Meu caro amigo, boa ideia a do Blog, e estou a gostar dos artigos.
Cá vai um comentário:
Não deves só culpar o sistema financeiro e os especuladores pela crise, a crise é culpa de todos sem excepção, como de seguida explicarei: O ESTADO - é o pincipal culpado, apesar de o ter feito por bem, optou nos últimos 20 anos, no tempo das vacas gordas, por uma tentativa de política de pleno emprego na generalidade dos países desenvolvidos, e isso só se conseguiu através do aumento brutal do consumo, sem que as pessoas e as empresas tivessem efectivamente meios para isso, ou seja, houve um aumento brutal do crédito para tudo e mais alguma coisa, o que por seu lado deu um poder enorme às instituições que forneciam o dinheiro, sem que tenha aumentado a fiscalização do estado, e no caso particular dos Estados Unidos, no tempo do Clinton e não do Bush (que não tinha arte para isso) uma total desregulação e falta de fiscalização por parte das instituições governamentais levou ao problema actual, um exemplo claro é o caso do Madoff que prometia retornos de 15% e ninguém desconfiou como tal era possível, ou cá no caso do BPN, que prometia retornos de 7,5% enquanto todos os outros só prometiam 3 ou 4%, dai que podemos dizer que o estado é o grande responsavél, pois mesmo que se intitule de neo-liberal mesmo assim não cumpriu a sua grande missão que é fiscalizar.
Os cidadãos e as empresas em geral, são igualmente culpados, pois norteados pela ganancia quiseram sempre mais, e nem sempre isso é possível, porque se só temos 5 para gastar não podemos gastar 10, mas claro que todos querem melhores casas, melhores carros, etc., e os bancos e instituições de crédito emprestaram dinheiro para tudo e para todos, incitados por um lado pelos estados para assim potenciar o consumo e por outro lado para aumentarem os seus próprios lucros.
Assim, ser um estado neo-iberal ou não vai dar ao mesmo, porque o resultado final é o mesmo.



Grande abraço, continua a escrever para se poder comentar.

Mário Barreira disse...

- Quanto à Constituição, que é boa, precisa de ser actualizada em alguns aspectos, e que não cresça o papão de que se vai privatizar a saúde, porque isso já está a ser feito, por um lado atrvés das parcerias público-privadas, mas acima de tudo pela omissão do estado, ou seja, repara que cada vez que o estado acaba com alguma das valências de um hospital ou de um centro de saúde, com a desculpa dos custos, transfere esses custos para os utentes, que não tendo o serviço público para se valerem têm que recorrer ao privado, como é o caso de muitos dos hospitais do Interior, sendo Chaves um exemplo disso, é ou não isto uma forma encapotada de privatização? ... e há outras coisas que no meu entender deveriam ser alteradas, nomeadamente o ensino público ser gratuito, entenda-se que até ao 12º ano ele deve ser gratutito, mas o universitário não, apesar de em parte já ser assim pois pagam-se propinas bastante altas, ele deveria ser 100% particular, e o Estado deveria providênciar a distribuição de bolsas de estudo com base em 2 critérios, a carência económica e a excelência.
Dai que modernizar a Constituição em alguns pontos poderá trazer clarificações para o futuro, e não nos podemos ficar chocados com a liberalização dos despedimentos, se e só se a legislação que for criada visar acima de tudo proteger o trabalhador, quero dizer com isto o seguinte, muitas vezes ao patrão é impossível despedir o trabalhador, mesmo que este não produza de modo a sustentar o seu posto de trabalho, ou o trabalhador ser como se costuma dizer "ser preguiçoso", por estas razões é impossível despedir, mas se fosse possível alguns perderiam o emprego, e ao estado caberia a responsaabilidade de criar uma legislação que desse fortes garantias de uma elevada indemnização ao trabalhador que evitaria os despedimentos com base no "não gosto de ti estás despedido", mas isto é mais fácil de dizer do que fazer e seria sempre perigoso.