segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

OE 2016 - Odisseia no universo

Redução da sobretaxa do IRS = 430 milhões de euros. 
Reposição dos salários dos funcionários públicos = 450 milhões.
Aumento dos apoios sociais como o RSI, CSI e abono de família = 200 milhões.

Total = 1080 milhões de euros de ganho para as famílias.

Agora acrescente-se:
Aumento do salário mínimo nacional = 228 milhões
Redução da Contribuição Extraordinária de Solidariedade = 15 milhões.
Total = 1300 milhões.

Descida de parte do IVA da restauração = 175 milhões
Total =1500 milhões.

Deixando até de fora a redução das taxas moderadoras e o grande alargamento da tarifa social de eletricidade.
Nos impostos sobre as famílias, onde entram automóvel, combustível, tabaco e crédito, temos uma perda que andará próxima dos 450 milhões. Ou seja, é verdade que o governo dá com uma mão o que tira com a outra. Mas dá muito mais do que tira. O orçamento após a negociação com Bruxelas não passou a ser o oposto do que era. Podem dizer que é 'austeridade de esquerda', podem dizer muitas coisas, mas não é, com toda a certeza, a continuação do que tivemos nos últimos cinco anos.

"Orçamento de Costa sob fogo cerrado", "Troika receia regresso ao passado. Fitch volta a ameaçar com corte de rating.", Diário Económico
"Lá fora e cá dentro ninguém acredita no orçamento de Costa e Centeno", jornal  I. 
"Bruxelas ameaça com sanção inédita", Jornal de Negócios. 
"Nova crise por um fio", Sol. 
"Alerta: governo tem até amanhã para convencer Bruxelas", Diário de Notícias. 

E logo vieram os economistas paineleiros apregoar o fim do mundo, com Medina Carreira à cabeça a anunciar o segundo resgate, que já anuncia desde que houve o primeiro, ansioso por poder dizer um dia, num futuro mais ou menos longínquo e incerto, que bem tinha avisado.
Enfim, o mundo ia desabar só porque o governo fez uma coisa que se tinha dito que não podia ser feita: negociou mesmo com Bruxelas. E o orçamento de Centeno é um documento que ficará nos anais da história e da economia. É o mais perigoso projecto que a humanidade tentou realizar, com efeitos imprevisíveis à escala mundial.
Mas como se chegou a um acordo, aquilo que era um conjunto de medidas despesistas, “uma gestão de pré-eleições”, nas palavras do político-banqueiro-reformado Mira Amaral, passou a ser um orçamento de austeridade. Mas, o Orçamento não passou a ser o exato oposto do que era. Costa é um negociador e um executor como poucos, por muito que os abutres por cá, nos mercados e na Alemanha tentem dramatizar. Resumindo, para a direita revanchista, para os abutres de Bruxelas, das agências de rating e do sr. Schauble, o orçamento do PS seria sempre ou despesista, ou com pouca austeridade, ou com austeridade igual ou maior que os anteriores. Seria sempre um mau orçamento, porque a ninguém interessa a esquerda no poder, a dar mais atenção e protagonismo às pessoas do que aos juros da dívida e afins...
Aliás, é tempo de se começar a discutir com seriedade, que tipo de Europa queremos, porque esta, subserviente a interesses económicos e financeiros, não interessará a um número cada vez mais maior de pessoas, e que já se pôde ver nas eleições em Portugal, na Espanha, na Itália, na Grécia... A substituição da política pela economia e pelos diktat's ao seu serviço está a minar a confiança na UE e nas suas instituições. Se não mudar de rumo irá fazer desabar a melhor ideia que a Europa foi capaz de ir realizando ao longo dos últimos 60 anos, alcançando uma paz inédita entre os seus povos.
Quanto ao PSD e CDS. Retiraram o CSI a 70 mil idosos, o RSI a 170 mil pessoas, entre elas mais de 50 mil crianças. Aumentaram o IRS em 3940 milhões e até, imagine-se, o imposto sobre os combustíveis. Depois de dizerem que o esboço era despesista, e após o acordo com Bruxelas que de todo não esperavam, e se calhar não desejavam, dizem agora que o orçamento retira rendimentos às famílias. É preciso ter lata... Mas mesmo muita lata...

P.S.- Esperemos que a vitória do FCPorto na Luz não faça disparar os juros da dívida...

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