segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A areia e o mar

Quando existe falta de bom senso, a probabilidade de fazer asneira é grande. O jantar da Web Summit no Panteão nacional é um bom exemplo disso. Várias questões se levantam, nomeadamente se fará algum sentido a cedência de espaços públicos para a realização de festas privadas? Talvez, dependendo do sítio e numa lógica de rentabilização desse espaço, alocando as possíveis receitas para fazer face às despesas de manutenção. No caso do Panteão, o anterior secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, veio dizer que o diploma aprovado pelo governo anterior, e que regula este tipo de casos, não autoriza de cruz todos os pedidos, terá que ser feita uma avaliação caso a caso. O Instituto Geral do Património despachou de cruz até porque já se tinham feito outras festas antes. O ministro da Cultura e o primeiro-ministro não sabiam. Mas com bom senso, lá está, a festa poderia ter sido feita noutro sítio. Até porque, para lá do bom senso há uma questão de mau gosto. Não faz sentido fazer uma festa com dezenas de mortos à volta, mesmo que as zonas dos túmulos estivessem fechadas.
Fazer disto uma batalha política, não é falta de bom senso, é simplesmente estúpido. O diploma foi feito pelo anterior governo, e durante a sua legislatura houve vários eventos em espaços históricos e assim continuou nesta porque a legislação assim o permite. Barreto Xavier queria que se usasse o Panteão Nacional para jantares, prevendo a cobrança de pelo menos três mil euros, como está expresso no seu despacho. O erro da diretora do Panteão e da DGCP foi cumprirem esse regulamento, o do atual ministro foi não o rever. Mas os últimos a poderem apontar o dedo a alguém são exatamente as virgens ofendidas que fizeram e aprovaram estas regras.
Ainda na semana transacta, Portugal emitiu €1,25 mil milhões em títulos de dívida a 10 anos à taxa de juro mais baixa de sempre da sua história para um período tão longo (1,939%). É um resultado estrondoso, que tem por trás a expectativa de que a Fitch vai elevar o rating de Portugal a 15 de dezembro e que a Moody’s fará o mesmo no início de 2018, a par da evolução positiva de vários indicadores económicos (PIB, défice, dívida, emprego, desemprego, exportações, turismo). O desemprego, por exemplo, caiu para 8,5%, o valor mais baixo desde 2008, estando já abaixo do valor que o Governo prevê para o próximo ano. O défice ficará em 1,4%, mais um marco histórico. O PIB crescerá este ano 2,6%. A dívida pública terá o maior decréscimo de sempre. Um mar de razões para uma visão futura optimista.
A conclusão só pode ser uma: os mercados e as agências de rating estão a validar a política económica e orçamental do país. O resto é areia.

Publicado in "A Voz de Chaves", 16 de novembro de 2017