segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A areia e o mar

Quando existe falta de bom senso, a probabilidade de fazer asneira é grande. O jantar da Web Summit no Panteão nacional é um bom exemplo disso. Várias questões se levantam, nomeadamente se fará algum sentido a cedência de espaços públicos para a realização de festas privadas? Talvez, dependendo do sítio e numa lógica de rentabilização desse espaço, alocando as possíveis receitas para fazer face às despesas de manutenção. No caso do Panteão, o anterior secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, veio dizer que o diploma aprovado pelo governo anterior, e que regula este tipo de casos, não autoriza de cruz todos os pedidos, terá que ser feita uma avaliação caso a caso. O Instituto Geral do Património despachou de cruz até porque já se tinham feito outras festas antes. O ministro da Cultura e o primeiro-ministro não sabiam. Mas com bom senso, lá está, a festa poderia ter sido feita noutro sítio. Até porque, para lá do bom senso há uma questão de mau gosto. Não faz sentido fazer uma festa com dezenas de mortos à volta, mesmo que as zonas dos túmulos estivessem fechadas.
Fazer disto uma batalha política, não é falta de bom senso, é simplesmente estúpido. O diploma foi feito pelo anterior governo, e durante a sua legislatura houve vários eventos em espaços históricos e assim continuou nesta porque a legislação assim o permite. Barreto Xavier queria que se usasse o Panteão Nacional para jantares, prevendo a cobrança de pelo menos três mil euros, como está expresso no seu despacho. O erro da diretora do Panteão e da DGCP foi cumprirem esse regulamento, o do atual ministro foi não o rever. Mas os últimos a poderem apontar o dedo a alguém são exatamente as virgens ofendidas que fizeram e aprovaram estas regras.
Ainda na semana transacta, Portugal emitiu €1,25 mil milhões em títulos de dívida a 10 anos à taxa de juro mais baixa de sempre da sua história para um período tão longo (1,939%). É um resultado estrondoso, que tem por trás a expectativa de que a Fitch vai elevar o rating de Portugal a 15 de dezembro e que a Moody’s fará o mesmo no início de 2018, a par da evolução positiva de vários indicadores económicos (PIB, défice, dívida, emprego, desemprego, exportações, turismo). O desemprego, por exemplo, caiu para 8,5%, o valor mais baixo desde 2008, estando já abaixo do valor que o Governo prevê para o próximo ano. O défice ficará em 1,4%, mais um marco histórico. O PIB crescerá este ano 2,6%. A dívida pública terá o maior decréscimo de sempre. Um mar de razões para uma visão futura optimista.
A conclusão só pode ser uma: os mercados e as agências de rating estão a validar a política económica e orçamental do país. O resto é areia.

Publicado in "A Voz de Chaves", 16 de novembro de 2017

segunda-feira, 15 de maio de 2017

De 13 a 15 de Maio

13 de Maio, o Papa Francisco, o mais liberal dos Papas, visita Fátima nas celebrações dos 100 anos das alegadas aparições de Nossa Senhora. Respeito quem acredita, mas eu não acredito por variadas razões que agora não vêm ao caso. Ou não acreditava, até no mesmo dia o Salvador ter ganho o festival da Eurovisão. Um verdadeiro milagre...
E, eis que, dia 15 de Maio, o PIB português cresce 2,8% no primeiro trimestre, esmagando por KO a narrativa de Passos Coelho e de Cristas, essa que agora quer assinar de cruz, como tão bem sabe, mais 20 estações de metro em Lisboa, sem saber como, quanto custa e porquê.
Os milagres só existem para quem não sabe o que é talento, compromisso e competência. Tanto o Salvador como o António Costa sabem que o seu sucesso, e por conseguinte o do país, é fruto do seu trabalho competente...




quarta-feira, 26 de abril de 2017

Abril

Celebrar e relembrar Abril é necessário para recordar o antes de Abril. Para que nunca se esqueça o passado e possa haver esperança no futuro. Para que os valores de Abril não possam ser ameaçados ou postos em causa como se tem visto por esse mundo fora. Para que oportunistas, xenófobos e populistas não tragam para a praça o medo. O medo que tolhe consciências e se aproveita dos mais fracos para impor totalitarismos, nacionalistas e extremistas.
Os valores de Abril são a liberdade, a igualdade e a democracia. Pilares fundamentais de um estado de direito.
Para que nunca se esqueça... porque a história tem tendência a repetir-se e o ser humano tem tendência a não aprender com os erros...

terça-feira, 4 de abril de 2017

As granadas na banca

A Troika usou Portugal como cobaia para uma nova forma de lidar com crises bancárias. Uma intervenção externa que tinha a estabilização do sistema bancário e financeiro como segundo pilar. E tudo ficou na mesma. A 'saída limpa' não foi mais do que uma forma ardil, para numa tentativa eleitoralista, tentar que um governo submisso de direita continuasse a governar o país. Como se soube recentemente, esses temas nem sequer eram tratados em Conselho de Ministros e a resolução do BES foi decidida com ministros de férias que assinaram de cruz. E com vários dossiers escondidos na gaveta, como foram os casos dos Swap's, da CGD e do Banif.
Antes de sair do governo, Passos Coelho decidiu reconduzir Carlos Costa como governador. Que deixou Ricardo Salgado à frente do BES até ao limite do tolerável. Na troca de favores que marcou a relação entre Passos Coelho e o governador do Banco de Portugal, este escolheu o secretário de Estado Sérgio Monteiro para tratar da venda do banco. Levou para casa um salário pornográfico sem vender coisa nenhuma. E a direita ainda teve lata para criticar os salários da nova administração da CGD. No fim, a batata quente acabou, como tantas outras, na mão de António Costa.
A venda do Novo Banco é o acordo possível, tal como foi o caso do Banif. Nacionalizar o Novo Banco seria insustentável, com uma recapitalização imediata de 1000 milhões de euros. Ainda por cima com a recapitalização da CGD em andamento, recapitalização que diziam ser impossível passar no crivo de Bruxelas. Mas Costa é o homem dos impossíveis.
O acordo alcançado com a Lone Star não deixa de ter um risco, mas minimizado pelas condições que estavam ao alcance de um governo que herdou várias granadas de mão e que as vai desarmando uma a uma.
Passos e Cristas não sobreviverão às suas próprias contradições e erros.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Os idiotas

O que disse Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, sobre os países do sul da Europa e de quem lá mora, não é mais do que a ideia torpe que andaram a vender a todos para justificar a austeridade/castigo a que submeteram, com laivos de sadismo, os países que necessitaram de recorrer à famosa troika. E é até curioso porque o presidente do Eurogrupo é holandês, o país das prostitutas em montras e da 'ganza' legalizada. Por cá a coligação de direita fez o trabalho de casa, e como bons alunos, acusaram os portugueses de viver acima das suas possibilidades e por isso teriam que ser castigados.
Nem uma palavra sobre a principal directriz que a Comissão Europeia aconselhou em 2009 para responder à maior crise financeira desde 1929. E que era investir, investir, investir. Ou seja, dos erros da UE, da banca, dos EUA, das seguradoras, etc., nem uma palavra.
Já na Alemanha, quando sai alguma notícia menos boa sobre o estado calamitoso do Deutsche Bank, logo aparece o fascista Schauble a dizer qualquer coisa sobre os preguiçosos e perigosos 'comunistas' do sul da Europa.
Dos fracos não reza a história, dos idiotas muito menos...





quinta-feira, 2 de março de 2017

Carlos Paz escreve a Ricardo Costa

"Carta aberta ao Diretor de Informação da SIC-Notícias

Meu caro Ricardo,

No programa “Negócios da Semana” de ontem, 1 de Março de 2017, o jornalista José Gomes Ferreira, que é teu Diretor Adjunto, teve como convidados, entre outros, os ilustres Professor João Duque, académico, e Dr. Tiago Caiado Guerreiro, advogado fiscalista.
As grandes notícias do dia foram:
- A audição na AR dos secretários de estado, atual e antecessor, sobre uma colossal fuga de capitais do País, ao longo de anos, que não foi escrutinada pelas finanças;
- A emissão, pela SIC, canal do mesmo grupo, da primeira parte de um programa sobre o Banco de Portugal e a sua imensa responsabilidade em tudo o que a economia portuguesa e os portugueses, em geral, sofrem, têm sofrido e irão continuar a sofrer por muitos anos.
Apesar da relevância de qualquer destes temas, e até da sua potencial inter-relação, o programa “Negócios da Semana” escolheu como seu tema do dia a Caixa Geral de Depósitos, os SMS’s do Ministro das finanças, as opções (que são só do conhecimento de José Gomes Ferreira) da Administração Domingues que, de facto, praticamente nem esteve em funções e, prato forte, o programa de recapitalização da CGD.
Não há aqui nenhum problema deontológico. O canal SIC-Notícias, e o seu Diretor Adjunto José Gomes Ferreira, tem o direito de fazer as suas escolhas editoriais.
Seguramente que esta opção sistemática por fugir aos temas mais relevantes quando eles vão contra a orientação ideológica dos responsáveis nada tem a ver com a destruição do património de imagem que o canal tem vindo a sofrer, perdendo para a CMTV o lugar de canal informativo de referência no “cabo” em Portugal.
Mas, se as opções ideológicas na escolha dos temas é algo que só a vocês, internamente, diz respeito, o mesmo não se passa com o conteúdo dos programas em si.
E, neste caso, o programa de ontem constituiu um dos mais graves ataques que alguma vez foi feito em televisão em Portugal, ao regime democrático, à estabilidade do sector financeiro e à sustentabilidade da economia portuguesa.
Poderás, Ricardo, argumentar que as opiniões do João ou do Tiago são isso mesmo: opiniões. Que têm o valor que lhe quiser dar quem os estiver a ouvir. É verdade!
Mais, Ricardo, podes argumentar que o canal não é responsável, nem deve interferir, nas opiniões dos seus convidados. É verdade! Eu próprio já fui, mais que uma vez, convidado como comentador no teu canal e NUNCA fui condicionado nas minhas opiniões. E isso está correto.
Mas, se isto é verdade Ricardo, o mesmo já não se aplica a José Gomes Ferreira. Ele, além de responsável e pivot do programa em questão, é TAMBÉM, e acima de tudo, teu Diretor Adjunto.
Ao contrário do que acontece com a opinião dos convidados, João Duque e Tiago Caiado Guerreiro, a opinião de José Gomes Ferreira, quando veiculada pelos meios da SIC-Notícias, amarra e responsabiliza o canal (SIC-Notícias), a marca (SIC) e a empresa (IMPRESA).
O argumento de que José Gomes Ferreira atua, nestes casos, como Jornalista e não como teu Diretor Adjunto não pode ser usado à exaustão. Até porque, para quem está a ver e ouvir não é possível fazer a distinção, porque o próprio também não a faz.
Assim, o ataque cerrado que foi ontem feito à CGD e ao seu processo de capitalização, é uma opção editorial do canal de que és Diretor e, como tal, responsabiliza-te também a ti. Aliás o teu passado profissional e a forma exemplar como desempenhaste as tuas funções, até à atual, não permite, a ninguém, pensar o contrário: vais, também neste caso, assumir as tuas responsabilidades.
A Caixa Geral de Depósitos não é um nome (CGD) ou um Banco do Regime (seja qual for o regime vigente). A CGD é o Banco de confiança de uma miríade de Portugueses, de reformados, de funcionários públicos, de emigrantes, de pequenos empresários e empresas.
A CGD é o posto de trabalho de vários milhares de trabalhadores. Vários milhares de famílias, de progenitores a cargo, de crianças, dependem, direta e indiretamente, da CGD para a sua sobrevivência, para a sua dignidade enquanto seres Humanos.
Mais do que tudo isso a CGD é a instituição para a qual TODOS nós Portugueses vamos ter de contribuir com os nossos impostos e os nossos esforços e sacrifícios de vida para a salvar da terrível situação financeira em que foi deixada pela soberba de gestores, pela indecência de políticos e pela incompetência do Banco de Portugal.
Assim sendo, Ricardo, são do Canal as expressões ontem utilizadas pelo teu Diretor Adjunto José Gomes Ferreira, como por exemplo: “Vão roubar aos pobres”; ou “Vão enganar velhinhas”, relativamente ao processo de emissão de dívida da CGD.
Mas, principalmente, é TAMBÉM do Canal SIC-Notícias a posição oficial (e definitiva, de acordo com o programa de ontem) de que a CGD não vai sobreviver e todo o capital vai ser perdido (como aconteceu no BES).
Eu sei, Ricardo, que isso é o melhor que poderia acontecer a todos os que têm dívidas colossais para com a CGD e, principalmente, a todos os que defendem a sua privatização. Mas se é essa a posição oficial da SIC-Notícias então que o digam sem fingimentos.
Até lá, travestir de jornalismo as opiniões veiculadas (e com a terminologia com que o foram) tem como única consequência o enfraquecimento da democracia, da sociedade livre, da solidariedade e, principalmente, da dignidade de um povo em geral (e dos trabalhadores da CGD em particular).
Fiquei muito triste Ricardo. Vindo do José Gomes Ferreira, tudo bem. Tendo a tua cobertura, magoa qualquer cidadão de bem. 
Um abraço,
Carlos Paz
Nota: esta carta será enviada como anexo a um conjunto de exposições sobre o tema à ERC (Comunicação Social), à CMVM (Mercados), ao BdP (Banca) e à Provedoria de Justiça."

Fonte: Carlos Paz, Facebook.



terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A múmia estrebuchou

Cavaco resolveu partilhar com o mundo a sua atividade das quintas-feiras enquanto foi PR. Se alguém estava à espera de um balanço da sua presidência, um resumo do passado político do seu mandato em Belém, uma reflexão sobre o país, saiu, como sempre, enganado.
A mesquinhez do homem leva sempre a melhor, mesmo enquanto chefe de Estado, mais agora. Vingativo, pequenino, Cavaco dedicou-se ao revanchismo. Toda a gente se lembra da célebre novela das escutas em Belém...
O cargo de chefe de Estado perdeu com Cavaco o respeito que a todos merece. Como ex-chefe de Estado revelar conversas que a tradição sempre manteve reservadas, quebra uma regra de confiança institucional, e prova mais uma vez que Cavaco nunca foi um homem de Estado. As conversas de quinta-feira foram entre o Presidente e o Primeiro-ministro, não entre Cavaco e Sócrates.
Cavaco sempre pôs o homem à frente do cargo e os seus interesses à frente dos do país, e dedicando-se à vingança pessoal e à inconfidência, Cavaco revela o que sempre foi. Uma múmia cacique, arrogante e alcoviteira.
O seu testamento político será a de um chefe de Estado pequenino, que quis reduzir o país ao seu tamanho.
Espera-se agora que revele o que fez nos outros dias da semana. Pode ser que traga alguma revelação sobre os seus amigalhaços Duarte Lima, Dias Loureiro, João Rendeiro, Oliveira e Costa. Ou sobre as ações da SLN, ou sobre o BPN, ou então sobre o negócio do Pavilhão Atlântico ou ainda sobre a Quinta da Coelha. Sobre isso nunca falará...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

A sovietização que os esquerdalhos lançaram sobre o país

A sovietização que os esquerdalhos lançaram sobre o país é uma catástrofe histórica e pode muito bem ser o definhar definitivo de Portugal.
Senão vejamos o folhetim da CGD e de Centeno. Que Mário Centeno geriu mal todo o processo de substituição do Conselho de Administração da CGD não é novidade para ninguém. E todos intuímos que, mesmo que não tenha havido qualquer acordo formal em relação à dispensa de entrega das declarações ao Tribunal Constitucional, terá havido compromissos informais nesse sentido. Centeno e Costa não são inocentes. Há e terá que haver um julgamento ético de quem não quis assumir a consequência política de ter assumido um compromisso inaceitável. Mas será isto suficiente para fazer cair um ministro? Para a direita é claro. Se não cair, vão tentar fragilizá-lo, almejando até atingir António Costa de ricochete. A comissão parlamentar de inquérito à CGD, é o instrumento encontrado para o efeito, e gerido nos estúdios da SIC pelo bufo de serviço, disfarçado de comentador, Marques Mendes. E vale tudo, desde acusar o ministro de perjúrio, até tentar, atropelando a Constituição (aqui não há novidade, são coerentes) que se divulguem as sms's trocadas entre Centeno e Domingues. Estão dispostos a tudo, mesmo até à devassa da vida privada. Mas Centeno não cairá, é demasiado importante para cair, tendo até Marcelo saído em sua defesa. O esquerdalho-mor de Belém parece que gosta desta geringonça. Parece que há outras coisas que seguram o ministro. E das quais a direita tenta a todo o custo atirar poeira para o ar. O partido que foi liderado pelo irrevogável Portas está agora, tal qual virgem ofendida, chocado com a mentira de Centeno. Passos Coelho não consegue esconder nesta novela, por si criada e alimentada meses a fio, o seu laxismo e incompetência com todos os problemas que a banca nacional veio acumulando, assim como a sua vontade antiga de privatizar a CGD. E pelos vistos já toda a gente se esqueceu da mentira de Passos e das suas dívidas à segurança social. Isso sim, era caso para fazer cair um primeiro ministro.
Mas, ao mesmo tempo, a direita quer desviar as atenções dos números e da política de Centeno e da geringonça. Passos Coelho que chegou a dizer em entrevista que votaria nos partidos desta solução governativa se algum dia eles atingissem as metas a que se propuseram. Uma ideia absurda de devolução de rendimentos, de aposta no consumo e de acabar com a austeridade, que para Passos não podia nunca dar bom resultado. Afinal a sua cartilha neoliberal infalível não pode soçobrar perante um caminho alternativo de desvario das contas públicas e do regresso do despesismo e do diabo.
Esse diabo que a direita tenta encontrar em cada esquina, ansiando para que o país não atinja as suas metas e objectivos, guiando-se pela esperança do desespero e do fracasso português. Sem dúvida, uma estratégia patriótica, feita de casos e casinhos, cambalhotas, folhetins e da política rasteira. Foi assim com a TSU, é assim com a CGD. As sondagens mostram que os portugueses não gostam disso.
E agora os números e factos de que verdadeiramente a direita anda a tentar distrair os portugueses:
O indicador avançado da OCDE aponta para a continuação do crescimento em Portugal; o número de insolvências diminuiu 23% face a 2015; em novembro a TAP alcançou recorde de passageiros, depois da revertida a sua privatização; no 3º trimestre de 2016 Portugal obteve a maior subida de emprego da UE; as compras na rede Multibanco cresceram em dezembro mais 6,5% em relação ao mesmo período de 2015; a taxa de incumprimento das famílias no valor mais baixo dos últimos anos; pela primeira vez na história o país exportou mais electricidade do que a que importou; confiança dos consumidores no valor mais alto desde 2000; salários do sector privado com maior aumento da década; emissões de dívida com juros mais baixos de sempre e a bater recordes negativos; penhoras de imóveis caem 8,2% face a 2015; investimento empresarial cresce 6,5% em 2016; maior criação de emprego dos últimos 16 anos; salários da contratação coletiva com maior subida real dos últimos 6 anos; investimento de capital de risco em Portugal dispara 400% em 2016; agências de rating elogiam gestão "muito rigorosa" das contas públicas; têxteis portugueses bateram recorde de exportações em 2016; portos comerciais batem recorde de carga movimentada em 2016; exportações crescem 4,9% no último trimestre para um novo recorde anual; queda consecutiva do desemprego há meses e maior queda da OCDE em dezembro; Portugal cresce acima da média europeia pela primeira vez em 3 anos no 4º trimestre; contra todas as expectativas Portugal deverá crescer 1,6% em 2016; o défice não ultrapassará 2,1%, o valor mais baixo da história da democracia portuguesa.
É disto que a direita quer que os portugueses se distraiam, assim como do sucesso da via alternativa à austeridade neoliberal. Não haverá piruetas que lhes valham perante estes números.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

TSU

Ao contrário do PCP e do BE, o PSD não tem qualquer problema substancial com a redução da TSU para os empregadores. Não tinha em 2012, continuava a não ter em 2014, quando a defendia com os mesmos pressupostos da proposta agora apresentada na concertação social pelo PS. O chumbo a esta medida pretende apenas explorar as divergências na geringonça e emperrar o seu funcionamento. É um jogo político calculista e cínico. Tradicionalmente o PSD sempre fez da concertação social uma bandeira, e está na génese e no apoio de base dos seus princípios. Este bloqueio é mais um tiro no pé do seu líder, contorcionista e revanchista.
As diferenças entre a redução proposta por Passos Coelho e a atual são, no entanto, várias. Desde logo, estamos perante valores muitíssimo inferiores, com um regime transitório e apenas para uma parte dos salários e que tem como objetivo aumentar os salários mais baixos, não reduzir o salário indireto. Para além de só se aplicar aos novos e futuros contratos. A única diferença que o PSD aponta é não ser totalmente subsidiada pelo OE, e aposta aí todas as fichas.
A chico-espertice do PSD pode a médio prazo sair-lhe ainda mais caro, como já se viu com o caso da CGD. A falta de coerência tem sido tão gritante que não me espantaria nada que nas próximas sondagens o PS já aparecesse com uma maioria absoluta robusta.
No entanto, é necessário que o PS veja com preocupação o puxão do tapete à sua esquerda. A não ser que Costa esteja a prever outra coisa que para já ainda não passou pela cabeça de ninguém... Como uma moção de confiança...

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Mário Soares

Já muita coisa foi dita sobre Mário Soares. Muito faltará por contar. Até hoje não faltaram elogios e críticas. Não é de agora. Soares nunca foi consensual. A história vai-se escrevendo, não é uma ciência imediata, contrariamente ao imediatismo que as sociedades modernas exigem. Nem imediata nem mediata. Soares, por talvez ter vivido noutros tempos em que a política era uma arte nobre reservada aos grandes homens, nunca foi dado ao mediatismo e ao politicamente correto. A pressão dos media também não era a de hoje, principalmente nos anos em que Soares chamou a si a responsabilidade das lutas que tinham que ser travadas. E não foram tão poucas como isso. E não foram com certeza lutas menores. Foram as lutas pela liberdade e pela democracia. Que ele ganhou. 30 ou 40 anos depois já se pode fazer essa história. Lutou contra a iminência de, após o 25 de Abril, Portugal passar de uma ditadura de direita para uma ditadura de esquerda. Fê-lo, com coragem, na rua, correndo perigos. Fê-lo, com determinação, no exercício dos cargos que ocupou nos Governos Provisórios, na Assembleia Constituinte, nos Governos Constitucionais.
Soares foi o homem certo no tempo certo. Não há ninguém nos últimos 40 anos que mereça o lugar na história a que Soares tem direito. A legitimidade moral da sua luta contra o autoritarismo, a sua autoridade competente na afirmação da democracia pluralista e a sua resiliência foram um pilar da primavera da liberdade em Portugal.
Soares foi preso 13 vezes por desafiar e contestar a ditadura. Foi deportado. Foi exilado. Foi emigrante forçado. E retornou.
Soares nunca se escondeu e afirmou-se como político. Tomou decisões e defendeu opções. fez escolhas difíceis e assumiu-as. Escolheu lutar contra o fascismo e os saudosistas nunca lhe perdoaram, Escolheu a democracia liberal e a CEE e os comunistas nunca o suportaram. Escolheu a descolonização e os 'retornados' sempre o odiaram. Mas foram essas escolhas que definiram o país democrático e livre que somos hoje.
A descolonização continua a ser uma história mal contada. Quem critica Soares pela descolonização, muitas vezes com laivos de ódio, deve primeiro culpabilizar Salazar e Marcelo Caetano. Os verdadeiros culpados por uma guerra imoral e injusta que não deixou instrumentos para quem teve que resolver o problema pós guerra. Que não podia acabar com a guerra de imediato como se exigia, e ao mesmo tempo abandonar à sua sorte os portugueses que lá estavam, com a pressão externa dos EUA e da URSS. Ninguém naquela época teria feito melhor.
E muitos portugueses que regressaram, 'retornados', viviam bem com Deus e com o Diabo. Conviviam bem com a ocupação ilegal de países que diziam pertencer-lhes. E que não embarcaram de Portugal num navio e uma arma nas mãos para defender o que nunca foi nosso por direito. Esses são os que festejaram a morte de Soares. Esses, e os militaristas e comunistas que queriam instaurar uma ditadura do tipo soviético em Portugal. A história da descolonização ainda não está toda contada, mas já se vai fazendo. A história fará justiça a Soares, mesmo nesse aspecto.
Os velhos ódios regressaram com a morte de Soares, na pós-verdade das redes sociais, mas o país dos homens sensatos encheu uma semana de elogios.
Os velhos boatos, repetidos por novos ignorantes. Soares pediu a intervenção do FMI em 1977 e em 1983, mas comparar o contexto da época, pós ditadura de quase 50 anos e pós PREC, com o de 2011 é só para quem não sabe nem procura saber e reproduz o que ouve sem se preocupar com os factos.
A primeira intervenção, em 1977, aconteceu num período em que o país registava uma taxa de desemprego superior a sete por cento, os bens estavam racionados, a inflação era crescente chegando a alcançar os 20 por cento, havia forte conflitualidade política e o escudo estava desvalorizado.
A segunda intervenção, em 1983, dá-se durante o período do chamado bloco central, um Governo de aliança entre PS e PSD, liderado por Mário Soares. Foi quase um Governo de emergência nacional, criado por se considerar que seria a melhor forma de combater a grave situação económica do País.
Mesmo o pedido de adesão à CEE, e que visava dar consistência e desenvolvimento a um país atrasado no contexto europeu, foi uma luta travada por Soares contra a oposição radical de esquerda que preferia um país aliado aos interesses da URSS.
Soares foi intransigente na defesa da democracia. Soares mudou Portugal. E mudou-o para melhor.