terça-feira, 24 de novembro de 2015

A partir de agora

Após ter concluído as tarefas que Cavaco lhe incumbiu, Costa foi indigitado (ou indicado segundo consta da nota da presidência) primeiro Ministro de Portugal. Não escondo a satisfação por ver pelas costas a coligação que nos empobreceu e martirizou durante quatro anos. Quem não fica contente por ver sair de cena Paulo Portas ou Paula Teixeira da Cruz? Se calhar até uma grande parte da direita. Gosto de ver um governo do PS apoiado à sua esquerda após décadas de inimizade e a coxear. Sinto algum regozijo por ver Cavaco acabar a sua carreira política dando posse a um governo do PS apoiado pela esquerda dita radical. Bem tentou que assim não fosse e adiou o mais que pôde com manobras, chantagens e preconceitos o que era inevitável dado o período constitucional que se atravessa. Podia ter evitado a chafurdice da conclusão da venda da TAP que de tão transparente ameaça cair-nos na cabeça.
Mas a partir de agora também quero saber quem é que mente ou mentiu. Se a austeridade toda que nos impuseram era mesmo necessária ou se as promessas do PS não serão concretizáveis.
A partir de agora quero mais justiça social, quero mais controlo público sobre as negociatas financeiras de banqueiros, exigo mais igualdade para o interior do país, desejo mais investimento na saúde, na justiça e na educação. Quero um mapa judiciário mais acessível a todos (uma vez que começar tudo de novo é praticamente impossível). Quero que os despedimentos não sejam tão facilitados pela sua desbaratização. Quero menos burocracia e mais cultura. Exigo um governo sério e competente, de sucesso, porque os portugueses não perdoarão, após este ciclo, que assim não seja. No fundo quero tudo o contrário do que aconteceu nestes últimos quatro anos.
Cá estarei para fazer a minha fiscalização e crítica, ainda que destrutiva. O  mau incompetente só pode ser criticado de forma destrutiva... Não hesitarei... Para já na AR já foi aprovada a lei que permite que casais do mesmo sexo possam adoptar (com 20 votos a favor do PSD é certo, mas porque desta vez e como sabiam que a lei seria aprovada deram liberdade de voto). Aplausos...

Os seis trabalhos de Asté...HérculesCosta

Após ter ouvido os Simpsons nas consultas que efectuou a quase toda a população mundial, Cavaco incumbiu Costa de seis tarefas para o indigitar como primeiro Ministro. Os seis trabalhos de Costa, como na BD de Astérix, ou do mito Hércules, são os seguintes:

- Alcançar a paz mundial;
- Colonizar Marte;
- Inventar a viagem no tempo;
- Descobrir a Atlântida;
- Provar a existência de Deus;
- Unir a UE.

Costa já encetou viagem e encontra-se neste momento a caminho de Marte...


terça-feira, 17 de novembro de 2015

Je suis tout le monde

Perante a barbárie e a morte de inocentes a nossa crise política fica mais pequenina... Só espero que não sirva de justificação para o crescimento da xenofobia latente contra os refugiados que fogem disto mesmo.
Podia-se fazer todo um apanhado histórico para se melhor perceber o enquadramento que está por detrás do Estado Islâmico. Desde a Mesopotâmia, passando pelas cruzadas, pelo império Otomano, pelo abandono dos territórios pelo Reino Unido após a segunda grande guerra e a criação do Estado de Israel, com a falsa promessa de criação do grande Estado Árabe. Pelas mais recentes guerras e invasões do Golfo e do Iraque. Podia-se desenvolver toda uma teoria que juntou na região mais estratégica e mais disputada do mundo durante séculos várias religiões diferentes. O falhanço da primavera árabe e os muros e colonatos de Israel. Podia-se culpabilizar vários intervenientes políticos e Estados ocidentais que alimentaram ódios conforme a conjuntura do momento e venderam armas aos que depois se rebelariam. Podia-se dizer sem correr o risco de errar muito que o petróleo é peça fundamental de toda a engrenagem.
Podia-se tudo. O que não se pode explicar nem compreender é a forma como os radicais terroristas matam inocentes, e da forma como o fazem.
E a forma como o fazem é inadmissível e atenta contra todos os direitos da humanidade. O medo é a sua principal arma, e é aí que não se pode ceder. Nem ao medo, nem à tentação da xenofobia e do racismo, porque isso é tornar-mo-nos iguais a eles. E eles não são os árabes, nem o Islão. São os radicais e os terroristas. E são esses que não podemos deixar que se apropriem do nosso modo de vida.
Bem sei, que quando se sofre este tipo de ataques no nosso quintal, a onda de solidariedade e revolta é sempre maior. Mas não se pode ceder à tentação de menosprezar todos os outros ataques e todos os inocentes que  também morrem todos os dias nesses países árabes, em especial na Síria. Sob pena de hipocrisia.
A raiva do momento não deverá também tapar o discernimento necessário para atacar o problema na fonte e arrancá-lo pela raiz. Desta vez, se recorrerem às armas, façam-no sem subterfúgios. Façam-no pelos valores da humanidade. E de vez... Dure quanto durar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Cenas dos próximos capítulos

As cenas dos próximos capítulos são previsíveis. Passos Coelho apresentará um programa de propaganda para dificultar a vida ao PS. Já no dia de ontem o que resultou do Conselho de Ministros é um bom exemplo disso mesmo. O que até ao dia das últimas eleições eram medidas socialistas (e aqui uso o "socialistas" como adjectivo) e de despesismo irresponsável, são agora medidas perfeitamente viáveis. Se de um lado, como se diz, há sede de pote, do outro ninguém quer largá-lo.
Desde que esteja dentro dos limites da Constituição, é tudo perfeitamente aceitável. Pode é discutir-se o papel, os cenários, as ambições e desilusões, o passado e o futuro de cada protagonista e de cada partido político. O caos nasce sempre da ignorância e nunca do conhecimento. Os radicalismos, venham de onde vierem, não fogem à regra. O conhecimento é partilha, descoberta e sempre consensual. Só tem medo da novidade quem nunca se reconciliou com o passado. O passado só serve de base para construir o presente e alicerçar o futuro. E a novidade comporta sempre riscos. O receio é legítimo e bem vindo, mas a chantagem da propaganda do medo é redutora e perigosa.
Se no passado o PCP tinha uma matriz totalitária, ainda e quando dentro da lógica comunista da ex-União Soviética, também é verdade que o PSD e o CDS votaram contra a lei de bases que criava o SNS. Se se quiser falar de passado também é bom saber que o PPD/PSD de Sá Carneiro nasceu como partido de esquerda. Que o CDS/PP de Portas antes de ir para o governo de Durão Barroso era antieuropeísta.
O que se questiona, e que a direita questiona, é a legitimidade de BE e PCP poderem formar governo ou serem as muletas de um governo do PS que perdeu as eleições. Nunca valoriza a maioria de esquerda na AR. Mais, quem destruiu o consenso que havia no centro da política portuguesa em torno de um modelo social que nos guia há quatro décadas foi Passos Coelho. Foi Passos Coelho que em nome da glorificação da crise e dos sermões à província, baseado no rompimento ideológico da matriz do seu partido, quebrou o consenso com o PS, extremou posições e rompeu o diálogo. A maioria absoluta era o instrumento para pôr em prática a sua cartilha liberal e nela não cabia qualquer negociação com a esquerda. Foi Passos que semeou o vento que se transformou em tempestade. É sempre interessante ver como agora se fazem cedências, se apela ao diálogo e ao consenso, coisas que sempre desprezaram.
Que não haja dúvidas, quem corre grandes riscos é o PS. Se não houver acordo, ou se a estratégia correr mal, o PS pode ser afastado do centro decisório por largos anos. A fratura é hoje tão grande em Portugal que ninguém perdoará um falhanço nas negociações e na constituição de uma alternativa à esquerda. E esse acordo não se mostra nada fácil. A melhor forma desse acordo poder ser definitivo e responsabilizador era com o BE e o PCP no governo. Confesso até alguma curiosidade na hipótese remota de tal vir a suceder. De qualquer modo, a esquerda que sempre mancou de uma perna, pode agora fazer história e mudar o paradigma no país.
Que não haja dúvidas também que o BE e o PCP são partidos que têm o direito de poder governar ou de se posicionarem como apoio de governo. Que não haja dúvidas que o milhão de pessoas que votaram nesses partidos não são de segunda e que os seus votos em democracia valem tanto como os outros. Que não haja dúvidas que tudo o que está a acontecer é legal. Já ouvi expressões que falam em golpe, fraude e totalitarismo vindas de pessoas com responsabilidades públicas. O desespero nunca é bom conselheiro. E pela amostra de Calvão da Silva, o governo minoritário de Passos seria ainda mais desesperante que o anterior...