sexta-feira, 23 de maio de 2014

Palito

'Palito' é um homicida. Que o povo elevou a herói. Gostava sinceramente de perguntar aquela gente toda que o aplaudiu à entrada para o tribunal se teriam a mesma atitude se o 'Palito' tivesse assassinado a sangue frio, com tiros de caçadeira, as suas queridas mãezinhas. Se tivesse esfrangalhado a cara da sua querida filhinha, ou o corpo da sua bela mulherzinha ou do raio que os parta.
Ou estariam a aplaudir quem andou a gozar com o ministro da Administração Interna e com a ministra da Justiça durante um mês e que só foi apanhado porque se entregou?
Perante tudo isto, o Estado de Direito volta a fazer figura de tolo. Tem um palito enfiado nos dentes. A polícia andou a fazer turismo rural, demorou mais de um mês a apanhar um velho que todos na aldeia sabiam onde se escondia. Bin Laden não sabia da existência de Valongo dos Azeites, ou nunca teria sido apanhado. É incrível a leviandade com que as pessoas literalmente troçam da lei: ajudaram, alimentaram e deram guarida a um criminoso procurado.
E, suprema vergonha, ainda o aplaudem à porta do tribunal.
A fazer lembrar os ignóbeis de Lousada que queriam esfolar vivo Afonso Dias, após ter sido absolvido do rapto do João Pedro.
Ou os energúmenos que agrediram Francisco Assis em Felgueiras em defesa da também fugitiva e criminosa Fátima.
Exemplos não faltam, infelizmente, de pessoas tresloucadas e ignorantes de quem tenho vergonha de ser compatriota.
Sinais dos tempos. Tempos que pensei há muito passados.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Europeias?

E de repente parece que no próximo domingo há eleições europeias. Parece. Porque na verdade o que se discute  nada tem a ver com a Europa ou com o papel que cada um defende para o que seja a sua intervenção futura ou para o que foi a sua intervenção na crise. Como sempre em Portugal a politiquice rasteira e mesquinha continua a sobrepôr-se ao debate de ideias.
Sabemos que o candidato da Aliança Portugal, Paulo Rangel, antes de o ser, era crítico das medidas de austeridade cegas e brutais impostas pela UE e pelo diktat alemão e aplicadas pelo governo que sempre quis ir além da troika. Mas o lugar à sombra da bananeira do parlamento europeu fez com que invertesse a tendência e passasse a defender com unhas e dentes a acção governativa e a panaceia imposta. Talvez por isso, tenha também decidido retirar das suas intervenções de campanha, qualquer alusão aos problemas da Europa e à forma como esta decidiu combater a crise com a devida vénia do governo em funções. Preferiu o confronto revanchista com o "vírus socialista" e o ataque cobarde ao do costume, Sócrates. Portas aliou-se ao ataque e reafirmou a ideia de um exame a Sócrates em forma de uma indignação redireccionada, "Sócrates, o pai da troika", disse. Mas se quiseram ir por aí, a troca por um exame a Sócrates talvez acabe por se revelar uma surpresa. A estratégia assenta fundamentalmente num esquema de tapar o sol com a peneira, desviando as atenções da verdadeira indignação latente. Ninguém nega que as eleições europeias são sempre um exame intermédio à política nacional. Na verdade, já passaram três anos desde o chumbo do PEC IV, o pedido de ajuda externa e a chegada ao governo de Passos Coelho, Gaspar, Relvas e Portas. A perspectiva que os portugueses têm hoje desse período é muito diferente da que tinham então. Estaria o PEC IV em condições de evitar uma ajuda externa e uma passagem pela crise mais tranquila para os portugueses? Evitaria os números trágicos de desemprego, de défice, de emigração, de recessão e de aumento de impostos?  Sabemos que tinha o aval da UE e de Merkel. Sabemos que Passos aldrabou tudo o que podia na campanha eleitoral para chegar ao governo. Mas também é certo que com o PEC IV e outros que se lhe seguiriam, com certeza, a política seguida e a vida dos portugueses teria sido bem diferente. E de certeza absoluta que nos teríamos poupado a Relvas, Gaspar e ao vice Portas. Mas o que é mesmo certo, é que Portugal tem o que merece. Em nome de uma vingança e de um ódio que apenas se explicam pela inveja e pelo medo, inveja pelo que foi feito, medo que o povo se aperceba do logro em que caiu.
Marcelo entrou na campanha para dizer que não vota em Rangel nem em Nuno Melo, vota na Aliança que apoia Juncker, o 'luxem-burguês' que disse que "pessoas são iguais a mercadorias ou capitais". Esclarecedor.
No momento em que se impunha um debate sério e esclarecido sobre o papel da UE e sobre a forma de resolver a crise, ou sobre a fórmula que foi aplicada até aqui, a discussão política nacional é sempre mais redutora.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

葡萄牙

Ainda recordo com saudade a época em que era considerado quase um crime vender computadores na Venezuela.
Nos tempos que correm, vai-se à China tentar vender tudo o que os chineses possam comprar, numa campanha sem precedentes de um país em saldos...
Como se sabe, a China é neste momento o farol da democracia que guia toda a Ásia, e já manda em vários sectores estratégicos em Portugal. Estou tão contente que vou já começar a aprender chinês, mandarim e mais um ou outro dialecto que se fale por lá. Não quero ficar de fora da próxima grande revolução humana. E nunca se sabe, daqui a uns anos posso ter como patrão um senhor de olhos em bico. Quando a justiça, a educação e a saúde estiverem também completamente privatizadas. Já sei que é a ganhar o salário mínimo, que será ainda mais mínimo por essa altura, mas viverei feliz na minha palhota, porque saberei então que estarei a contribuir para a grandeza da grande República Popular de Portugal.

P.S.- O título deste artigo quer dizer Portugal em chinês (segundo o google).

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Cuecas e fraldas

Saída limpa tiveram o Oliveira e Costa e o Dias Loureiro e todos os cavacos que cometeram a maior fraude financeira de que há memória em Portugal. Usam fralda, por isso só se sente se há merda pelo cheiro. Os criminosos do BPN saíram limpinhos, mudaram a fralda e tudo se transformou em mera contra-ordenação com via verde para a prescrição. Ajudaram com a sua mão invisível a escavar mais uns bons metros no buraco do país. Isso sim foi uma saída limpa. Limpinha, limpinha...
O que Passos anunciou no domingo, foi a troca da fralda pelas cuecas reforçadas com abas. Cuecas roubadas aos trabalhadores, pensionistas, reformados e funcionários públicos. As reformas estruturais nem foram reformas nem nada têm de estruturais. Três anos a empobrecer um país, a delapidar património, a esvaziar o interior do país, a arruinar a economia. Desemprego, emigração e dívida pública a subir. De guerra aos trabalhadores e liberalização de despedimentos. Três anos de recessão alavancados no brutal aumento de impostos e na austeridade cega. Três anos de inconstitucionalidades há muito programadas, alicerçadas em pressões antidemocráticas a órgãos soberanos de um país, vindas do próprio governo, mas também de instituições tecnocratas europeias. Um memorando que é ele próprio inconstitucional à luz da nossa lei. A lei que deve e tem que ser aplicada, não a do FMI ou a do BCE. A Europa esfrangalhada e dividida também ela a precisar de fralda. A troika veio a Portugal fazer o favor a Passos Coelho de lhe legitimar a cartilha ideológica que tinha em mente e como estratégia. A estratégia do dr. Relvas e do Gaspar. Do irrevogável (infelizmente) Portas que não conhece a porta de saída. A dos fundos...
E para acabar em beleza, nada melhor que o DEO (Documento de Estratégia Orçamental), exigido pela troika e aldrabado pelo governo. O DEO que 15 dias antes da sua divulgação Passos Coelho jurara não conter aumento de impostos. Sabe-se agora que o IVA não é um imposto. E que a TSU aumenta. Coisa de nada. E que a CES muda de nome em modo mais levezinho. E que vigora até 2019 mesmo havendo legislativas em 2015. Portanto a troika sai sem sair... Que é como quem diz, acautela o que tem que acautelar. Mas Passos não se fica por aí, e em ciclo eleitoral, o que se avizinha e o que se vê ao virar da esquina, promete um aumento gradual de reposição dos salários na função pública para os próximos anos, a começar, adivinhem... em 2015 pois claro.
Três anos de economês político, em que um pontapé numa pedra fazia um economista. Um economista como Cavaco que pergunta hoje no facebook onde estão os que defendiam há menos de seis meses que Portugal não evitaria um segundo resgate? Onde estão? Hã? Toma!!! Vai buscar...!!! Eu sei, parece um puto que marcou o golo decisivo ao amigo gordo que o provocou o jogo todo... E todos sabem que o amigo gordo é Seguro. E a equipa de Cavaco é o governo. É assim o nosso PR.
O papel higiénico é por estes dias um bem raro que só serve entradas e  não saídas. A legitimação das políticas de austeridade acaba com a saída da troika, mas só no papel, porque continuarão a andar por aí a enfardar pastéis de Belém. O discurso da saída limpa e do fim da crise, tal como anunciada por Passos ainda ontem, é a propaganda que vai encher a boca e o rabo aos limpinhos trauteares do sebastianismo bacoco, tão típico de quem não pensa pela sua própria cabeça, e come tudo o que lhe põem em frente aos olhos. 
Saída limpa... Pois... Parabéns... Mas o país vai continuar na merda...