quinta-feira, 26 de julho de 2012

Reserva de caça grossa

Os 25 mais ricos de Portugal têm uma fortuna avaliada em 14 mil milhões de euros. O desemprego em Portugal atinge os 16,2%.
Enquanto o verão mete férias, e o gelo derrete na Gronelândia, o mosquito continua a sugar o sangue como quer. O mosquito da sacanice, mais conhecido por banqueiro investidor, ou então a sua sub-espécie, o especulador, continua a atacar nos mercados os mais desprotegidos.
Assim, e à falta de antibióticos, porque o SNS não consegue dar resposta a tantos pedidos, agora que o Estado Social começa finalmente a ser desmantelado, numa espiral de ajuste de contas com o passado, onde só vê números e não vê pessoas, o individuo desprotegido compete por baixos salários, numa corrida à entrada na lista dos 25 mais pobres.
Os tubarões dão-se bem com o mosquito porque têm a pele protegida e fizeram um pacto de não agressão, num conluio negociado nas lojas da maçonaria. A justiça a esses não se  lhes aplica, porque quem furta milhões merece louvor, quem furta uma maçã merece castigo... Esses tubarões, os abastados dos interesses e dos lobbies, e a sua sub-espécie, o político bajulador e oportunista, dão-se bem em oceanos desregulados e só em França e na Irlanda começam a ver as suas barbatanas em risco.
De outro lado aparece também o polvo, com vários tentáculos, é um polvo com uma transformação genética num evolucionismo que é ao mesmo tempo e paradoxalmente um retrocesso civilizacional. Tenta controlar a quem se vende os mais preciosos activos do país, camuflando assim, lugares de prestígio e de riqueza, onde a sua influência será garantida no futuro, quando o barco for ao fundo, permitindo-lhes assim usar o Estado de uma outra forma, que não o corte na despesa de organismos públicos e empresas municipais fúteis, quase inactivas e deficitárias. Aí também o polvo tenta proteger alguns lugares de favor, que poderão dar alguma estabilidade na manutenção do status quo e da poltrona com vista para o mar onde abundam os tubarões. O polvo neo-liberal é também populista e conta com colaboradores que usam expressões do género "que se lixem" e outros que fazem questão de 'arranjar' um dr. antes do nome.
O polvo permite que o tubarão faça a caça nas suas águas, mesmo que o tubarão venha da China ou de Angola. Anula com outros polvos da Europa qualquer hipótese de os indivíduos desprotegidos poderem vir a adquirir qualquer espécie de repelente contra os mosquitos e/ou antibióticos para quando já foram infectados. Aniquilando assim a espécie do individuo desprotegido, e colocando nesse patamar os outros mais desprevenidos, quer porque lhes retira poder de compra, com salários baixos e despedimentos ad hoc, quer porque o lança no desemprego ou o manda para o estrangeiro, o polvo consegue assegurar que o capitalismo é mesmo selvagem, numa reserva de caça protegida, onde só entram tubarões e mosquitos...
A selva, já com as cercas a arder, que protegiam os indivíduos desprotegidos e desprevenidos, é o sonho de qualquer predador, agora que se permite caçar sem quaisquer regras, proibições ou limitações.
Depois da cerca arder por completo, e a caça acabar, os polvos, os tubarões e os mosquitos regressarão a casa para gozar a merecida reforma, ou numas férias pagas com os juros e rendimentos resultantes da venda da caça grossa...
A selva e os oceanos, esses, nunca mais serão os mesmos...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A solução adiada

O debate parlamentar sobre o Estado da Nação foi um não debate para cumprir calendário e cumprir a tradição, no seguimento do não assunto do caso Relvas. O debate sobre o mapa judiciário e o sistema prisional serviu para coisa nenhuma, pois tanto os deputados como a ministra da justiça se fartaram de repetir que ainda não havia projecto para discutir e votar, uma vez que este ainda não estava concluído e portanto, iam ter que repetir tudo de novo...
Hollande e Merkel parecem ser agora tão amigos como quando no tempo de Sarkozy. Os mercados não se compadecem com emergências, não querem saber de pactos de crescimento e do simbolismo político de processos de intenções, de recuos mais do que avanços e de negociações em cimeiras inócuas marcadas para quase todas as semanas.
O caso do Barclay's demonstra como a banca e os investimentos não aprenderam nada com a crise, chegando-se ao ponto de serem os próprios gestores, não os do Barclay's, pois claro, a pedir mais regulação. A situação periclitante da França, a contas com níveis de despesa perigosos, não lhe permitem equilibrar os pratos da balança com a Alemanha. Os PIIGS, em último recurso, tomarão parte do lado do dinheiro, e num futuro choque entre alemães e franceses, optarão pelo mais forte, e por quem dependem para salvar o coiro...
Entretanto, e desesperadamente, enquanto alguns tentam manter o pescoço à tona, a austeridade é a bíblia que se descose numa ladainha imperceptível, como a beata no altar...
O Tribunal Constitucional (apesar de existirem algumas lacunas no acórdão), decidiu que os cortes dos subsídios eram inconstitucionais. Goste-se ou não, um dos aspectos positivos de tal decisão, foi a certeza de que para já a nossa Constituição ainda é a nossa Lei Fundamental, o do topo da hierarquia.
Uma pequena nota para desmistificar o papel de Cavaco, que ao alertar para a possível inconstitucionalidade dos cortes, no entanto, nada fez, quando o diploma lhe chegou às mãos, quando, se não concordava, podia ter usado dos poucos poderes que tem... ou o veto, ou o envio para o TC, quer numa fiscalização prévia, quer sucessiva... Aliás, em abono da verdade, os cortes dos subsídios não constavam do memorando assinado com a Troika...
A falta de coragem e de ação são hoje por hoje dos principais obstáculos para uma solução na Europa e só depois, (desenganem-se), em Portugal. A única coisa que Portugal pode fazer por si só é tentar libertar o sector económico da asfixia em que se encontra, e foi precisamente o caminho contrário que o governo escolheu; já todos sabemos que é assim que Gaspar e Passos Coelho pensam. Ir além da Troika, tentando sair dela o mais rápido possível, e por questões ideológicas... O problema é que esse caminho é errado, como se pode ver pelas consequências da recessão e do desemprego.
Soluções? (existem!)... Baixar para a taxa mínima o IVA da restauração e turismo; mais tempo para atingir as metas do défice orçamental, que conduziria a uma maior folga orçamental, com menos austeridade, e possível crescimento económico, com tudo o que lhe vem associado, nomeadamente em matéria de desemprego; reorganização e renegociação de todas as PPP's; efectivo corte nas empresas e institutos do Estado; sobretaxa do IRS para sector público e privado, à imagem do que foi feito em Dezembro do ano passado; tudo isto significa um pacto de crescimento;... pena é que o PS não consiga, ou não queira explicá-lo com medidas concretas.
A Europa, tal como Portugal, continuam adiados...

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Relvas 'Gate'

Em nome da coerência e do bom senso, necessário se torna tecer algumas considerações sobre o badalado 'Relvas Gate'.
Mário Soares disse que a maioria do povo português quer um novo governo... À luz das últimas sondagens tenho algumas dúvidas, para já...
Marcelo Rebelo de Sousa disse que a manifestação a favor da demissão de Relvas era ridícula... Concordo, afinal de contas também lá estava a Manuela Moura Guedes, e isso diz tudo acerca da qualidade da manif...
D. Januário, bispo das forças armadas disse que este governo era corrupto... Discordo, até ver não há indícios disso, no limite será apenas um ministro...

Dito isto, e porque a memória em Portugal é curta, lembro apenas que a situação do sr. ministro Relvas não é comparável à de Sócrates. A saber, Sócrates fez todos os exames do curso; terá havido favorecimento para completar as 4 cadeiras que lhe faltavam na Independente?, admito que sim, mas já tinha o bacharelato com 28 cadeiras feitas. E não, se houve favorecimento, como tudo indica e em abono da verdade, não é desculpável... O caso de Relvas é muito pior, e é como um murro no estômago de quem se arvorou em pedagogo da transparência, em que o alvo e o exemplo de todo o mal se concentrava na figura de Sócrates. A esses, Relvas, sem quaisquer estudos, ensinou que a vida é sempre mais complicada, e que quem tem telhados de vidro, deve fazer política com sentido democrático, sem bodes expiatórios e artimanhas de bastidores, porque um dia o céu cai-lhes em cima da cabeça... Sócrates ao pé de Relvas é um menino, no que a licenciaturas diz respeito... a saber:
Relvas fez 1! cadeira de Direito Constitucional, e obteve equivalência às 32! do curso de Ciência Política na Lusófona. Um percurso de vida brilhante garantiram-lhe o aplauso geral e a vénia académica. E se analisarmos esse percurso de vida, para além de deputado, envolvido nas já esquecidas 'viagens fantasma', todo o seu percurso foi feito na Jota, e por isso foi deputado, onde angariou conhecimentos e influências, que lhe permitiram ser 'consultor' e não mais que isso, em algumas empresas de irreconhecíveis méritos, nos intervalos da sua vida parlamentar. Teve uma passagem fugaz como secretário de estado no governo de Durão Barroso, onde em 2002 inaugurou os serviços técnicos da autarquia de Murça, já devidamente identificado como dr., quando a sua 'licenciatura' é de 2007! A placa por lá perdura...

A ânsia de reconhecimento, de poder, de notoriedade fazem de Relvas um exemplo do país de chico-espertos que por aí pululam, agora cada vez mais, drs. chico-espertos. Saltando de cadeira em cadeira, denegrindo a imagem de quem quer ser sério, fazendo da educação um meio de favor de grau académico, minimizando e ridicularizando o esforço de tantos, desempregados licenciados ou a ganhar o salário mínimo, ou então de outros emigrados/exilados à força, porque o seu país não lhes reconhece o esforço e a capacidade, em lugares ocupados por lambe-botas engravatados, sem pudor nem princípios, e menos ainda mérito...

Este caso ajuda também a perceber em que estado se encontra o nosso ensino superior, concretamente, o privado. O ministro da educação, após um silêncio ensurdecedor, lá veio a muito contra-gosto instaurar um processo de inquérito à Lusófona, para inglês ver...

Concluindo: o sr. ministro Relvas devia demitir-se? Somando o caso da licenciatura, ao das pressões no caso Público e ao das secretas... hummm... se calhar o governo agradecia...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

O bosão de Higgs

Não, não vou ter a pretensão de dissertar sobre física quântica. Sou um verdadeiro leigo na matéria. Mas como qualquer mortal questiono-me sobre as mais diferentes vicissitudes do ser humano e do mundo que o rodeia. Não, também não sou filósofo. Sou curioso... Partículas e átomos passam-me ao lado, literalmente.
Quem me conhece sabe que sou ateu 'quase' convicto. E a relação desse quase, relacionado com o bosão de Higgs é uma mera coincidência, ou talvez não.
A saber, a ciência tenta explicar a evolução, a criação, e o modo e a essência de que somos feitos, a matéria do universo, as leis e teorias que fazem com que estejamos aqui, e ter consciência do 'eu', a nossa relação com os outros e a nossa relação com o universo. Diz-se que só se conhece 4% do universo... o resto fomos descobrindo.
O bosão de Higgs, a 'partícula de Deus', mal traduzida de um livro, que no original era a 'partícula maldita', tenta explicar a origem do universo, o 'big bang', ou melhor, abre caminho para novas perguntas. É certo que Galileu abriu o caminho para a ciência moderna, e ao contrário do que se possa pensar, era um cristão assumido. Darwin teorizou a evolução humana, sabendo-se hoje que foi esse o caminho. Sabemos também que a religião demora a adaptar-se às evoluções humanas, numa tradição antiga de poder, que se esfuma ao virar de cada década. Tenta explicar tudo através de uma abordagem diferente, numa época em que a tecnologia não conseguia dar resposta aos anseios humanos, principalmente nas trevas da Idade Média. Parábolas e interpretações mitológicas, metáforas e crenças não empíricas, assim se constrói uma religião, e uma igreja de homem para homem. 
A curiosidade humana é tão vasta quanto a sua ambição, tão ambígua quanto a sua capacidade de percepção e de mente desafiada. O cérebro humano é tão desconhecido quanto o universo, e a sua definição é hoje também uma ciência oculta, tal qual a matéria negra que dizem ser preenchido o universo.
A ciência explica como se forma o céu, a religião diz como lá se pode chegar. Uma e outra não são incompatíveis, como já foram. Eu simplesmente gosto de acreditar que 2+2 são 4 e não que serei imortal no paraíso se me portar bem...
Tal como a religião não consegue dar respostas credíveis, palpáveis, coerentes e lógicas, desmentidas que são as suas todos os anos, também a ciência não consegue ainda explicar a alma humana, essa vontade insaciável do saber, o porquê de nos apaixonarmos, de nos emocionarmos com uma música que nos arrepia, que nos faz recordar, que nos faz sentir tristes ou alegres, a sensação de medo, o pavor da perda, o temor do desconhecido, a sensação de calor ao olhar para uma filha - com desculpa à mãe! - que é a nossa cara chapada, a ansiedade do regresso, a saudade e a felicidade suprema da realização pessoal, o ódio e a mentira, a inveja e a amizade, o prazer e o amor...
O bosão de Higgs pode ser que consiga no futuro levar ao caminho de saber como tudo começou, mas não saberá explicar o que havia antes de começar, onde é o inicio e porquê, o que estava antes do 'big bang', e certamente não explicará a essência da alma e do ser humano.
Por tudo isto sou um ateu 'quase' convicto... a dúvida é o inicio de todas as perguntas...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Universidade para génios

Existem certas universidades bem interessantes em Portugal.
Dão cursos intensivos de um ano e o diploma garante que não se terá um salário de 4€ por hora... mas sim um salário condigno no governo, juntamente com os bacharéis e incompetentes do costume.
Noutras universidades incentivam-se os alunos a contraírem um empréstimo para pagar as propinas, e noutras ainda é possível ter um certificado dominical...
Assim vai a educação em Portugal, ao nível de todos os outros sectores... uma merda!