terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Crónica de uma morte anunciada

Chegados aqui, finalmente começam a vislumbrar-se as contas de 2011. O 'desvio colossal' tão apregoado e que deu origem ao corte de 50% nas pensões e salários dos funcionários públicos, teve um valor de 1.863€ milhões  e deveu-se afinal à quebra de receitas, que ficaram 2332€ milhões abaixo do esperado. O 'desvio' não foi, como intencionalmente se quis fazer crer, fruto de despesismo e descontrole nas contas do Estado. Foi, isso sim, como agora se conhece, uma quebra de receitas, vindas fundamentalmente de haver menos descontos para a segurança social e menos colecta de IVA. A tudo isto não será estranho, obviamente, o crescente desemprego, o corte nos salários e pensões, a austeridade com a consequente recessão, a quebra produtiva, e, claro, a fuga de capitais e ao fisco. Sem querer usar de alguma falsa modéstia, pergunto se isto não é óbvio para todos, se a reacção não é consequência da acção? Fugindo até ao facto, de poder haver, como assim parece, uma mensagem de propaganda governamental de querer atirar areia aos olhos dos mais desprevenidos, justificando com o medo do 'desvio colossal', uma série de medidas que de outro modo poderiam ser ainda mais difíceis de encaixar. Não faltam, contudo, avisos de que este ano tudo será ainda mais imprevisível. Não faltam avisos que a austeridade em cima de austeridade, nos condenará à bancarrota, a um segundo resgate e por fim à saída do euro. A estratégia deste governo de tirar e espremer tudo o que pode agora, para reaparecer em grande em 2015, nas próximas eleições, e aí poder esbanjar direitos e regalias, inclusive baixar impostos, poderá ser uma estratégia de falência já este ano, e portanto, um tiro no pé, do governo e de cada português, bem, de uma larga maioria de portugueses.
É chegada a hora de deixarmos de ser os meninos bem comportados, paus mandados da Sra. Merkel, cujo objectivo é, viu-se esta semana, com a proposta de perda de soberania económica da Grécia, a 3ª via do imperialismo perdido em duas guerras mundiais. O fim das democracias, substituídas por tecnocracias capitalistas de mercado, ditará a breve trecho o fim da UE tal como a conhecemos, um espaço de liberdade e progresso, que se esfuma ao cintilar de um cifrão. A chantagem usurária é, e não me canso de o repetir, a nova forma de governo de Estados  menos soberanos, ajoelhados de esmola na mão, geridos por cobradores de fraque, sem serem eleitos por ninguém, e representantes deles próprios. É pois o tempo de, despojados de qualquer preconceito ideológico, os povos europeus retomarem as rédeas e entregarem o poder político aos seus reais donos. Ou sim ou sopas! Ou há Europa, numa verdadeira escala de integração europeia, solidária e com princípios bem definidos, ou então é o caos...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A estratégia do Rei

"O Governo vai propor aos parceiros sociais a eliminação do 5 de Outubro e do 1.º de Dezembro, da lista de feriados obrigatórios", anunciou hoje o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, no Público.
O Álvaro veio do Canadá, onde esteve muitos anos a aprender e a ensinar como se constrói um Estado liberal, próspero e concorrencial. O Canadá que é um dos países mais desenvolvidos do mundo, mas que é uma monarquia constitucional, regida por um governo parlamentar e que tem como Chefe de Estado a Rainha de Inglaterra, nada tem a ver, portanto, com o nosso rectângulozinho à beira-mar plantado.
Quando cá chegou, o Álvaro, depois de ser convidado para ministro da economia, vinha com um sonho: aplicar a Portugal a receita canadiana. Mas, o que encontrou foi um país definhado, afogado em dívida e atado pelos seus congéneres europeus.
Então o Álvaro logo tratou de delinear uma estratégia que pudesse abrir caminho ao seu sonho. Ajudado pelos seus apaniguados neo-liberais, começou a pôr os tugazinhos na ordem. Primeiro desbarata-se o trabalho, liberaliza-se o despedimento e cortam-se os salários. Castiga-se a classe média com austeridade e empobrece-se o país para ficar mais barato a quem o queira comprar às peças. Privatiza-se o sector empresarial do Estado, mesmo que se venda à grande e liberal 'democracia' chinesa.
A seguir o Álvaro definiu como estratégia exportar os pastéis de nata, e se conseguir vender dez a cada chinês, resolve-se o problema da dívida.
Por fim, acaba com a noção da República em Portugal, elimina o feriado do 5 de Outubro e abre caminho à monarquia, chama a Rainha de Inglaterra, serve-lhe um chá das cinco com um pastel de nata, e explica-lhe que também nós não queremos o euro. A senhora delicia-se com a iguaria e sai convencida que Portugal é uma monarquia que merece fazer parte da Commonwealth. O último passo é adoptar a língua inglesa como língua oficial e trocar Camões por Shakespeare, e assim acabar finalmente com o estorvo que representa o 10 de Junho. Como a religião predominante em Inglaterra é a Anglicana, reformada e protestante, está o caminho aberto para acabar também com os feriados católicos portugueses, que dúvidas não haverá, serão enfim inconstitucionais porque a nova monarquia terá também a tão almejada nova constituição. Assim se acaba também com as queixas de Cavaco, porque o novo Chefe de Estado português será a Rainha de Inglaterra, que como toda a gente sabe, não tem problemas nenhuns para suportar as suas despesas, uma vez que não vive acima das suas possibilidades. O Canadá nunca teve praias e sol como aqui neste cantinho. Parabéns Álvaro por seres um visionário.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Desconcertação social

1- João Proença, líder da UGT, diz que assinou o acordo mais penalizador de sempre para os trabalhadores em Portugal, porque foi ameaçado pelo governo e persuadido por activistas da CGTP, que por sua vez abandonou as negociações. Várias associações sindicais pertencentes à central sindical que João Proença 'lidera' vieram dizer que não se revêem na posição assumida por este.  A meia hora de trabalho extra que o governo deixou cair, foi claramente uma subtileza negocial de pedir o impossível e aceitar o pretendido. João Proença não se apercebeu. Não foi enganado, foi incompetente. É sempre de desconfiar de sindicalistas de carreira, retrógados e acomodados. Que protegem o próprio 'emprego' em vez de proteger o dos outros, como era suposto. Os patrões estão felizes e isso resume tudo.
Passos Coelho veio, claro está, congratular-se com o alcançar de mais um objectivo da sua agenda neo-liberal. Mas, com uma ressalva, meteu Cavaco ao barulho ao anunciar a sua discreta participação no 'negócio'. Assim como uma criança que é apanhada na traquinice, e imediatamente, quando questionada, acusa logo 'não fui só eu!'. Tem, no entanto, um mérito, conseguiu dividir para reinar.
Agora é que a competividade e o emprego vão finalmente entrar nos eixos. Para além de ser altamente improvável, será feito á custa dos trabalhadores. Mais incerteza, mais desconfiança, menos direitos, mais desigualdade, com a consequente maior subjectividade e discricionariedade para os patrões e a baixa acentuada dos salários e indemnizações por despedimento, até chegar a um nível mais ou menos chinês, se calhar com contratados chineses. Portugal sem portugueses é bem mais fácil de governar. Emigrem portanto. Pormenores sem importância para quem vive de reformas acumuladas com direitos adquiridos.

2- O novo PS de conflitos e oportunismos, com falta de liderança mais que óbvia, e onde uns poucos ressabiados pouco democratas decidiram pedir a fiscalização sucessiva no Tribunal Constitucional das medidas do governo de cortes dos subsídios, assim como uma espécie de solidariedade pouco solidária com o Banco de Portugal e a CGD. E as medidas podem até ser declaradas inconstitucionais, mas o PS, com ou sem declarações de voto, viabilizou o Orçamento de Estado que as instituiu. Basta atentar nos nomes dos subscritores: Alberto Martins, Paulo Campos, o grande estadista e livre pensador José Lello, entre outros, e todo o grupo parlamentar do BE. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

As contas 'austeras' de Gaspar

O défice externo de Portugal em 2011 deveria, e segundo o acordo firmado com a Troika, situar-se abaixo do limite de 5,9% do PIB. Com a transferência dos fundos de pensões da banca para o Estado (numa engenharia financeira já utilizada por outros governos, contas de merceeiro à portuguesa portanto), a meta foi largamente cumprida, e o défice ficou nuns gloriosos e eficazes 4% (o défice real foi de 7,1%). Uma lição de economia com que Vítor Gaspar nos brindou, um autêntico milagre.
Mas, como neste país de chico-espertalhões, não há bela sem senão, esqueceu-se o prodigioso mestre das finanças (que fala num tom monocórdico e lento, como um professor a dar aulas a atrasados mentais), que as pensões têm que agora ser pagas pelo Estado aos pensionistas bancários. Agora e no futuro. O valor  a ser pago em 2012 é de €478 milhões. Ou seja, o que era evidente para qualquer pessoa, mesmo a mais leiga na matéria, não foi equacionado pelo brilhante Gaspar. Assim, como a operação não foi contabilizada no Orçamento para 2012,  e juntando-lhe €1500 milhões vindos da liquidez dessa mesma operação e que serão utilizados para pagar dívidas dos hospitais EPE, o défice para 2012 cuja meta seria de 4,5% do PIB, vai situar-se nos 5,4%, que correspondem a um acréscimo desses 0,9% extra de dívidas hospitalares. Faltam então contabilizar os tais €478 milhões, que correspondem a 0,3% do PIB. Um pequeno erro de cálculo que obrigará a mais austeridade, por muito que o Ministro diga que não. No fim de contas, os do costume vão pagar também as reformas dos bancários; falta saber se não pagaremos também os erros nas contas das administrações dos hospitais EPE.
Com um Ministro da Economia que quer vender e exportar pastéis de belém como solução para a revitalização do sector, um Ministro das Finanças que não sabe fazer contas, um Primeiro-Ministro que nos manda emigrar e protege os seus amigos, com uma recessão que se vai situar à volta dos 3%, com mais austeridade, mais taxas, mais recessão, mais austeridade, mais impostos, mais recessão (acho que já perceberam), é este o caminho que cegamente nos impingem, nem que para isso se venda Portugal a retalho, como um cão chinês servido em bandeja.

P.S.- Alberto João Jardim continua a chantagem como se não fosse ele que precisa de dinheiro e o responsável pela fraude na Madeira. Tem razão contudo num ponto, ao não assinar um acordo que seja impossível vir a cumprir, ao contrário do que nós 'cubanos' fizemos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

É a moralidade, estúpido!

Todos os governos o fizeram,... mais ou menos, mas fizeram. As nomeações para cargos públicos ou empresas públicas faz parte do status-quo português, de favores, de cunhas e amizades. As excepções são as nomeações por mérito, e algumas terão havido. Mas o que se está a passar com as nomeações para a EDP e para as Águas de Portugal roça o ultraje e o atrevimento. O despudor é tão grande que se faz tudo nas nossas barbas e com arrogância. É sobretudo uma questão de moralidade e de respeito. De respeito pelas vítimas da fome, da miséria, da crise e da austeridade. De moralidade, porque este era o governo que não ia nomear boys.
A mesma falta de moralidade que Alexandre Soares dos Santos teve, quando, recentemente, transferiu a sede da Jerónimo Martins para a Holanda, um regime fiscal mais benéfico. Não porque seja ilegal, afinal já lá estão as sedes de 19 das 20 empresas que constituem o PSI20. E até porque o governo nos aconselha a emigrar. Mas as súplicas de patriotismo que o 'benemérito' Alexandre andou a fazer em 2011 são o último grito da chafurdeira na lama.
Manuela Ferreira Leite mandou os idosos pagar a factura da hemodiálise. Oxalá nunca venha a necessitar de tais cuidados, porque velha ela já é, falta saber se está senil...
Um estudo encomendado a um qualquer instituto que não me lembra agora o nome, defende que deve ser proibido fumar à porta de bares, discotecas, cafés e restaurantes. Os energúmenos autores de tal disparate, deixaram-me a possibilidade de poder fumar à porta de farmácias e hospitais...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Os bastidores do poder

Portugal demora quase tanto tempo como a Igreja Católica a adaptar-se e a encarar a verdade. Assim como aconteceu com a crise internacional que não existia no tempo de Sócrates, agora e após vários escândalos de incompatibilidades, tráfico de influências, negociatas e favores, com as secretas e a maçonaria à mistura, parece que se começa a abrir a pestana. Só para citar alguns nomes, lembram-se de Branquinho?, ex-deputado do PSD,  que durante um inquérito parlamentar perguntou "o que é a Ongoing?", antes de ingressar nos quadros da Ongoing Brasil; e Bernardo Bairrão, afastado à última hora da lista de Secretários de Estado do novo governo, porque era administrador-executivo da TVI e era contra a privatização da RTP, a mesma que a Ongoing era a principal interessada na sua aquisição; Silva Carvalho, ex-director do SIED, com o célebre caso de espionagem e contra-informação para a Ongoing, membro da loja Mozart maçónica; e agora Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, membro da mesma loja maçónica, que era suposto  investigar as secretas num inquérito parlamentar, e que cujo relatório a essa mesma investigação foi alvo de uma pequena emenda de modo a esconder as relações entre essa loja maçónica, alguns dirigentes do PSD, as secretas e a Ongoing...
Não conheço o que é a maçonaria, não conheço os seus meandros e objectivos. Só não percebo o carácter obscuro, e que ninguém diga que é o mesmo que ser sócio de um qualquer clube. Compreendo que nem todos os seus membros sejam carreiristas ou negociantes, tal como na Opus Dei e outras organizações mais ou menos secretas. Não defendo que quem o seja tenha que o anunciar, ou a sua ilegalização, ou a sua perseguição e diabolização porque são secretas ou discretas, o direito de associação é garantia Constitucional desde que os seus fins não sejam ilegais, mas  no caso desta loja Mozart, é caso para perguntar onde é que reside afinal o verdadeiro poder. Na Assembleia da República, nas reuniões de avental das lojas maçónicas criadas para tomar conta do Estado, ou nos corredores da sede da Ongoing? A resposta estará algures em cada em uma delas. A instrumentalização, as influências, o favores de vão de escada é que mandam às malvas o mérito e a competência, em corredores sinistros de empresas que visam o lucro através da informação e do poder político. O perigo para a democracia está nestes golpes palacianos e nos seus bastidores. As nomeações para a EDP também não foram inocentes, pasmem-se com os nomes!, tendo o seu apogeu na nomeação de Catroga que negociou ele próprio com a Troika a privatização da empresa. Tudo ao invés do prometido, num governo que se arrisca a ser o pior de sempre. Que saudades do Freeport (ainda acham que foi inocente a perseguição da TVI a Sócrates? Ou a ida de José Eduardo Moniz, então director, marido de Manuela Moura Guedes para a Ongoing?) e das licenciaturas Independentes, porque o verdadeiro assalto ao Estado está agora em andamento. Uma lição para alguns, uma preocupação que deve ser de todos. É urgente que se diga sem medo, que a democracia está a ser substituída por uma coisa que ainda não sabemos bem o que é. Aqui como na Europa e no mundo. E não é para melhor pelo caminho que isto leva...

P.S. - Uma boa notícia esta semana. Bruxelas vai limitar o direito de voto na REN, no caso de ser uma empresa chinesa a comprá-la. A UE ainda serve.