terça-feira, 31 de maio de 2011

O alternativo está na moda

Lars Von Trier é um nazi que idolatra Hitler. Palavras do próprio. Desmentiu depois. O que o levou a proferir tais palavras foi única e simplesmente o desejo do choque mediático e instantâneo. Tentar ser desalinhado mesmo que á força. Sem olhar a meios, com a verborreia mental de quem sabe que vai ser polémico, independentemente do respeito devido á consciência colectiva de vítimas, familiares ou da humanidade em geral. A polémica vende. A mim não me vende mais nenhum filme...

Nunca fui dos que vêem, ouvem ou lêem só porque está na moda, porque é polémico, ‘in’, ‘cool’ ou alternativo. Tenho curiosidade, mas não lhe dou muita importância. Von Trier está na moda porque é alternativo e polémico. Já cedi várias vezes à tentação. Confesso. Mas nisso sou preconceituoso. Confesso. A expectativa ‘do que está na moda’ incomoda-me, e portanto toda a ilusão se esgota quando cedo à curiosidade. Geralmente, a expectativa gora-se numa profunda desilusão. Por isso mesmo. Pela expectativa. Claro está que há tremendas excepções... As séries de televisão são do momento, ficam na moda e gosto de muitas delas. Tal como um livro revolucionário na escrita, no estilo e nas ideias. Dan Brown é um bom exemplo. Mas a moda gasta-se rapidamente se o conceito for sempre igual. E outras das vezes, só mais tarde, quando toda a ilusão se evapora ou a moda passa, dou finalmente o braço a torcer... Assim foi com Saramago, ou com M. Sousa Tavares, mesmo até com Kusturica ou Tarantino.

O Big Brother por exemplo já estava inventado. Orwell com ‘1984’. A forma de lhe dar expressão foi o reality-show nauseabundo a que todos assistimos com voracidade. Toda a gente sem excepção espreitou, por muito que o neguem. Sou, por assim dizer, resistente ao popular alternativo de uma intelectualidade que só alguns conhecem. Principalmente ao alternativo da necessidade de afirmação só porque é diferente e poucos conhecem. A arrogância da sabedoria saloia que esquece as bases de onde tudo partiu como se tudo o que é novo não se baseasse numa evolução já descoberta. Os grandes saltos evolucionais não são alternativos, são de conhecimento geral. E não se é alternativo porque se é diferente ou vice-versa.

David Lynch já esteve na moda porque era alternativo. Posso hoje afirmar, com toda a certeza de quem já julga saber que ser ‘cool’ é uma forma de afirmação, que só gostei de três filmes do David Lynch. A saber: ‘Blue Velvet’, ‘A Simple Story’ e ‘Dune’. Não gostei dos outros porque não os entendi. O próprio realizador disse numa entrevista uma vez que nem ele os percebia. Vi a série ‘Twin Peaks’ porque estava na moda. Vi os seus últimos filmes pela mesma razão. Tenho que saber o porquê de tanta gente falar deles. Cheguei à mesma conclusão. O homem é um génio porque ninguém percebe o que se passa. E tal como eu, toda a gente se gabava de não ter percebido nada. Eu sei que um filme não é só o argumento. Mas se não perceber a mensagem, ou pelo menos desconfiar do que se trata ou pretende, desculpem a enormidade, mas não será mais do que duas horas num qualquer domingo (não sei se perceberam a analogia com o filme ‘Any Given Sunday’). Não me impede contudo de classificar o seu filme ‘A Simple Story’ como uma obra prima. Descoberta que fiz mais tarde por auto-recreação.

Nunca apreciei nenhum dos três filmes que vi de Lars Von Trier (‘Ondas de Paixão’, 'Dancing in the Dark' e ‘Os Idiotas’), e um deles só vi a espaços. Há quem goste, claro, e respeito opiniões diversas. Só não terei curiosidade em ver o seu próximo trabalho, com toda a ignorância cinéfila que me poderá advir pela sua não descoberta e conhecimento. Por pouco ‘cool’ que seja. Não porque seja bom ou mau mas, sobretudo, porque vem de quem diz ser nazi por manobras de choque alternativo. Não gosto do falso choque mediático e intelectualóide à la Lady Gaga por muito que esteja na moda ou por muito talento que tenha. Vou simplesmente censurá-lo. Como faria a qualquer pessoa que defendesse a extinção em massa de seres humanos. Resumindo: ou se gosta ou não se gosta. E goste-se ou não todos temos opinião, com conhecimento de causa ou falta dela. A diferença está na honestidade intelectual de cada um. Esteja ou não na moda, seja ou não seja ‘cool’, polémico ou alternativo.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Mãos ao ar! Isto é um assalto!

Dominique Strauss-Khan era presidente do FMI. Demitiu-se por causa de um escândalo sexual. Fez bem. O que me choca mais é o mediatismo circense da justiça norte-americana. Atropelando sempre o princípio da inocência até prova em contrário, resolveram passear o homem algemado pela rua, para quem quisesse ver o que era um predador sexual, sujo e humilhado na praça pública, a fazer lembrar o far-west. Não sei se o homem é culpado, sei que até ser considerado como tal é presumivelmente inocente. Não o defendo, não gosto é do show-off da justiça americana, aliás, com certeza que haverá em Nova Iorque uma carrinha ou duas para transportar presos.

Isto posto, cumpre referir que o FMI sob a liderança de Strauss-Khan, foi bem menos austero que os nossos 'parceiros' e 'amigos' europeus do BCE e Comissão Europeia. Apesar de a receita ser a mesma, ou seja, privatizar, flexibilizar, liberalizar, desregulamentar, pondo o poder político ao serviço do financeiro, o que levou à crise internacional e cujos protagonistas continuam, como se nada fosse a gerir empresas e países, aliás como o próprio Strauss-Khan fez questão de referir no documentário 'Inside Job', ainda assim foi o FMI que se bateu com os nossos 'amigos' europeus por condições menos penalizadoras no pagamento da dívida portuguesa. Mais tempo para pagar, com juros mais baixos, por contraponto com os usurários que nos exigem os nossos 'amigos' europeus. Amigos, amigos, negócios à parte, dirão Merkel e Sarkozy, reféns do populismo que lhes é exigido pelos contribuintes dos seus países, reféns da exigência dos seus bancos, à espera de recapitalizar os juros para a sua própria retoma, à espera da degola e do esvaziamento dos cofres antes da renegociação da dívida lá para 2013. Sim, porque a dívida vai ser renegociada, assim como aconteceu com a Grécia. É esse o objectivo, mas só daqui a 2 ou 3 anos. Quando os juros já tiverem pago a recapitalização dos bancos alemães, franceses e nórdicos. Portugal, Grécia e Irlanda sairão da moeda única e a europa enlouquecida pelo capital fácil a juros elevados estar-se-á marimbando para as fronteiras e para a união. Ainda assim, o FMI optou por não nos extorquir ou esbulhar. Tentou mesmo ajudar... A Espanha que se cuide, os agiotas querem mais...

Num plano completamente diferente, não posso deixar de me regozijar pelas vitórias extraordinárias do 'meu' F.C.Porto! Mesmo na europa, contra o Braga, na Irlanda...Só faltou um árbitro grego... Uma época demolidora, sem árbitros, sem apitos e outras falácias encomendadas. Poderoso e esmagador, como nunca se tinha visto...

P.S. - É vergonhoso o PS encher comícios com imigrantes famintos à espera de um saco de comida, assim como é insultuoso dizer-se que as Novas Oportunidades certificam ignorantes...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O fato italiano

Concordo com toda a gente que diz que vivemos anos a fio acima das nossas possibilidades, concordo com todos aqueles que dizem que Sócrates demorou a reagir, concordo com os que dizem que não há opções credíveis para se poder votar no futuro do país, concordo ainda com os que dizem que o acordo alcançado entre a República Portuguesa e a Troika (FMI, BCE e UE) foi um bom acordo (para pesar de toda a oposição que esperava capitalizar em votos o corte do 13º e 14º mês), que é um memorando que é o melhor e mais detalhado programa de governo jamais apresentado em Portugal, que aponta metas e define reformas e que apesar de ser um empréstimo, capitaliza juros a uma média de 5%, contra os especuladores 11% que já pagávamos.

Não concordo todavia com o seu cariz ideológico. O memorando da troika é tendencioso. Sobrevaloriza o mercado em detrimento do Estado. A saber: sacrifica os actuais e futuros desempregados, reduz muitos apoios da rede pública na saúde, segurança social e emprego, acaba com as golden share, liquidando assim qualquer defesa de decisão estadual, facilita o despedimento, limita o subsídio de desemprego, obriga à privatização de diversas empresas do Estado, reduz o investimento público, liberaliza o mercado de arrendamento, aumenta o preço dos transportes, dos medicamentos, da energia, do gás e da electricidade, e por fim, last but not least, põe a mãozinha por baixo aos bancos, que continuam a pagar os mesmos impostos (12%!!!), e a quem vai emprestar 12 mil milhões de euros, quase 1/5 do bolo total... que nós pagaremos com juros, quer aos bancos quer à Troika.

Permitam-me que diga, que é um acordo à medida do PSD de Passos Coelho, já sei, vou bater outra vez no ceguinho, se quiserem parem de ler por aqui, mas a verdade é que os radicais que acompanham Passos Coelho, querem a privatização de tudo o que é Estado. A CGD, um canal da RTP, a REN e pasmem-se até as Águas de Portugal. Esquecendo por momentos que a proposta é do PSD, digam-me se acham plausível que dois monopólios como são a REN (Rede Eléctrica Nacional) e as Águas de Portugal possam algum dia ser privatizadas? E como monopólio que são de sectores fundamentais em qualquer Estado livre, não estaremos a entregar nas mãos de uma só pessoa ou empresa, um poder demasiado lesivo para a própria soberania nacional? Imaginem que, e não é difícil acontecer, todos sabemos os malabarismos que se podem fazer e ocultar, até legalmente, que o comprador destas quatro empresas é o mesmo? Querem um Berlusconi à portuguesa? A mandar nos preços da água, da distribuição energética e consequentemente da electricidade, ao mesmo tempo que detém a maioria do capital financeiro e bancário, e com um canal televisivo próprio para a sua propaganda...

P.S. - Os Homens da Luta ficaram-se pela meia-final no Eurofestival...e bem!

P.S. 2 - A dívida das empresas públicas criadas por A. João Jardim já vai em 93% do PIB da Madeira, 4.600 milhões de euros, dois BPN...contas escondidas até agora... Ah! É tão fácil criticar e mandar atoardas...



quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Príncipe, o Papa e o Mártir

O último fim-de-semana foi histórico em todos os sentidos. Começou na sexta-feira com o casamento real na Inglaterra. A monarquia britânica lá conseguiu mostrar ao mundo como vive bem com as jóias da Coroa, e terá também conseguido o vital balão de oxigénio para mais uma dúzia de anos de amor plebeu incontestado e incondicional. Isto se o príncipe William não sair ao pai...é que saindo ao pai e trocando a cândida Kate por uma qualquer desenterrada, violando até a fidelidade matrimonial, lá se vai o elã comercial da casa real. Assistimos ainda assim a uma portentosa demonstração de bajulação plebeia, o desfile dos aristocratas para súbdito ver. A fazer lembrar a Idade Média, só que desta vez com televisões.

No domingo, o dia da Mãe, o dia do Trabalhador, o 1º de Maio. Já por si suficiente, até nos brindarem com mais uma grande operação de marketing. O 'lifting' em directo para todo o mundo da Igreja Católica. Mais uma enorme demonstração política do decadente Estado do Vaticano. A beatificação do Papa João Paulo II, patrocinada pelo seu sucessor, sem respeitar os habituais 5 anos de espera, apoiando-se num 'milagre' arrancado a ferros, escondendo as obscuras manobras financeiras do Vaticano, a sua gestão negativa, e a renúncia do defunto beato em investigar e punir os padres pedófilos do mundo...
Karol Wojtyla foi o Papa mais conservador dos últimos cem anos, cerrou a porta à reaproximação da sociedade laica, ao debate com outras religiões, à contracepção e ao papel da mulher na Igreja. Não lhe interessou discutir o celibato nem a escassez de sacerdotes. Não se preocupou com a modernização e abriu um abismo entre uma Igreja cada vez mais conservadora e uma sociedade civil cada vez mais laica e desinteressada. Os escândalos morais de uma Igreja vergada ao mundano fizeram descer à terra os iluminados por Deus, para serem confrontados pelos livres pensadores, que encontraram nos livros de história explicações para o fenómeno da Cristandade e pecados mortais calados na fogueira perpretados em nome da Igreja e de Deus. A apressada multiplicação de beatificações e canonizações tenta suprir o défice de interesse. João Paulo II estabeleceu um recorde histórico com 113 beatificações e canonizações em 25 anos, inclusivé, o polémico fundador da Opus Dei, Josemaria Escrivá de Balaguer. Agora chegou a sua vez, numa beatificação propagandística e política, que do divino não tem nada...
O renascimento do fundamentalismo e do fanatismo em várias partes do mundo cristão, muçulmano e hindu, desde os anos de Ronald Reagan e João Paulo II, mais espectacularmente nos anos de Bush júnior, as últimas décadas vêm crescer atitudes que vão da simples indiferença ante a religião organizada ao ateísmo militante. A Igreja encolhe-se e a instituição que moldou a civilização ocidental pouco a pouco vai-se transformando numa entre muitas seitas reacionárias e intolerantes.

Tudo isto desemboca na espectacular e hollywoodesca morte de Bin Laden. Dez anos e milhões de dólares depois, a caça ao homem teve o seu epílogo domingo de madrugada. Desengane-se quem pense que o terrorismo acabou. Muito provavelmente, tal como os católicos fazem com os seus beatos e santos, também os muçulmanos o farão com Bin Laden. Farão dele um mártir da jihad, e a vingança segue dentro de momentos. As religiões nunca serviram o homem, os homens sempre se serviram da religião. Não há um meio termo, política, religião e economia são e serão factores de divisão e de guerra. Os americanos ganharam uma batalha, mas perderam muitas mais. Preferia Bin Laden vivo e entregue à justiça internacional. Ao que julgo saber foi executado. Outros executarão muitos mais. A guerra não acaba aqui. Uma nova ordem mundial emergirá ainda neste século. Estamos a assistir ao seu início, e espero que a humanidade triunfe sempre, ou se quiserem, num plano mais celestial, o Bem sobre o Mal. Não preciso de nenhum Papa, nem de qualquer religião que me ensine a distinção.